Por Mara Ferraz/ Ascom Uesb
Em um país marcado pelas desigualdades econômicas, sociais e educacionais, garantir a permanência dos alunos durante o curso de graduação está entre as funções da universidade pública. Pensando nisso, em 2008, a Uesb iniciou o processo de implantação de ações voltadas para a acessibilidade, inclusão e permanência estudantil.
A partir de então, muitos têm sido os desafios para consolidar o fortalecimento dessas políticas, chamadas de ações afirmativas, que buscam diminuir a desigualdade e oportunizar acesso a todos os segmentos sociais. Na Uesb, a criação do sistema de cotas e da residência universitária foram os primeiros passos nesse sentido. Posteriormente, com a ampliação das políticas por meio do Programa de Assistência Estudantil (Prae), foram criadas as bolsas para auxílio moradia, transporte e alimentação; auxílio permanência; de inclusão digital; e auxílios voltados à participação em eventos acadêmicos e de suporte para aquisição de materiais de consumo, como xerox. Além disso, a Universidade vem atuando no fomento de projetos nas áreas de cultura, esporte, lazer e assuntos da juventude.
Acesso e Permanência
Em uma década de implantação da política afirmativa, a Uesb matriculou em torno de dez mil alunos pelo sistema de reserva de vagas. Recém-chegados ao ambiente universitário, esses estudantes puderam vivenciar experiências que, muitas vezes, não eram acessíveis sem a política de cotas.
Esse é o caso de Nayane Nunes, dentista formada no campus de Jequié, que ingressou na Uesb por meio da cota adicional para indígenas no Vestibular. Ao sair de Pernambuco para cursar Odontologia no interior da Bahia, Nayane imaginava as dificuldades que enfrentaria. “O ingresso na Universidade sempre me pareceu algo muito distante. Por vir de família humilde, não pude ter acesso a cursinhos pré-vestibulares, entretanto, o desejo de ter uma qualidade de vida melhor me fez ter força para lutar”, recorda.
Durante o curso, concluído em 2020, Nayane contou com o auxílio da bolsa do Prae e de uma vaga para o filho na creche Casinha do Sol. Ela também participou do projeto de pesquisa “Acesso e Permanência de discentes indígenas no curso de Odontologia em uma universidade pública”, onde pôde enxergar outras realidades semelhantes.
Hoje, a ideia da profissional é aplicar o que adquiriu de conhecimento durante a pesquisa. “Sou a primeira da família a ter um ensino superior concluído, o que estimulou minhas irmãs a prestarem vestibular também. Em breve, irei atuar e prestar todo apoio à minha comunidade”, conta.
Inclusão
Projetos voltados para o acompanhamento de pessoas com deficiência também integram as diretrizes da permanência estudantil. Assim, com a criação do Núcleo de Ações Inclusivas para Pessoas com Deficiência (Naipd), em 2009, a Uesb institucionalizou as ações específicas para esses estudantes.
Nos últimos três anos, a Universidade passou a receber uma média anual de dez alunos desse público, sendo que, antes de 2008, esse total chegava a menos de dois alunos por ano. Atualmente, a Uesb atende cerca de 90 alunos com alguma deficiência e, para esse acompanhamento, são disponibilizados mais de 2o profissionais capacitados.
A estrutura é voltada para acolher esses estudantes em suas necessidades. Para Daniele Freitas, que encontrou dificuldades no início do curso de Zootecnia, o apoio do Naipd foi fundamental. A aluna possui baixa visão, devido à condição de albina e, no Núcleo, teve acesso a lupas e aparelhos, que contribuíram para o processo de estudo com mais qualidade, e a cotas de xerox com leitura ampliada.
“Em 2010, quando ingressei, me sentia triste, eram muitas as dificuldades. No percurso, tive apoio da minha família e dos meus colegas, porém, com o Naipd, essa realidade mudou. O Núcleo me proporcionou uma assistência até o fim da graduação”, reconhece.
Perspectivas
Em 2018, a Uesb implantou a Assessoria de Acesso, Permanência e Ações Afirmativas (Aapa), por meio de uma reestruturação administrativa. Com a nova Assessoria, a Instituição organizou os eixos de atuação das políticas afirmativas, visando fortalecer a democratização do acesso ao Ensino Superior.
De acordo com a professora Selma Matos, responsável pela Aapa, o cenário atual indica que, atualmente, cerca de 50% dos alunos da Universidade recebe algum tipo de apoio no âmbito da assistência estudantil, seja na esfera de projetos da Universidade ou do Governo do Estado, como os programas de estágio. “Existe um conjunto de ações que envolvem esses alunos, tanto em situação de vulnerabilidade econômica como de pessoas com deficiência, o que tem sido um enorme avanço para a acessibilidade”, enfatiza.
A assessora aponta que as perspectivas futuras estão relacionadas ao aumento do número de bolsas a serem ofertadas, ampliação de ações afirmativas para a pós-graduação e consolidação do programa de permanência acadêmica. A expectativa é de que sejam diversificadas as ações nas áreas pedagógica, cultural e esportiva, com a realização de projetos em parceria com os próprios estudantes.
“Uma outra perspectiva está no âmbito da inclusão, com a criação de uma política institucional voltada para essa esfera”, reforça a professora Selma. Segundo ela, para isso, serão pensados regimentos e resoluções que aprimorem o programa de ações afirmativas e melhorem as condições de acessibilidade nos processos seletivos institucionais.