redacao@jornaldosudoeste.com

ANTONIO RISÉRIO LEITE *31/10/1921†14/12/1981 OLINDINA MACHADO RIZÉRIO LEITE *02/11/1921†29/04/2018

Publicado em

WhatsApp
Facebook
Copiar Link
URL copiada com sucesso!

Antônio Risério Leite, Totônio, apelido familiar e para os íntimos, nasceu em 31 de outubro de 1921, na fazenda Mocinho, município de Bom Jesus dos Meiras, comarca de Ituassú,  que em 1931 passou a chamar-se Brumado.  Filho do Juiz de Direito Pompílio Dias Leite e Deolina Rizério de Moura Leite. Foi batizado na Fazenda Mocinho no dia 11 de janeiro 1922, pelo vigário José Dias Ribeiro da Silva e seus padrinhos foram Altamirano Rizério Leite e Cecília de Moura Leite. Avós paternos: Capitão Pompílio Dias Correia e Filomena Dias Leite, e avós maternos: Tenente-Coronel Wenceslau Rizério de Araújo e Constança Rizério de Moura.

Seus irmãos: Cecília de Moura Leite, Guilherme Rizério Leite (funcionário público federal), Altamirando Rizério Leite (médico), Mário Rizério Leite (médico, escritor e professor universitário), Maria de Lourdes de Moura Leite, Guiomar de Moura Leite, Elvira de Moura Leite (professora) e Olindina de Moura Leite (professora). Antônio Risério Leite, o biografado, é o caçula da numerosa prole e o único que escreve o sobrenome com a letra “s”. Os homens da família têm o sobrenome Ririo e as mulheres o sobrenome Moura da mãe Deolina, para que a descendência o adotasse como legítimo o estabelecido.

Antônio Risério Leite, quando criança, viveu as brincadeiras tradicionais da época: subir em árvores, atirar pedras com bodoque, jogar pião e bola, além de outras brincadeiras do seu tempo. Frequentava as fazendas da família:  Mocinho e a São Gonçalo, na vila de Bom Jesus dos Meiras.

Posteriormente a família mudou-se para Caetité, onde ele estudou e concluiu o curso normal (magistério) em 22 de novembro de 1937, na Escola Normal Rural de Caetité. Em 10 de dezembro de 1948, colou grau de bacharel em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte.

Ainda estudante, Antônio Risério Leite, em 1947, foi o último prefeito de Brumado, nomeado pelo governo de Octávio Mangabeira. Passou o cargo ao sucessor, primeiro prefeito eleito pela população, o senhor Armindo dos Santos Azevedo, para o período de 1948 a 1950.

Na gestão de Risério Leite, foi construído o primeiro campo de aviação, no antigo bairro do Escalavrado. Também foi construída a barragem Lagoa das Caraíbas no distrito de Aracatu, hoje emancipado. Calçou várias ruas a paralelepípedos, abriu estradas, construiu açudes e escolas rurais.

Em 2 de março de 1951, foi nomeado Procurador Judicial do Instituto Central de Fomento Econômico do Estado da Bahia S/A (ICFEB), depois Banco de Fomento do Estado da Bahia e, por último, Banco do Estado da Bahia (BANEB). Em 1999 O BANEB foi privatizado pelo Bradesco S.A. Ao BANEB dedicou a maior parte de sua vida profissional como consultor jurídico. Fez parte do quadro de procuradores jurídicos do banco, sendo um dos mais experientes e conceituados pelo saber e conhecimento da legislação pertinente.

Escreveu para o jornal Diário de Notícias artigo sobre “Bancos Desenvolvimentistas”, sobre a criação do BANEB uma sociedade anônima de economia mista.

Foi maçom e muito religioso, embora não praticante, tinha devoção por Dom Bosco, Santo Antônio e Nossa Senhora Auxiliadora. Apreciava os pensamentos de Sidarta Gautama – Buda, fundador do budismo – “Não devemos nos apegar a crenças no sentido de nos atermos apenas a elas”. Depois admitiu a filosofia da religião Sicho-no-Ie de origem japonesa, fundada em 1930. Essa instituição religiosa se caracteriza pelo não sectarismo, pelo estímulo ao auto aperfeiçoamento espiritual, pela reverência aos antepassados e pela harmonia entre a humanidade e a natureza. Embora não a frequentasse, o dogma combinava com a sua visão de vida.

Em 9 de agosto de 1951, na Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador (BA), casou-se com Olindina Gomes Machado, funcionária pública, natural de Brumado, nascida em 02/11/1921, filha de José Alvino Machado (Cazuza) e Emília Gomes Machado. Olindina foi batizada em 05/05/1922, na Igreja Matriz de Brumado, pelo vigário José Dias Ribeiro da Silva, sendo padrinhos Dr. Pompílio Dias Leite e Deolina de Moura Leite.

Oficiou o matrimonio civil no dia 9 de maio de 1952, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador (BA), realizou-se o casamento civil, após o qual ela passou a assinar Olindina Machado Risério Leite. O celebrante do evento foi Dr. Gilberto de Carvalho Soares (Pretor, por delegação do Juiz de Direito da 1ª Vara de Família e Sucessões). Foram testemunhas: Lindaura Cunha de Oliveira Mota e Durval de Miranda Mota.

O casal teve três filhos: Zeine Machado Risério, nascida em 09-09-1952 (artista plástica e professora de arte, filosofia e sociologia); Antônio Risério Leite Filho, nascido em 21-11-1953 (escritor, poeta e antropólogo); Maria de Lourdes Machado Risério, nascida em 11-02-1955 (advogada). Netas do casal: Íris Risério Vidal (psicanalista) – tinha sete meses quando o avô morreu – e Mariana Risério Chaves Meneses (Bacharela em Direito) – ele não chegou a conhecer.

Apreciava, dentre outros, os cantores e compositores Dorival Cayme, Elomar Figueira, Rose, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Luiz Gonzaga, Dominguinhos e João Bosco. Na literatura, lia Gilberto Freire, era fã ardoroso de Euclides da Cunha e João Guimarães Rosa. Considerava o romance Grande Sertão: Veredas, uma obra-prima. Distinguia o livro de contos Sagarana, de João Guimarães Rosa, que revolucionou a literatura regional do Brasil com vocábulos antigos, expressões regionais e neologismos criados por ele.

No livro Uma História da Cidade da Bahia  (2000), o seu filho Antônio Risério Leite Filho escreveu: “Quando fui preso como subversivo, ao receber a visita vespertina de meu pai, trouxe-me um exemplar do livro Grande Sertão: Veredas e disse-me: ‘Você pode estudar as correntes de pensamentos que bem entender. Mas se você quer mesmo entender o Brasil vai ter de ler e reler Euclides da Cunha, Gilberto Freire e Guimarães Rosa’”. O livro de Risério Filho foi escrito em memória do pai.

Era cultor das letras e exímio na arte de escrever. Escreveu sobre os Mouras, histórias de sua cidade natal com suas personagens típicas, crenças, costumes e tradições, histórias sobre a sua família e das cidades mineiras onde viveu. Publicou artigos sobre vários temas nos jornais: ‘A Tarde’, jornal da Bahia; O Goiás, do Estado de Goiás; Suplemento Literário de Minas Gerais, Jornal de Minas; Jornal do Brasil e do Rio de Janeiro.

 Escreveu para as revistas: Revista do Instituto Histórico e Geográfico da Bahia (IHGBA), ÚnicaBahia Rural, Coletâneas dos escritores conquistenses, além de contos e ensaios editados em publicações diversas. Escrever era um ofício que lhe dava prazer. Publicou, no Jornal A Tarde, em 30 de abril, ano de 1948, o artigo Brumado, a Meca Sertaneja do Minério, em uma entrevista feita com o engenheiro Olai Jaenefelt, de origem finlandesa, especulando sobre o aproveitamento industrial da jazida de magnesita, a instalação do alto-forno para calcinação desse minério e a sua importância  para os mercados nacional e estrangeiro.

Intimista e memorialista, escreveu para o jornal A Tarde, em 27/09/1981, sendo a sua última colaboração para o jornal, o artigo intitulado Itimbopira (termo de origem indígena) e assim se expressou:

É bonito ver a cidade amanhecendo suas manhãs varridas de sol, o verde domesticado nos quintais. Aqui e ali, a espatódea demonstrando que não é uma árvore indecisa, porque abre, de vez, suas flores rubras. E, em toda parte, as morenas morenando sua cor-de-sertão, um gosto moreno de beleza ficando nos olhos de quem olhar”.

“[…] Quem não vê a poesia das coisas, está desvivendo a vida, um desperdício de tempo, bom e iluminado, as coisas se dando em vão, a alegria não sendo pessoas. Em todo o município, também os campos se vestiram de verde, fazendo a tristeza mentir”.

Terminou o artigo Itimbopira confirmando seu amor por Brumado:

“Quanto à minha cidade, que vive e cresce nas lonjuras do interior, uma saudação: – para você Brumado. AXÉ ODARA”. [Na religião do candomblé, Odara significa algo infinito, que não tem começo nem fim, é o que a religião acredita ser o princípio de tudo, o responsável pela criação do homem].

No conto Cantando de Açoite, publicado no jornal O Goiás, ele afirma:

“É sempre uma viagem de querer-bem. A que faço ao sertão. Para ficar com gosto de beleza nos olhos, aquelas paisagens. O Esconso fica ali à beira do Rio do Antônio, existindo em suas cinco casas, a capelinha e uma escola-rural. Tudo lambido de sol, uma quantidade de luz. Os mandacarus espetando em verde a claridade, uma cintilação braba. E cada Juazeiro só pensando em aviar verdes e mais verdes para uma paisagem agradecida, porque toda ela estranhada de luminosidade […] Cardeal esconcês é aquele nascido e querenciado no Esconso. Seu canto é claro, límpido, agressivo, lavado de dúvida, um canto com raios de sol, fazendo luz, que poesia, meu irmão” […].

Antônio Risério Leite adotou a santa, Nossa Senhora dos Verdes, que ele colocou como padroeira do sertão e justificou que todos deveriam rezar pelas suas matas, para Nossa Senhora dos Verdes, dizendo ser ela uma santa ecológica, protetora dos verdes.

Para justificar a sua criação escreveu:

“É verdade que, nos grandes centros populacionais, está presente um fenômeno de patologia urbana: − o DESVERDE. Os charlatães do urbanismo entupiram os olhos da gente de não esperança. O cinzescuro das fitas asfálticas. O pardo dos edifícios. O gris dos viadutos. Nos campos, estão diversificando as paisagens. Nos núcleos demográfico e no espaço rural – um crime – o VERDECÍDIO. A morte do verde, em nome da ganância burrificante de sujeitos apatacados. Todos deveriam rezar pelas suas matas, para Nossa Senhora dos Verdes, ela é uma santa ecológica, protetora dos verdes.”

O sonho dele consistiu na adoção dessa santa, advindo do seu amor pela natureza, e por Brumado, onde sempre passava as férias. Numa dessas viagens, a seca castigava o sertão. Na estrada, ao ver a caatinga cinzenta, as cenas desoladoras das árvores nuas, sentiu profunda tristeza. Pediu a Nossa Senhora para mandar chuva para o sertão. Em Anagé, ao passar pela ponte, gritou: “O Rio Gavião secou!”. Então desceu do carro, sentou na ponte e chorou. Chorou muito e pediu para Nossa Senhora mandar verde à catinga, mandar chuva para dar vida aos nossos rios, de que o povo e os animais tanto precisam. Daí surgiu-lhe a ideia de adotar a Santa Nossa Senhora dos Verdes.

Sobre a Santa escreveu um artigo intitulado Nossa Senhora dos Verdes, publicado no Jornal O Popular de Goiás, em 10 de março de 1974. Dentre outras citações diz:

“Vim pra curtir os Juazeiros e o canto-de-luz dos cardeais. Eu em paz com o mundo. Destrabalhado de preocupações. O meu domingo-da-vida. É verdade que tudo estava seco. Aqui onde o sol faz-e-acontece. Mas, de repente, foi aquele cheiro bom de terra molhada que, para o sertanejo, é o cheiro que lhe traz alegria, atiçando a tristeza pra lá. […] É mais um gesto bom de Nossa Senhora dos Verdes, minha protetora neste sertão ferido de luz, onde sempre me oferece as cores todas do amanhã. O raiar do verde aqui, meu irmão, é de uma beleza nunca existida”.

Também no jornal A Tarde publicou artigo em 3 de fevereiro de 1980, referenciando Nossa Senhora dos Verdes, como segue:

“Maria conhecia a festa dos verdes e o tempo da seca […] Se Maria cresceu entre verdes na Galileia, também foi testemunha presencial dos horrores da seca nas regiões da Palestina. Ninguém melhor do que Ela, portanto, para proteger os sertões brasileiros e preservar o verde que Deus investiu em nossos campos”.

 Tempos depois, o primo Professor Moura, Mestre de várias gerações em Vitória da Conquista, escreveu-lhe contando de um escritor português, autor do livro A Lã e a Neve, que dizia sobre a capelinha Nossa Senhora dos Verdes, sendo para ele (Risério) uma grande coincidência, por não saber da existência dessa capelinha e da Santa Nossa Senhora dos Verdes em Portugal. A neta Mariana, que estudou em Portugal, na cidade de Porto, confirmou a existência da igrejinha de Nossa Senhora dos Verdes, que fica situada no Município de Manteigas, na Serra da Estrela, em Portugal.

Há uma história em Portugal que os antigos contam:

 “Em tempos remotos, Vide entre Vinhas, na zona de Celorico da Beira, sofreu uma praga de gafanhotos. Nuvens de gafanhotos invadiram a povoação, destruindo o que encontravam de verde nos campos. Então, os habitantes da aldeia pediram auxílio a Nossa Senhora, fazendo-lhe uma festa e procissão percorrendo os campos, implorando a salvação. A imagem de Nossa Senhora passou a chamar-se Senhora dos Verdes em memória deste fato. (Fernanda Frazão, Lisboa, 2006)”. Esse fato não era, até então, do conhecimento de Risério.

Pela Lei 787 de 24 de maio de 1980 a Câmara Municipal de Brumado aprovou a o Projeto de Lei,  dando nova denominação a Avenida Panorâmica que passou a chamar-se Avenida Dr. Antonio Risério Leite.

Em homenagem in memoriam ao amigo Antônio Risério Leite, a vereadora Esther Trindade Serra escreveu o poema a Nossa Senhora dos Verdes:

“No sertão não chovia Há muito tempo./A terra estava seca/ O sol descambava do rio raso e tristonho./ E uma teia de fio de ouro/Rondava as Brumas/Como se fosse um aranhol./As árvores esguias/Erguiam os galhos nus/Como se levantassem em súplica/Os braços para o céu/E no chão quente da caatinga nenhum broto sequer/ A terra parecia dormente em letargia/Sem um canto de ave/Sem o berro das cabras/Sem o mugir do gado/À beira dos currais/A fome ameaçava a criação/A sede estava rondando/O homem do campo/No povoado e nas fazendas/As mulheres se reuniam/Para fazer as preces sertanejas/Carregando ao sol quente/Pedras nas cabeças/Para botar no cruzeiro/Entoavam Hinos”.

 Em Brumado a Avenida Nossa Senhora dos Verdes, uma indicação da vereadora Esther Trindade em homenagem ao amigo Totônio Rizério, contou com aplausos do Vereador Tranquilino Vieira Filho pela indicação.

Projeto de Lei nº 381 de 07 de maio de 1985 de autoria do vereador Osmar de Souza Moura dispõe sobre a nova denominação da Avenida Nossa Senhora dos Verdes e justifica a mudança.

 Lei nº º 852 de 27 de maio de 1985, reza em seu  Art. 1º – A atual Avenida Nossa Senhora dos Verdes passa a denominar-se doravante, Avenida Nova República, em homenagem ao retorno da democracia plena do nosso país, o projeto e  a justificativa é de  autoria do vereador Osmar de Souza Moura e  sancionado pelo prefeito Juracy Pires Gomes.

Transcrevo do livro Auto da Gamela de Carlos Jehovah (Conquistense) e Esechias Araújo Lima (Brumadense) a poesia ACALANTO para Nossa Senhora dos Verdes, talvez, não tenho certeza, em homenagem a Totônio Risério:

‒ Nossa senhora dos Verdes/vive na terra santa do sertão! /Oh, Nossa Senhora dos Verdes, /que advinha os dias de seca, /que alivia a dor da fome, / ‒ Rogai a Deus por nós! //

 ‒Nossa Senhora dos Verdes/vive na terra santa do sertão! /Oh, Nossa Senhora dos Verdes, /que faz brotar pelo chão seco/sementes molhadas de lágrimas, /‒rogai a Deus por nós! //

‒Nossa Senhora dos Verdes/vive na terra santa do sertão! /Oh, Nossa Senhora dos Verdes, /que acalenta as criaturas tristes/nos dias de sofrença e de aflição, /‒rogai a Deus por nós! //

  ‒Nossa Senhora dos Verdes/vive na terra santa do sertão! / Oh, Nossa Senhora dos Verdes/que esconde o sol e envia a chuva, / que pastoreia os filhos de Cristo, / ‒rogai a Deus por nós! //

  ‒Nossa Senhora dos Verdes/vive na terra santa do sertão! / Oh, Nossa Senhora dos Verdes, /que semeia graças sobre a terra/e acode o povo nos dias de seca, / ‒rogai a Deus por nós!

Em homenagem ao sogro José Alvino Machado, publicou, em 25/08/1974, o artigo intitulado O Rio do Xará (como ele se referia ao Rio do Antônio que se alonga pela cidade de Brumado). Dentre outas citações, diz:

“José Alvino Machado – Cazuza –, a cabeleira alva, o riso, a gargalhada triunfal de quem sabia viver fazendo finca-pé na vida. Ao pular da cama, de manhã cedinho, ele tratava cada dia como algo maravilhoso e divino. Um dia novinho-em-folha, ainda com torrado no umbigo. E vivia-lhe todos os instantes, decisão inaudita. Porque jamais os revezes da existência lhe enfraqueceram o ânimo de viver ou lhe diminuíam o entusiasmo pelas coisas boas da vida. Ele deu até-outro-dia e foi-se embora, partiu sem medo, porque sua vida fora uma bênção para o próximo, todos seus amigos e irmãos. […] Tenho-lhe imensa saudade. Uma saudade que, paradoxalmente, cresce à medida que vou caminhando meus passos em direção ao seu encontro”.

Diversos artigos e crônicas foram escritos e publicados por Antônio Risério Leite, dentre eles: O Meu Pedaço de Geografia, publicado no Jornal A Tarde, em 14/12/1980, o qual fala sobre sua fazenda Arerê, em Brumado:

“Nas tardes morenas da Fazenda Arerê, à sombra doce do avarandado, fico assuntando os passarinhos cantarem, as árvores assim deles, aquela alegria imensa, eles que conhecem mais a desutilidade da tristeza”.

Na revista CULTURA-MEC, escreveu: “Diamantina é uma só, valendo muitas. Ali a gente fica pensamenteando toda-a-vida, um tempão enorme, os dias virados História”.

No artigo Sertanidade Militante (Um Aspecto da Problemática Baiana), trabalho estampado na revista Única de Salvador, em maio/junho/1954, ele dispôs: “Urge a rebelião em massa contra a política sertanicida adotada pelos homens do litoral ou por sertanejos talassizados” […].

Essas são algumas mostras do conveniente acervo literário de Antônio Risério Leite. Com a sua literatura, aprende-se muito sobre o sertão sertanejo. Ele foi um intelectual criativo. A exemplo de Guimarães Rosa criou palavras novas, introduziu, na sua literatura regionalista, neologismos conforme seu entendimento e palavreado do povo local. Portanto, foi um grande sonhador que transmitiu a sensibilidade cultural do povo, detalhando as minudências das localidades em que viveu com o sentimento que o caracterizou intelectualmente delineado em seus escritos.

Indicação feita pelos vereadores Esther Trindade Serra e Sinval de Souza Neves pelo Projeto de Lei nº 01 de 10/04/1980, em homenagem ao ilustre filho de Brumado, Antônio Risério Leite.  A Câmara Municipal de Brumado aprovou, a Lei 787 de 24 de maio de 1980, com a sanção do Prefeito Municipal, o seguinte: Art. 1º – A atual Avenida Panorâmica, situada nesta cidade, passará a ter a denominação de Av. Dr. Antônio Rizério Leite

Consta no estatuto e regimento interno da Academia de Letras e Artes de Brumado – ALAB, no capítulo disposições gerais e transitórias, em seu artigo 20º a expressão: Será sempre atividade precípua e por tempo indeterminado a instituição do Prêmio “Antônio Risério Leite”, a nível nacional.

Em 23 de outubro de 1980, aposentou-se do Banco do Estado da Bahia (BANEB). Pouco tempo depois, submeteu-se a uma operação, sem o resultado esperado. Ficou hospitalizado por alguns meses, com a assistência e o carinho da família e dos amigos. Faleceu no dia 14 de dezembro de 1981. O óbito foi atestado pelo médico Dílson José Fernandes e declarado em cartório por Valmir dos Santos Machado. Foi sepultado no Cemitério Campo Santo, em Salvador.  Os restos mortais encontram-se no mausoléu da família, em Brumado, conforme o seu desejo.

O escritor sergipano Mário Cabral escreveu um texto sobre Antônio Risério Leite no jornal A Tarde, em 17/12/1981, o qual foi republicado no jornal Notícias do BANEB, com os seguintes dizeres:

“Morreu, agora, Antônio Risério Leite. Acima de tudo, um homem de bem, fino, educado, inteligente, sensitivo. Advogado e jornalista brilhante aonde quer que o levassem as suas obrigações profissionais. Homem culto, de conhecimentos literários e sociológicos, era, por igual, o escritor correto, fluente, com estilo e linguagem condizentes com a sua formação acadêmica. […] Com Antônio Risério Leite, desaparece um homem de bem, não de bens. Em uma sociedade podre e corrompida, ele deixou a lição maior do seu exemplo. Uma lição de honra, de altivez e de dignidade pessoais”.

O escritor Clóvis Lima também publicou no jornal A Tarde, edição de 24/01/1982, um artigo sobre “Nossa Senhora dos Verdes”, no qual disse:

“O sonho do poeta é certo que abriga ou pode abrigar todas as fantasias impossíveis. Mas ele, que as acalentava com seus devaneios de esteta, sabia da possibilidade de personalizar um sonho. E, deste jeito, imaginou uma divindade que permanece nas matas e caatingas, impedindo secas e jamais permitindo que o sol exsicasse as plantas e entorroasse o solo, afugentando as aves. E tudo isso fizesse de tal forma que o drama das longas estiagens não mais se repetisse no sertão, exibindo aquelas senas desoladoras representadas pelas árvores nuas, braços desfolhados erguidos para o céu como a implorar que delas se apiedasse, retornando os pássaros ao seu habitat e povoando os ninhos pendidos de seus galhos inertes. […] Este foi o sonho que Antônio Risério Leite sonhou e divulgou através das suas crônicas que permanecerão na lembrança de seus amigos. Eu não as esquecerei e hei de sempre recordá-las”.

Olindina Machado Risério Leite faleceu no dia 29 de abril de 2018. O óbito foi atestado pelos médicos Carina Da. S. Guedes Pina e Mariana Cerqueira da Costa. Foi cremada conforme seu desejo, e as cinzas foram levadas para Brumado, sua terra natal, onde está depositada. Sala de cremação do cemitério Jardim da Saudade/Salvador.

FONTES:

Os dados para a composição desta biografia foram fornecidos por Olindina Machado Risério Leite (esposa), Zeine Machado Risério (filha) e Mariana Risério Chaves de Menezes (neta);

  Informações do brumadense, senhor Jair Cotrim Rizério;

Pesquisas: Atas da Câmara de Vereadores de Brumado;

Informações sobre o óbito de Olindina Machado Risério Leite, por Djalma Torres Filho;

Revista do Instituto Geográfico da Bahia;

Agradecemos aos colaboradores pela gentileza das informações.

Deixe um comentário

Jornal Digital
Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744