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Historiografia Oscarlina de Oliveira Silva *05/06/1920†15/05/2015

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Oscarlina Auto de Oliveira nasceu no dia 5 de junho de 1920, numa fazenda situada no distrito de Santa Bárbara que, na época, pertencia ao município de Feira de Santana. É filha de Silvério Auto de Jesus, fazendeiro, e dona Galdina Oliveira Gonçalves de Jesus, dirigente do lar.

            Diz o provérbio, nas palavras de Salomão: “Toda mulher sábia edifica a sua casa…” Em suma, ela precisa ter qualidades para orientar e dar sustentação ao lar. Esse trabalho coube à dona Galdina. Dona Oscarlina provém de uma família composta de sete irmãos – quatro homens e três mulheres. De todos eles, ela é a única sobrevivente.

            Frequentou e concluiu o curso primário em Santa Bárbara. Aos 16 anos, foi para Feira de Santana, onde fez exames para o curso de Admissão na Escola Normal Rural de Feira de Santana e cursou o Ensino Fundamental durante dois anos. As aulas eram intensivas (hoje, seriam em regime integral) e ocorriam das 8h às 12h e das 13h às 17h. Aos sábados, o horário era prorrogado por mais uma hora para a prática de Educação Física.

            Nos dois anos do Curso Fundamental, estudou as disciplinas: Português, História do Brasil e Universal, Francês, Geografia, Ciências Naturais, Física, Química, Matemática, Geometria, Álgebra e outras áreas do conhecimento. Depois ingressou no Curso Normal, com duração de três anos. Além das disciplinas já citadas, outras tantas fizeram parte da sua grade curricular: Pedagogia, Psicologia, Antropologia, Puericultura, (matéria que ensinava teoria e prática de noções básicas de saúde), Enfermagem, Música, Agricultura – com aulas práticas no Horto Florestal pertencente à Escola Normal, para se estudar a amoreira (planta cujas folhas se prestam ao alimento e onde se desenvolve o bicho-da-seda).

            Formou-se em 1941, com 21 anos de idade. No ano seguinte, foi para Salvador a fim de fazer as provas do concurso de habilitação para o exercício da profissão de professora primária. No dia 12 de setembro de 1942, chegou à Fazenda Lucaia, de propriedade da família do senhor José Gomes Alves de Oliveira, situada no distrito de Tanhaçu, naquela época município de Ituaçu. Ela foi nomeada para a Escola Rural Alberto Torres, ali situada. A precariedade do ambiente escolar era desoladora, pois faltava tudo. Foi nesse quadro que entraram em cena a capacidade, imaginação e o improviso da recém-formada.

            “Nessa comunidade, fiz de tudo: andei a cavalo, em jumento, a pé, em carroceria de caminhão, em carro de bois, em charrete e no tradicional trem de ferro que na época se movia à lenha (vapor) e era chamado popularmente de maria-fumaça”, relatou Dona Oscarlina. Todo o empenho para ensinar e transmitir os seus conhecimentos aos alunos e todos os sacrifícios foram feitos por amor à profissão.

            Na Fazenda Lucaia, lecionou de 1942 a 1956, portanto, 14 anos de absoluta atividade dedicada à regência de classe, além de exercer os seus conhecimentos em enfermagem: aplicava injeção, atendia parturientes, pessoas picadas por cobras venenosas e operários acidentados na usina algodoeira do lugar, engessava braços e pernas usando breu em pó e clara de ovo para imobilizar a região fraturada, além de outros procedimentos necessários, por falta de profissionais capacitados no lugar. Comentou Dona Oscarlina: “Um professor da Escola Normal onde estudei dizia: ‘No sertão, como regentes de classe, algumas vão exercer a profissão de médico, enfermeira e padre’. Bem, tudo isso me aconteceu”.

            Casou-se com o senhor Valdívio Gomes da Silva, em 04/01/1945, na Igreja Matriz de Santa Bárbara, sua terra natal, quando passou a assinar Oscarlina de Oliveira Silva. Ele é filho primogênito do senhor José Gomes Alves de Oliveira e da senhora Adélia Alves da Silva.

            Anos depois, preocupada com os estudos das filhas, mudou-se para Santo Antônio de Jesus, onde lecionou por dois anos. Em seguida, veio para Brumado, acompanhando o esposo, cuja família tinha seus negócios na Fazenda Lucaia, no município de Ituaçu, pouco distante de Brumado.

            Com a criação do Ginásio General Nelson de Mello (1958), lecionou ali, por três anos, em substituição aos professores Palmira Leão, titular de Geografia, e Luiz Édson Gouveia, de Ciências, por motivo de mudança de domicílio de ambos. Foi regente de classe durante onze anos e seis meses no Clube Recreativo União Operária Brumadense. Em março de 1959, foi nomeada diretora da Escola Estadual Monsenhor Antônio Fagundes, cargo que exerceu até 1970.

            Aposentou-se em 1976 pelo Estado, depois de 34 anos de serviços públicos no exercício do magistério. Nesse mesmo ano, na gestão do então prefeito Agamenon Santana, assumiu a direção da Escola Municipal Dr. Roberto Santos, no bairro Dr. Juracy, cargo que ocupou durante cinco anos, encerrando, de maneira definitiva, em 1981, as suas atividades na área educacional, perfazendo, portanto, 39 anos no exercício profissional escolar.

            Nas suas declarações, ela diz: “Deus me concedeu a graça de ser mãe de seis filhas: Maria Eliana, Verbena Gilca 1947, Núbia Iolanda, Verena Jussara, Maria Milza e Jane Eloá 1961”.

            Suas filhas tiveram a oportunidade de cursar o Magistério. Algumas assumiram profissões diferentes: Maria Eliana foi trabalhar no INSS; Maria Milza, no Banco do Brasil; Verena Jussara fundou, em 1973, a Escola Recreio, transformada posteriormente no Colégio Anchieta, em Teixeira de Freitas, onde reside; Verbena Gilca graduou-se em Geografia pela FTC EaD e pós graduou-se em Metodologia do Ensino de História e Geografia pela Facinter (do Grupo UNINTER); Núbia Iolanda foi professora de Geografia no Colégio Estadual de Brumado (CEB) e no Colégio Estadual Getúlio Vargas (GV). Trabalhou, também, na Clínica SOMEPE e na Clínica ORTOTRAUMA.

HOMENAGENS RECEBIDAS:

            O prefeito Edmundo Pereira Santos, por meio da Lei nº. 993, de 07 de agosto de 1991, denominou a Escola de 1º grau – nível I – recém-criada no bairro Dr. Juracy Pires Gomes de “Escola Oscarlina de Oliveira Silva”. Uma justa homenagem a quem dedicou uma vida inteira à causa da educação.

            Em agosto de 2009, a Escola Municipal Oscarlina de Oliveira Silva passou a integrar o Programa de Educação em Tempo Integral (ETI), implantado em 2009 pelo então prefeito Eduardo Vasconcelos. A implantação da escola integral era um sonho acalentado do professor Anísio Spínola Teixeira (Caetité), Secretário de Educação no Governo Otávio Mangabeira (1946), o qual, entre outras realizações, construiu, no bairro da Liberdade, em Salvador, o “Centro Educacional Carneiro Ribeiro”, mais conhecido como Escola Parque, com a mesma finalidade, devidamente aprovado por Dona Oscarlina, que já havia vivenciado essa experiência.

            Em 05/08/2011, Dona Oscarlina participou da comemoração dos 20 anos da fundação da Escola que leva o seu nome. A presença de Dona Oscarlina de Oliveira Silva no evento, devido a sua idade avançada – 91 anos –, foi uma grata surpresa para os presentes, tendo em vista a sua lucidez, uma conquista da sua mente intelectualizada e produtiva.

            Por intermédio da “Casa da Amizade”, as senhoras Mariene Silva, Diná Fernandes e demais membros do Rotary Club fizeram homenagem à senhora Sant’Ana, mãe de Maria e avó do Menino Jesus, a qual, no dia 26 de julho, foi nomeada padroeira da professora primária e da avó. Todas as mães, avós e mestras foram homenageadas nas pessoas de Dona Oscarlina de Oliveira Silva e Dona Edilce Prates Ribeiro Silva. Na preleção, a senhora Mariene Silva parabenizou as homenageadas pelo trabalho prestado à educação da criança brumadense, pela fortaleza de espírito, pela tenacidade e perseverança ao enfrentarem as lutas da vida, vencendo com firmeza os entraves encontrados.

            Dona Oscarlina discursou em agradecimento ao “convite/intimação” por ser alvo dessa brilhante homenagem na passagem do dia de Senhora Sant’Ana, por ser, além de mãe, avó e mestra. Finalizou seu discurso dizendo estar comovida e sentindo imensa satisfação por tantas demonstrações de carinho que muito a honravam.

DEPOIMENTOS:

            Professora Diná Fernandes: “Tenho muita afeição por Dona Oscarlina. Fiz até mesmo uma visita a ela, há poucos dias. Encantei-me com sua lucidez, conversamos muito e ela me contou muitos causos. Foi uma grande educadora. Quando chegou a Brumado, trouxe consigo a experiência e a competência que a profissão lhe proporcionou, e aqui desenvolveu o seu trabalho com muita dedicação”.

            Professora Cila Viana: “A lembrança que tenho do meu convívio com D. Osca, como sempre a tratei, carinhosamente, é a de que é uma pessoa muito educada e sempre muito feliz”. Nos nossos não raros encontros, no vai e vem da vida, parávamos para conversar, e no nosso papo, fosse comentando qualquer assunto, havia sempre uma pitada de bom humor. Sempre nos despedíamos sorrindo. O nosso convívio data da época em que ela era professora de meus sobrinhos. Hoje, eles são portadores de diploma de curso superior e com certeza reconhecem a importância da contribuição de D. Oscarlina nas suas formações intelectuais, já que os professores das classes iniciais fazem imensa diferença no sucesso da vida estudantil”.

            Fez questão, ela mesma, de escrever seu histórico de vida com todas as minúcias possíveis, apesar dos seus 92 anos completados hoje, cinco de junho de 2012.

            Numa demonstração de lucidez e memória ativa, citou o seguinte aforismo do naturalista sueco Carl Lineu (23/5/1707-10/1/1778), “O homem nasce, cresce, vive, reproduz-se e morre”. Portanto, estou à espera da conclusão da minha etapa de vida.

            Oscarlina é pessoa de personalidade forte, exigente no seu ofício de ensinar, impunha disciplina e requeria respeito e bom comportamento dos seus alunos.

            Associo-me a todos os que a aplaudem. As minhas homenagens e congratulações a essa mulher com virtudes invejáveis, por uma vida de trabalho profícuo em favor da educação, com muitas lutas e conquistas. É reverenciada pela sua dedicação à família, sempre percorrendo os caminhos da verdade, da honestidade e do saber, motivo de orgulho dos que convivem com ela, pelo sucesso alcançado.

            Para finalizar, Dona Oscarlina diz: “Se não exerci bem a tarefa de Mãe e Mestra que o destino me confiou, peço perdão a Deus e à coletividade”.

            Vivas para D. Oscarlina de Oliveira Silva, que hoje, cinco de junho de 2012, completa 92 anos com a lucidez de “uma mente sã num corpo são”, uma resposta a sua formação biológica traduzida na sua longevidade.

NOTA DE FALECIMENTO:

Oscarlina de Oliveira Silva faleceu, hoje, dia 15 de maio de 2015, o corpo está sendo velado no Salão Paroquial e o enterro está previsto para as 17 horas e será inumado no cemitério municipal Senhor do Bonfim.

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 745