Em andamento, estudo da Uesb, em parceria com outras instituições brasileiras e internacionais, busca encontrar droga que possa combater a ação do novo coronavírus.
Por Patrick Moraes/ Ascom Uesb
Em meio a uma base de dados composta por 50 mil moléculas, um grupo de pesquisadores de diversos países busca a solução para combater a ação do vírus que mudou todo o mecanismo social do mundo nos últimos meses: o SARS-CoV-2 ou Coronavírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave 2. A proposta é encontrar a composição capaz de bloquear a replicação viral do causador da Covid-19 no corpo humano.
Para isso, pesquisadores da Uesb e de outras instituições têm utilizado ferramentas computacionais capazes de comparar as moléculas das drogas antivirais com moléculas naturais. A partir desse comparativo, é possível detectar as combinações mais parecidas que conseguirão combater a principal enzima do vírus em estudo, a Mpro.
“A pesquisa com a Covid-19 vem da necessidade e do dever de ajudar a ciência dentro da nossa linha de pesquisa. Assim que os primeiros casos surgiram no Brasil, nós começamos a trabalhar nesse projeto e, hoje, já temos vários outros trabalhos em curso”, conta o coordenador da pesquisa, Bruno Andrade, professor do Departamento de Ciências Biológicas da Uesb. Segundo ele, não é possível dissociar o uso da Bioinformática quando se busca encontrar novos fármacos: “todos os programas e técnicas são validados e extremamente confiáveis, inclusive são os mesmos utilizados pelas grandes indústrias farmacêuticas para o desenvolvimento de drogas”, esclarece.
Em andamento, o estudo já reduziu muito esse número e finaliza a primeira etapa com 12 moléculas que apresentam maior potencial para testes in vitro e in vivo – testes laboratoriais e em células vivas, respectivamente. Agora, o estudo segue para a etapa dos testes computacionais adicionais com as moléculas. “Vamos sugerir os testes delas em células e em animais para que possam passar para as etapas com humanos”, conta Andrade. Os testes in vitro serão feitos no Laboratório de Virologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e os primeiros resultados devem ser obtidos a partir do segundo semestre deste ano.
A Hidroxicloroquina funciona?
Apesar da hidroxicloroquina ter sido utilizada como um ponto de partida na pesquisa, visto que aparecia em outros estudos como promissora, a molécula já foi descartada e não se encontra no grupo final da primeira etapa do estudo. O pesquisador Bruno Andrade afirma que a hidroxicloroquina só deve ser utilizada caso haja alguma confirmação da sua eficácia em estudo clínico contra o vírus. “Usar a hidroxicloroquina por conta própria não garante imunidade, profilaxia ou tratamento isolado contra o vírus”, alerta.
Estudo interdisciplinar associa instituições mundiais
De forma interdisciplinar, o estudo vem sendo feito por instituições brasileiras, norte-americana e indiana. Liderada pelo Laboratório de Bioinformática e Química Computacional da Uesb, campus de Jequié, a pesquisa conta ainda com a parceria da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), da UFMG, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) do Rio de Janeiro, da Virginia Commonwealth University (EUA) e do Institute of Integrative Omicsand Applied Biotechnology (Índia).
Segundo Raner José Santana Silva, pós-doutorando do Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da Uesc e integrante da pesquisa, a associação entre as instituições e entre áreas diferentes torna possível o desenvolvimento mais eficaz de pesquisas complexas.“O compartilhamento de equipamentos e laboratórios através de parcerias permite uma integração das infraestruturas entre as universidades e aumenta muito a capacidade de realizar estudos e experimentos científicos”, acrescenta.
Com foco no estudo dos genomas disponíveis no SARS-CoV-2, Raner explica também que encontrar compostos naturais eficientes faz diferença tanto no acesso ao remédio, como no valor. “A busca por novas drogas é extremamente importante, principalmente quando se trata de compostos naturais. Isso pode reduzir o custo de produção, tornando-a mais acessível e ampliando a quantidade de drogas para o tratamento da Covid-19”, esclarece.
Para ele, o estudo prova o potencial científico das universidades estaduais baianas. “Mesmo com recursos e investimentos menores que as grandes universidades, esse estudo mostra que as universidades estaduais baianas produzem ciência a nível internacional e destaca a qualidade dos estudantes e pesquisadores dessas instituições”, defende.