Por: Ascom UESB VCA
Troca, contato, relação, parceria. Muitas dessas palavras fazem parte do ambiente da extensão universitária. Mas, o que define, de verdade, essa prática que envolve Universidade e comunidade? Segundo a pró-reitora de Extensão e Assuntos Comunitários, professora Gleide Pinheiro, “a Extensão propicia um espaço para que aconteça a interação entre o saber acadêmico, que é produzido na universidade, e o saber popular, que é produzido pela população”.
De acordo com a gestora, isso não quer dizer, no entanto, que a Universidade vai apenas levar o seu conhecimento. “Ela vai propiciar a interação, para que, a partir das práticas extensionistas, essa população alvo, que eu costumo chamar de grupo protagonista, possa elaborar novos conhecimentos e, a partir daí, refletir e propiciar mudanças na sua vida”, explica a professora.
Educação no campo – As ações extensionistas também marcam profundamente a trajetória profissional da professora Arlete Santos, que, ao longo da docência, realiza diversas pesquisas e projetos voltados para a Educação do Campo, Diversidade e Movimentos Sociais. A professora, que hoje atua no curso de Pedagogia da Uesb, campus de Itapetinga, e no Programa de Pós-Graduação em Educação, tem sua história marcada pela militância nos movimentos sociais, especialmente no Movimento Sem Terra (MST). Durante 23 anos, Arlete foi professora da Educação Básica, atuando em escolas de assentamento do MST, e atribui a essa experiência a temática trazida em suas produções acadêmicas.
Para suprir a carência de formação em Educação do Campo e de políticas públicas que tratam das especificidades do tema, surgiu o Programa Formação de Professores do Campo (Formacampo). A iniciativa busca habilitar profissionais que atuam na zona rural em uma educação pensada no campo e para o campo, observando a perspectiva dos camponeses, suas identidades, seus saberes e seu modo de produção.
Ensino de línguas – Com mais de meio século dedicado à educação, o professor Diógenes Lima trabalhou desde a Educação Infantil até a pós-graduação. Atualmente, ele integra o quadro docente do Departamento de Estudos Linguísticos e Literários e do Programa de Pós-Graduação em Letras, Cultura, Educação e Linguagem da Uesb, campus Vitória da Conquista.
O docente é o idealizador e coordenador do evento de extensão “SolinEnglish and Other Languages – Series of Lectures and Roundtables in FL Teaching and Learning”, projeto que ele considera como seu bebê e pretende continuar trabalhando nele, de forma extraoficial, mesmo após a aposentadoria. Realizado anualmente, o evento promove palestras e mesas-redondas e, em 2021, chegou a sua 13ª edição.
Nos primeiros 11 anos, a atividade era focada apenas na língua inglesa sendo chamada de “SolinEnglish – Series of Lectures in English” (Série de palestras em inglês). Entretanto, nas últimas edições, houve a inclusão do francês, espanhol e Libras. Segundo o idealizador, a iniciativa surgiu a partir de convites feitos a professores que vinham até a Universidade participar de defesa de bancas e qualificações e aceitavam palestrar para alguns alunos.
Fazer extensão com distanciamento social – As ações de extensão sempre ocorreram de forma presencial. Professora da Uesb há 30 anos na área de Saúde e, atualmente, pró-reitora da área de extensão, Gleide conta que, com a pandemia, os extensionistas se viram diante do desafio de reinventar a forma de extensão para que fosse possível dar continuidade aos projetos, manter os vínculos já existentes na comunidade e assistir a população. Mesmo nesse contexto, cerca de 180 mil pessoas foram alcançadas pelos projetos de extensão desenvolvidos na Uesb, oriundos da iniciativa de professores, alunos e funcionários dos três campi. “Nós, extensionistas, entendemos a importância de continuar, independente das atitudes dos governos, das pessoas, de alguns empresários”, reflete Gleide.
Durante esse período, foi possível apontar avanços em algumas iniciativas, mas, também, alguns entraves para a realização de outras ações. “Tivemos alguns projetos que saltaram de um público de 100 pessoas para seis mil pessoas. Aí eu vejo essa positividade da questão on-line. Em contrapartida, nós tivemos algumas ações extensionistas que ficaram prejudicadas. São aquelas ações que estão ligadas, principalmente, ao público que vive em situação de vulnerabilidade social”, relata Gleide.
Ainda segundo a gestora, o novo formato vai além da pandemia. “A realização de atividades extensionistas na forma remota é algo que veio para ficar e acho que vai acrescentar ao presencial”, defende. Ela acredita que, nessa modalidade, é possível promover muitas trocas de conhecimento entre pessoas de diferentes territórios, entretanto, ressalta que é importante haver um cuidado para que a extensão na modalidade remota não sirva apenas como um depósito de conteúdo em uma rede social. “A extensão só ocorre realmente quando tem a interação entre o grupo que está desenvolvendo a ação e a população alvo que está recebendo e, sobretudo, quando esse grupo reflete e toma aquele conhecimento, que foi elaborado ali, como algo que é significativo para mudar e melhorar sua qualidade de vida”, analisa a professora.
A falta de interação e a ausência do famoso “olho no olho” também foram ressaltadas pelo professor Diógenes como marcas desse processo remoto. Ele pontua que a interação feita por meio do chat, nos encontros remotos, nunca será igual ao que acontecia nos eventos presenciais. No entanto, segundo o docente, ainda que haja contratempos, os resultados do trabalho on-line foram positivos, “devido ao grande alcance de pessoas, a frequência nas atividades e a expansão de fronteiras. Tivemos a oportunidade de contar com pessoas renomadas, palestrantes e pesquisadores de várias partes do Brasil e do mundo, que vieram compartilhar conosco os seus conhecimentos, suas experiências e suas pesquisas recentes”, comenta. No formato online, o “SolinEnglish and Other Languages” alcançou mais de 500 pessoas, de várias partes do Brasil e de países como Espanha, Estados Unidos e França.
Para a professora Arlete, o momento de pandemia é repleto de desafios para a educação e sobretudo para os educadores. “A gente estava dando aula a vida toda, trabalhando presencialmente, e, de repente, chegou o momento que acordou e não poderia mais fazer aquilo, o momento que a gente teve que, de uma hora para outra, virar youtuber, sair gravando aula, fazendo atividade síncronas e assíncronas”, relata a professora. Nesse contexto, ela destaca também o conceito de “uberização” da educação, que diz respeito ao trabalhador ter que custear os recursos para se manter no trabalho. “Tivemos que lidar com questões de internet, comprar maquinários, computadores, etc. para fazermos com que a educação acontecesse”.
As faces da tecnologia – “Seu microfone está fechado”, “abram as câmeras, por favor”, “alguém está com instabilidade na rede”, “desculpa, a internet caiu”. Muitos já ouviram uma dessas expressões nos últimos meses, seja em salas de aula ou em reuniões virtuais. A internet é uma das protagonistas do contexto pandêmico, pois foram as redes digitais que possibilitaram a continuidade das atividades em diversos aspectos. Seja para trabalhar, estudar, se comunicar com o mundo, se informar ou se divertir, a internet esteve e está presente.
A pandemia escancarou as desigualdades do acesso à internet em nosso país. Essa dualidade também está presente nas ações de extensão. Enquanto, em alguns momentos, a internet impôs desafios, em outros, ela se mostrou uma forte aliada na manutenção das ações de extensão e permitiram até a expansão dessas atividades para um público maior.
Foram as novas tecnologias que também possibilitaram a ampliação das atividades do Formacampo. “Eu não conseguiria fazer a formação dos professores do campo se fosse na modalidade presencial, porque eu não teria como agregar quase 7 mil professores na Universidade”, afirma a professora Arlete. Inicialmente, o Formacampo seria realizado de forma presencial, atendendo apenas três municípios.
Com o on-line, o Programa passou a oferecer cursos de formação para cerca de 6.800 professores de 113 municípios de sete territórios de identidade da Bahia. As atividades são realizadas de forma remota, por meio de transmissões no YouTube e na TV Undime. As lives de formação chegam a ser assistidas, simultaneamente, por aproximadamente três mil pessoas, e a serem reproduzidas 15 mil vezes em momentos assíncronos.
Para a pró-reitora de Extensão, a atuação durante a pandemia reforça o compromisso de levar para a comunidade o conhecimento produzido cientificamente, testado e comprovado, “para que, a partir do acesso a esse conhecimento, a população possa refletir, elaborar seu próprio conhecimento e tirar proveito de algo que vai realmente refletir positivamente na sua vida”, finaliza Gleide.