O Padre José Dias Ribeiro da Silva – conhecido como Padre Zé Dias − nasceu na freguesia de Longos, concelho de Guimarães e distrito de Braga, em Portugal, no dia 20/12/1880. Era filho de José Maria Ribeiro e Joana Rosa da Cunha, portugueses, ambos falecidos em Portugal. Irmãos: Manoel, João, Antonio, Luiz, Angelina, Domingos e Roza.
No Consulado Português, em Salvador/BA, constam os seguintes dados, com referência ao Padre Zé Dias: “Inscrito sob o nº. 2931, em 23 de agosto de 1934. Natural de Portugal; estatura regular; cabelos brancos; rosto oval; cor natural; profissão sacerdote e a última residência em Portugal: Freguesia de Longos. Com residência no Brasil em Bom Jesus dos Meiras”.
Fez seus estudos no seminário da cidade de Braga, onde se ordenou sacerdote, sendo logo nomeado pároco na mesma diocese. Segundo os familiares, o Padre Zé Dias veio para o Brasil em 1912 motivado pela perseguição aos que pertenciam à Igreja, por se colocar a favor da monarquia. Passou pela Espanha e embarcou como cidadão comum com destino ao Rio de Janeiro, onde já se encontravam os irmãos Antonio e Luiz que trabalhavam em uma farmácia de nome Granada e depois foi para a Diocese de Salvador onde desempenhou o seu trabalho sagrado e daí foi designado para a Diocese de Caetité por decisão do arcebispo D. Jeronymo Thomé da Silva, então arcebispo da Bahia e assumiu a paróquia de Bom Jesus dos Meiras (Brumado) em 1913.
Na Capelinha do sobrado do Brejo celebraram-se por mais de cem anos a partir de 1812, as missas dominicais, casamentos, batizados e demais práticas da religião católica. O Coronel Pinheiro Pinto contribuiu para a construção da “Capela do Senhor Bom Jesus”, assentamento feito em seu livro de anotações no ano de 1815, que continua sendo a mesma Igreja Matriz de Brumado.
Segundo a Diocese de Caetité a fundação da Paróquia do Senhor Bom Jesus data dos anos de 1861 (atual Brumado). Exerceram o presbítero, Padre José Mariano Meira Rocha, e Padre médico Dr. Jayme Oliva, rio-contense, que tomou posse em 1873 e, em 1913, o Padre José Dias Ribeiro da Silva deu início sacerdotal na paroquia do Bom Jesus.
A paróquia de Nossa Senhora do Alívio estava subordinada à Diocese de Caetité, sendo como Bispo diocesano Dom Manoel Raimundo de Melo. O Padre José Dias, residente em Bom Jesus dos Meiras, acumulou como pároco das duas Freguesias: a de Bom Jesus dos Meiras e a de Nossa Senhora do Alívio de Ituaçu, de 1928 até 1934, era auxiliado pelo sacristão Luiz Dias, seu irmão. O seu último batizado em Ituaçu foi em 18/04/1934. Com sua morte em 13/12/1937, assumiu o Padre Frei Pedro Thomaz Margalho, vigário de Ituassú, em 14/02/1938.
Chegou a Salvador em 27 de outubro de 1912 aos 32 anos de idade onde desempenhou o trabalho sacerdotal. No mês de dezembro de 1912, Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil D. Jeronymo Thomé da Silva mandou passar a Provisão de Pro-pároco da freguesia do Senhor Bom Jesus dos Meiras a favor do Reverendo José Dias Ribeiro da Silva, português, o qual tomou posse da referida freguesia no dia primeiro do mês de janeiro do ano de 1913. (Livro Tombo da Matriz de Brumado).
No dia 15 de março de 1913 Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo da Bahia e Primaz do Brasil D. Jeronymo Thomé da Silva enviou ao Pro-pároco Reverendo José Dias Ribeiro da Silva, cópia da Lei de 19 de junho do ano de 1869, nº 1091, relativa aos limites da paróquia da freguesia do Senhor Bom Jesus dos Meiras, e delimitou os limites. (Livro Tombo da Matriz de Brumado).
Atendia na freguesia do Bom Jesus dos Meiras nas localidades que estavam sob a jurisdição da Igreja. Fazia casamentos, batizados e celebrava missas, cumprindo o seu papel de evangelizador. As visitas às freguesias eram feitas no lombo de burros cuja tropa pertencia ao padre.
Em 13 de maio de 1913, fundou o Apostolado do Santíssimo Coração de Jesus na Matriz de Bom Jesus dos Meira, sendo ele o Diretor local; Coronel Manuel Joaquim Alves dos Santos, presidente; Dona Placídia dos Santos Meira, presidenta; Major Aureliano Alves de Carvalho, tesoureiro; Odilon Silva, secretário, depois (1915) o senhor Arthur Revenster Costa, e presidente honorário o vigário Dr. Jayme Oliva, contando ainda com a participação das senhoras zeladoras e dos associados. Em 08 de abril de 1917, promoveu, na paróquia, a instalação da Associação das Almas na Igreja Matriz da freguesia e nomeou as pessoas para a direção da mesma. Aos 11 dias do mês de outubro de 1913 foi agregada ao Apostolado da Oração esta paróquia do Senhor Bom Jesus dos Meiras.
Aos 10 dias do mês de dezembro de 1913 faleceu o vigário da freguesia Doutor e Padre Jayme Oliva e por ordem do Exmº. Revmº. Senhor Arcebispo, o Pro-pároco Padre José Dias Ribeiro da Silva passou a ser Vigário Encomendado da Paróquia.
Com a morte do cônego Herculano Cerqueira da Freguesia de Nossa Senhora do Alivio, vaga desde 1922, foi designado o Padre Daniel Batista Alves que auxiliou o Padre Antonio Ribeiro Folha até a chegada do novo Vigário, o Padre José Dias Ribeiro da Silva que assumiu a paróquia em maio de 1928. O Padre Zé Dias acumulou as freguesias de Bom Jesus dos Meiras e a de N. Sra. do Alívio de Ituaçu, com a sua morte foi sucedido pelo Frei Pedro Tomaz Margalho, da Ordem dos Carmelitas.
O Padre José Dias construiu a sua casa ao lado da Igreja e plantou, no ano de 1917, um coqueiro na lateral direita desta, em frente à sua residência. Geraldo Leite Azevedo, em setembro de 2003, em homenagem ao coqueiro da sua infância, escreveu o seguinte poema:
“Oh! Coqueiro da minha infância feliz, / Tão solitário quanto uma ilha / De um lado a Igreja Matriz / Do outro, o antigo hotel Brasília. // Coqueiro que se impõe, se agiganta / Transformando meus olhos em dois ouricuris / Era para o hotel de seu Álvaro Dantas / A vista dos turistas e o brinquedo dos guris. // Dizem que foi nos tempos do padre José Dias / Que plantaram este secular coqueiro / Por ele passaram tantas romarias / Tanta gente já morreu e ele continua inteiro. / Resistiu aos vendavais com tenacidade / E aos vândalos com determinação e ira / Perguntem ao vento se não é verdade / Perguntem ao coqueiro se é mentira // O coqueiro já não dava cocos / Era muito velho para isso, convenhamos / Passava, na Páscoa, um grande sufoco / tiravam-lhe as folhas para o Domingo de Ramos. // Ó coqueiro, tu me fascinas e me confundes / Embora te conheça como a palma da minha mão / Vives ao lado do Monsenhor Antônio Fagundes / Com o pensamento no Céu e as raízes no chão. // A igreja matriz envelheceu, foi demolida, / O velho hotel, hoje é um belo Banco do Brasil / Uma nova e linda igreja foi construída / E o meu coqueiro resiste com força varonil. // Verdade é que, por golpes de facão, o meu coqueiro / Não fosse a intervenção de Célia e Miguel Lima Dias / Que disseram “Cortem o meu coração primeiro”. // E assim velho coqueiro da Igreja Bom Jesus / Tua história tão cedo não terá fim / Enquanto nesta terra houver húmus e luz.
O coqueiro da igreja, quase centenário, morreu, apesar de Zé Maria (divulgadora) e de Fernando (português) regarem-no diariamente. Não se sabe, porém, se morreu de velhice ou por obra de algum malfeitor. O fato é que, em 2012, o coqueiro deixou de fazer parte da paisagem da praça da Igreja Matriz.
A casa do padre José Dias passou para Luiz Ribeiro Dias, por herança. Posteriormente, para Idalina Pereira da Costa, esposa deste, que a alugou para a Magnesita S.A. instalar ali o seu escritório. Depois o imóvel foi locado para o Sr. Cantídio Trindade que o sublocou ao Sr. Álvaro Aurélio Dantas e Sra. Gerolina Viana Dantas, Dona Sinhá, os quais se estabeleceram ali, com o Hotel Brasília, que funcionou por 13 anos, até 1973. O imóvel finalmente foi vendido por Idalina ao Banco do Brasil, onde hoje está instalada sua agência de Brumado.
O Padre Zé Dias plantava videiras em terreno anexo a sua casa e fabricava vinhos tanto para o uso particular quanto para a Eucaristia, utilizando as técnicas e os conhecimentos adquiridos em Portugal. As parreiras eram irrigadas com água de uma cisterna construída pelo padre. Ele tinha um pequeno alambique e aproveitava o bagaço das uvas para fazer cachaça.
Construiu uma ponte de madeira com corrimão e pilares de sustentação de argamassa feita com cal e óleo de baleia. Essa ponte, conhecida como ponte do Padre Zé Dias, permitia acesso do centro da cidade para o Bairro do São Felix e vice-versa. Mandou construir, também, as torres da igreja matriz e as cruzes de ferro, assim como os anjos que se movem com a força do vento.
Fundou uma sociedade para a formação da Filarmônica Musical, sendo ele próprio o presidente e se compunha dos músicos: Francisco Inácio da Silva, Maestro Chicão (Ituassú), Agnelo, Lindolfo, Gerson, Ariston, Alvino, Nicanor, Amarílio, Altamirando, Jacundes, Procópio, Cardozinho, José Gangolim, Chico Canudo, Tindou e outros. A estreia foi em 15 de novembro de 1927 na inauguração do Telégrafo.
Comprou um Ford-29 e contratou, como chofer, Aristides Catarino (Tidinho) e, posteriormente, Laudelino que exercia os ofícios de chofer e mecânico. Possuía um relógio que marcava as distâncias, uma novidade para o povo da época. Possuía várias fazendas: Franga, Santa Luzia e Serra, todas com muita água, e a localidade chamada Pasto da Grama, além de casas e outros bens e fazia também plantações de café.
Criou a sobrinha Maria do Carmo Costa Ribeiro, apelidada de Nininha, filha de Idalina e Luiz e mandou-a estudar em Salvador, onde ficou durante um ano, depois ela estudou em Caetité, porém não se formou.
Com licença do Prelado o Revmº. Sr. D. Juvêncio Brito, exerceu o cargo de prefeito de Brumado com a mais lídima honradez no período de 1º de janeiro de 1931 até 20 de maio de 1936. Essa informação foi tirada do Livro Tombo da Igreja Matriz. O nome de Bom Jesus dos Meiras foi mudado para Brumado em 1931, portanto, em seu governo.
Em 30 de setembro de 1933, o Padre Zé Dias, Prefeito Municipal interino, fez ciente o presidente do PSD – Partido Social Democrático –, Capitão Fidelcino Augusto dos Santos, e demais membros desse partido político local de uma circular enviada às Prefeituras Municipais pelo Interventor Federal da Bahia, Exmo. Senhor Capitão Juracy Montenegro Magalhães, com o seguinte teor:
“Prefeitura Municipal da Vila de Brumado, em 30 de setembro de 1933”.
“Ilmos. Srs.
Presidente e membros do Diretório Político do Partido Social Democrático da Bahia no Município de Brumado:
Tenho a distinta honra de apresentar a esse Diretório a circular anexa [solicitando apoio] dirigida às prefeituras Municipais deste Estado, pelo Exmo. Senhor Capitão Juracy Montenegro Magalhães, Interventor Federal, para que um órgão representativo da citada agremiação partidária, neste Município, se manifeste sobre o magno problema de caráter político abordado com fervoroso partidarismo na aludida Circular. Aproveito a oportunidade de reafirmar os meus protestos de elevado apreço e subida consideração.
Cordiais Saudações.
Padre José Dias Ribeiro da Silva – Prefeito Interino”.
Aos 13 dias do mês de dezembro de 1937 faleceu o Padre José Dias Ribeiro da Silva, com 57 anos de idade, na vila de Brumado, antiga Bom Jesus dos Meiras, comarca de Ituassú (hoje com a grafia modificada para Ituaçu). José Costa Ribeiro, sobrinho e declarante, exibiu o atestado do Doutor Médico Brand Lima que declarou que o padre falecera na Rua da Matriz, em casa de sua propriedade, em consequência de Edema Pulmonar e Insuficiência Cardíaca. Seu corpo está sepultado no interior da Igreja Matriz. Com a morte do Padre José Dias, tomou posse, em 14 de fevereiro de 1938, o religioso carmelita Frei Pedro Tomás Margalho Nascido em 26/02/1894, Espanha, e falecido em 09/05/1974 em Salvador. Vigário de Ituaçu desde 1936. Ficou a freguesia de Brumado anexada à de Nossa Senhora do Alívio de Ituaçu, por falta de clero.
No inventário do padre, as fazendas ficaram para os herdeiros moradores em Portugal, as quais, através do procurador Waldemar Torres, foram vendidas para a Magnesita S.A.
Em homenagem ao Padre Zé Dias, foi dado o seu nome a um logradouro no bairro São Félix, a antiga rua São Felix, onde está edificada a capela de Nossa Senhora de Fátima. Recentemente, em 6 de julho de 2012, o Município estendeu essa homenagem e inaugurou a praça da referida igreja, denominando-a Praça Padre José Dias, com urbanização e uma área iluminada que dão uma aparência de modernidade ao local.
O Padre Zé Dias permaneceu na Igreja do Bom Jesus entre 1913 e 1937, portanto, 24 anos de catequese e práticas religiosas dedicadas aos seus paroquianos. A ele antecedeu o doutor e vigário Jayme Oliva e sucedeu-o o Frei Pedro Thomaz Margalho da O.C. – Ordem dos Carmelitas – (espanhola). Posteriormente, em 18 de agosto de 1939, Monsenhor Luiz Pinto Bastos, vigário geral do Bispado de Caetité, com delegação do Exmº. Revmº. Bispo Diocesano, passou a provisão de vigário encomendado da freguesia de Bom Jesus dos Meiras, a favor do Revmº. Padre Antônio da Silveira Fagundes que assumiu a freguesia em 20 de agosto de 1939, a qual estava anexada à de Nossa Senhora do Alívio de Ituaçu. Posteriormente (1962) o Padre Antônio da Silveira Fagundes, adquiriu o título de Monsenhor e permaneceu em Brumado até o dia do seu falecimento, em 18 de setembro de 2009.
Ressalte-se que a Igreja Matriz de Brumado data de 1878. Apesar de o primeiro livro de registro de batismos datar de 1873, na Ata da Primeira Sessão da Câmara Municipal da Vila de Bom Jesus dos Meiras, em 13 de fevereiro de 1878, relata o seguinte: “Eu, Antonio Ladislau de Figueredo Rocha, vice-presidente da Província da Bahia, faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa decretou, e eu sancionei a lei seguinte…” E passa o vice-presidente a descrever a Lei que autorizou a construção, a pedido dos habitantes locais, da 1ª Igreja Matriz de Bom Jesus dos Meiras. Ocorre que a Diocese de Caetité registra a data de 1861, como a inauguração da paróquia do Senhor Bom Jesus.
A Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus sofreu várias reformas: em 1940, em 1989, esta realizada por Newton Cardoso, quando foi trocado o piso, fez-se nova pintura, colocaram-se ventiladores e forro. Em 2001, fez-se uma reforma geral com grandes modificações, tendo à frente o Padre Osvaldino Alves Barbosa, Padre Dino, sob a coordenação dos membros Maria Sônia Meira Gomes, Ophelia Rocha Torres Leite, Clemilton Viana Silva, Idenor Silveira Amorim, Miguel Lima Dias, Hosannah Cotrim Rizério, Marízia Eny Viana Dantas e Ir. Eli Nascimento Reis, com a colaboração de membros do comércio e de católicos. Embora conservando a sua arquitetura secular externa, modernizaram-na, tornando-a mais bela e proporcionando conforto aos fiéis. Hoje ela representa o cartão postal de Brumado pela sua beleza interna, motivo de autoestima e o orgulho dos católicos brumadenses.
Conta-se que Luiz, seu irmão, sobre quem existem muitas piadas, era o sacristão e o sineiro da Igreja. Certa feita, ele acompanhava o Padre José Dias para a celebração de uma missa em determinado distrito e, ao apear do burro para atender a necessidade fisiológica, este mudou de posição. Sem perceber, o sacristão montou no animal, tocou viagem e nada de alcançar o sacerdote. Ao deparar-se com a cidade, exclamou: “Que lugar parecido com Bom Jesus dos Meiras!”. Só então se conscientizou de que realmente estava na cidade de origem.
Fontes:
- Informações da família do Padre Zé Dias;
- Livro Tombo da Igreja Matriz de Brumado.
- Colaboração do Cartório do Registro Civil