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Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes – Irmã Dulce, o Anjo Bom da Bahia *26/05/1914†13/03/1992

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Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes nasceu em Salvador no dia 26 de maio de 1914, filha do dentista e professor universitário Augusto Lopes Pontes e de Dulce Maria de Souza Brito Lopes Pontes.  Sua mãe de 26 anos morreu em 1921 quando ela tinha sete anos de idade. Foi a primeira tragédia que se abateu sobre a família.

 Nessa época aderiu a Fé cristã, fez catequese e recebeu a primeira comunhão, aos oito nos de idade na Igreja Santo Antonio Além do Carmo.  Travessa, ainda criança, brincava com boneca, de roda, empinava pipa e se divertia com os irmãos na guerra de mamona e pespegava apelido nos outros e Jogava futebol, por tantas traquinagens, recebeu o apelido do tio materno Raimundo, o apelido de ‘machão’, pois deveria ter nascido homem pelas brincadeiras que a atraiam.  Em 1920 por influência do pai e do irmão mais velho torna-se torcedora do time de futebol Ypiranga, aos domingos acompanhava o pai às apresentações da equipe no estádio da Graça.

Irmãos: Augusto (1913); Dulce Maria (1915); Aloysio Raimundo (1918) e o recém-nascido Geraldo Majella (1919).

 Muito religiosa devota de Santo Antônio, em 1927, aos 13 anos de idade em suas orações consultava a Deus se deveria ser freira. Por esse tempo já atendia mendigos em sua casa. Tentou entrar para o Convento Santa Clara, por vocação religiosa, mas, por ser muito jovem foi recusada pelo convento. Seu pai, também religioso, lhe orientou que adiasse a sua pretensão.

Os primeiros doentes desvalidos, abrigados pela freira, ocorreram com a invasão de casas interditadas na Ilha dos Ratos em 1939. Obrigada a deixar as casas invadidas, ocupou o mercado de peixes que estava desativado, pertencente à prefeitura de Salvador. O prefeito Wanderley Pinho, mandou desocupar o mercado abandonado. Ela, então, instalou os doentes sob os arcos na colina sagrada perto da Igreja do Senhor do Bonfim. Indignado com a situação o prefeito disse à freira, que a prefeitura não permitia abrigar doentes naquele cartão postal da Bahia.

– Doutor, “então arranje um lugar”.

A solução definitiva aconteceu em 1949, com a permissão da Superiora da Congregação em Salvador, Gaudência Fontes de Noronha, para usar o galinheiro ao lado do convento Santo Antônio.

Dedicou a sua vida às obras sociais e a caridade.  Peregrinava pela cidade pedindo doações para os seus indigentes. Chegou pejorativamente a ser chamada de “freira pidona”; em contrapartida o escritor Jorge Amado a chamava de Santa Dulce, o Anjo Bom da Bahia.

 

Formou-se em 08 de fevereiro de 1932 Professora primária pela Escola Normal da Bahia (atual ICEIA).  Em 30 de janeiro de 1933 o médico Dr. José Paulo, recomendou-a que antes de viajar para São Cristóvão/SE procurasse um especialista para tratar o problema das amidalas, fato que só ocorreu anos depois, em 1939, foi operada e a voz que já era fraca ficou ainda mais baixa, próxima ao sussurro.

 Entrou para o convento das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, no dia 8 de fevereiro de 1933, na cidade de São Cristóvão/Sergipe, foi recebida pela irmã Joana que fez as devidas apresentações.

 Em 13 de agosto de 1933, fez a sua profissão de fé e no dia 15, recebeu o hábito de freira.  Jurou manter os votos perpétuos de pobreza, castidade e obediência. “Tu Maria Rita, de hoje em diante não mais te chamarás Maria Rita, mas Irmã Dulce”.  O nome Dulce foi dado em homenagem a sua mãe que se chamava Dulce. Tornou-se freira.

Foi indicada para Salvador, trabalhar na abertura do Hospital Espanhol, em companhia das Irmãs Tabita e Capertana, exerceu as funções de enfermeira, sacristã, porteira e responsável pelo setor raios-X.  Fez o curso de Prática de Farmácia e tornou-se enfermeira. Em seguida a Congregação da Imaculada Conceição, por ser professora formada, a indicou para o Colégio Santa Bernadete a dar aulas de geografia, mas por falta de vocação educacional, foi substituída, o que muito lhe agradou para voltar a cuidar dos pobres.

Em 1935 Irmã Dulce foi pioneira na assistência social nos Alagados, uma favela erguida sobre palafitas no leito do mar. Em 1936, Irmã Dulce fundou a União Operária São Francisco juntamente com frei Hildebrando Kruthaup. Deve-se também à Irmã Dulce a criação do Colégio Santo Antônio, voltado para os operários e suas famílias. Em 1937 funda o Círculo Operário da Bahia com frei Hildebrando. Ainda em 1937 Passa a ensinar no Curso Infantil e lecionar Geografia e História no Colégio Santa Bernadete, no Largo da Madragoa, pertencente à sua Congregação. Em maio de 1939, Irmã Dulce inaugura o Colégio Santo Antônio, escola pública voltada para operários e filhos de operários, no bairro da Massaranduba.

Em 1939 Invadiu cinco casas abandonadas e localizadas na ilha dos Ratos para acolher os enfermos e desabrigados.  Foi despejada pelo proprietário.

Em novembro de 1948, quando o presidente Eurico Gaspar Dutra visitou a Bahia para inaugurar uma estrada, em companhia do governador Otávio Mangabeira, Irmã Dulce cercou a comitiva com as suas crianças impedindo o carro oficial de avançar. O presidente perguntou ao seu Ministro baiano Clemente Mariani: “quem é a freira?” Informado de quem se tratava. O presidente desceu do carro e foi ter conversa com Irmã Dulce sobre o motivo da aglomeração impeditiva do cortejo. Ela aproveitou a oportunidade, esclareceu que o governador Mangabeira tem sido um bom pai.  “Nesse caso sou seu pai duas vezes e, portanto, seu avô”. “Mais rico que seu pai que é pobre”.

  “Meu avô, sua neta está devendo muito e precisa de recursos para solucionar o problema”. O presidente deu uma risada da espiritualidade da freira e encarregou o seu ministro da Educação, o banqueiro baiano, Clemente Mariani para atender ao pedido da freira. (diálogo registrado pelo jorna A TARDE de 29/11/1948).

Eurico Gaspar Dutra foi visitar e conhecer o trabalho social da Freira. Dias depois o Governo Federal liberava a verba que ela havia solicitado. A verba foi aprovada com a participação do Deputado Udenista pela Bahia, Juracy Magalhaes, que suou a camisa para obter a liberação da verba prometida por Dutra.

Em 1949 transformou o galinheiro ao lado do convento, com a permissão da Superiora, em albergue improvisado para os pobres. Suscitaram preocupações na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição as dívidas assumidas pela Irmã Dulce.

 Entre agosto e setembro de 1949 esteve no convento do Ceará para tratamento de saúde, provavelmente tuberculose adquirida pelo contato com doentes portadores desse mal.

Em 1950 Inicia o atendimento aos presos da cadeia de Dendezeiros, conhecida como “Coréia”, devido às más condições de higiene local.  Inaugura nas dependências do Círculo Operário da Bahia o SAPS (Serviço de Alimentação da Previdência Social) com almoço a preços populares (Dois tostões).

Em 5 de janeiro de 1952 salvou vítimas de um incêndio, proveniente de uma colisão de um ônibus e um bonde, ocorrido em frente ao convento, para esse trabalho contou com a ajuda da brigada de incêndio formado por diversas colegas. “Foi um serviço exausto mais valeu a pena”.

 Em 26 de maio de 1959, foi instalada oficialmente a Associação Obras Sociais Irmã Dulce e, no ano 1960, é inaugurado o Albergue Santo Antônio.

Em 1959 o Governador da Bahia, Juracy Magalhães, condoído com situação precária das instalações, mandou construir um albergue para doentes, com 150 leitos num terreno que conseguira com empresários locais e, no dia 8 de fevereiro de 1960, inaugurou-se o albergue Santo Antonio. Era a menina dos olhos da irmã Dulce que não disfarçava o seu contentamento pela realização da obra.   Essa obra gigantesca de caridade atende as pessoas indistintamente de todos os lugares do Estado e da capital, possui leitos suficientes paro o atendimento diário. Dizia: “Deus proverá e o povo ajuda”.

Em 1962, fundou e abriu um orfanato para abrigar menores, num galpão cedido pelo governo do Estado, situado no município de Simões Filho.  A doação da fazenda foi oficializada pelo governador Antonio Lomanto Júnior em dezembro de 1964. Por muitos anos, diariamente saia de porta em porta, pedindo donativos para essa finalidade, o que nunca lhe foi negado. Dedicou-se às crianças no orfanato com estremo carinho de mãe. No hospital que era tratada pelos indigentes como Mãe Dulce.  Com recursos da Aliança para o Progresso instalou no orfanato, marcenaria, padaria cuja produção era destinada também ao Hospital-albergue.

 No orfanato sentia-se bem humorada e feliz, colocava apelidos nos meninos, tocava acordeão e cantava, contava histórias, era um momento que a encantava e a distraia, por estar longe dos sofrimentos dos doentes no hospital.  Tinha uma relação maternal com os meninos, esse afeto se tornou marca do Centro Educacional Santo Antonio, inaugurado em 1994.

 Com o crescimento da entidade, passou a pedir verbas das autoridades e de ajuda dos empresários. Um trabalho incansável e que lhe rendeu bons resultados, pelo seu carisma convencia os benfeitores a quem os procurava. Dizia: “Quando cada um faz um pouco, o pouco de muitos se soma” e, “Como católica e brasileira, meu dever é ajudar. As obras não são minhas, são de Deus”.

Contou com ajuda de muitos voluntários: médicos, profissionais de saúde, religiosos e voluntários que se compadeciam do sofrimento dos pobres de Irmã Dulce, renegados pela sociedade e dizia: “Quando nenhum hospital quiser algum paciente, nós o aceitaremos. Esta é a última porta, e por isso eu não posso fechá-la”.

Acompanhava de perto o Centro de Recuperação de jovens que tinham cometido desvio de conduta infringindo as leis, recebiam orientação para reinserção digna na vida social e a possibilidade de aprender uma profissão, motivo de satisfação da Irmã Dulce, além de cuidar de idosos pobres recolhidos nas ruas para abrigá-los no asilo, era essa a missão que Deus reservou para ela e a cumpriu fielmente.

Diante do momento político e das repressões militares, abusos e conflitos civis fora perguntada a sua opinião sobre os rumos políticos do país, ela respondeu: “Não entro na área política, não tenho tempo para me inteirar das implicações partidárias. Meu partido é a pobreza!” Muitos inconsequentemente criticavam a sua ação caritativa como assistencialismo.

Em 1965 tem início do período de exclaustração da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Fundado em 1970.  Em 1974 foi inaugurado no Hospital Santo Antônio, mais um pavilhão denominado “Lar Fabiano de Cristo”, exclusivo para pessoas com deficiência. O pavilhão foi construído com doação feita pela Capemi, através do Coronel Jaime Rolemberg.

Em 1975, Encerra o período de exclaustração e Irmã Dulce que volta ao convívio com as Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus.

Em 25 de fevereiro de 1976, falece seu pai, Dr. Augusto Lopes Pontes, foi um dia de tristeza para a família, em especial para Irmã Dulce. Ela passou toda a noite rezando ao lado do caixão do pai. O pai era um baluarte ao lado de sua filha, na construção e consolidação das suas obras, foi um grande incentivador de outras obras sociais, destacando-se entre elas o “Abrigo Filhos do Povo”, situado no bairro da Liberdade.

Em 1976 quando Ernesto Geisel visitou a Bahia, fez-lhe um bilhete com os seguintes dizeres: Estimado Presidente, Paz e bem! Quando estiver voando aí no céu, perto de Deus, lembre-se do meu pedido e ajude nossos pobres aqui na terra. Geisel encontrou o envelope no bolso do paletó, um envelope com pétalas de rosas dentro. Em Brasília em audiência com um empresário Chinês que estava investindo no Brasil, este solicitou ao presidente a indicação de alguma instituição de caridade para fazer uma doação. Ele indicou as Obras Sociais de Irmã Dulce, e o dinheiro ajudou a equilibrar as contas da instituição que estava com déficit.

Em setembro de 1979, o general Figueredo, João Batista de Oliveira Figueredo, mandato: (1979-1985), em visita a Bahia, o governador ACM inclui na agenda do presidente uma visita ao hospital de Irmã Dulce, mas ela estava doente não pode atendê-lo, então conversaram rapidamente por telefone.

 O presidente veio novamente à Bahia, ela o convidou para visitar e conhecer o Albergue Santo Antonio. Uma multidão o esperava em frente ao hospital e invadiram a entrada para cumprimenta-lo, sem que a polícia pudesse contê-los.

 Na passagem pelo corredor os enfermos jogavam pétalas de rosas para saudar o visitante ilustre, seus ministros e o governador ACM.  Na oportunidade mostrou as condições precárias e a falta de recursos para manter o hospital para atender os pobres.  No final da visita se despediu dizendo: conte comigo Irmã para o que der e vier. A promessa foi esquecida.

Em 7 de julho de 1980 Irmã Dulce tem seu primeiro encontro com o Papa João Paulo II.

Em 9 de março de 1981, criou-se a Fundação Irmã Dulce e as Obras Sociais da Irmã Dulce (OSID), tornaram-se referências na Bahia e no Brasil, pelo atendimento gratuito das várias especializações que eram atendidas por voluntários sem nenhum ônus para o hospital.

Em 1982 Figueredo de passagem por Salvador, Irmã Dulce aproveitou a oportunidade para cobrar-lhe o prometido: – Presidente estou aqui para lhe cobrar uma antiga promessa. “Já falei com Santo Antonio, e ele me disse que o senhor só entrará no céu se nos ajudar na construção do novo hospital”.

– Prometo-lhe que darei o dinheiro, irmã, nem que tenha de assaltar um banco.

– Pois bem, presidente, pode contar comigo. Pelos meus pobres, até ajudo no assalto.

Na semana seguinte, o governo enviou cinquenta milhões de cruzeiros para a Associação Obras Sociais de Irmã Dulce, e a mesma quantia transferida pelo Fundo de Investimento Social, repasses autorizados pelo presidente.

Em 08 de fevereiro 1983 Inauguração do novo Hospital Santo Antônio, com 400 leitos.

Em 17 de janeiro de 1984 Fundação Associação Filhas de Maria Servas dos Pobres, com o intuito de manter o carisma da sua Obra.

Nenhum presidente teve relação tão próxima com Irmã Dulce quanto José Sarney (1985-1990). Ela tinha o número do telefone vermelho da presidência, um privilégio que lhe permitia falar direto com o presidente.   Quando recebia um pedido dela, mandava um assessor liberar dinheiro imediatamente para atendê-la. A liberação das verbas para Irmã Dulce era feita por meio da LBA – legião Brasileira de Assistência.

Foi amigo e benfeitor da freira baiana. Os inconformados com a inflação galopante ocorrida no governo Sarney, se posicionaram contra a colocação do nome do presidente a um ambulatório do complexo em Salvador. Ela reagiu: “Essa injustiça eu não cometo” e o prédio ganhou o nome do presidente. Era tão devoto da freira que carregava uma medalha da religiosa no bolso.

 Em 1988 escreveu um artigo revelando a sua admiração pela religiosa baiana e a indicou para o prêmio Nobel da Paz. Qualificou-a e a descreveu como: “Frágil como uma pétala, débil como uma folha levada ao vento, mas de plena bondade, lutando para respirar, lutando sempre pela sua grande causa, que era a causa dos pobres”; “Tocha permanente, que brilhava para lembrar que não podemos ficar, somente, no usufruto dos nossos bens”; “Ela era o cristianismo sem adjetivos, era uma esmoler dos doentes”; “Irmã Dulce era uma flor de amor e de bondade, esse desejo de ser um pedaço de Deus nas ruas de Salvador”; ‘Santa como os profetas, alma inigualável, exemplo mundial de caridade”.

Em 27 de maio de 2014 durante a sessão solene do Congresso Nacional em homenagem ao centenário de nascimento de Irmã Dulce, Sarney relembrou “Eu sou indigno de fazer outra coisa, senão beijar os pés”.  Episódio ocorrido em umas das várias visitas à freira que no momento estava sedada.

Era desejo de Irmã Dulce que a transformação dessa realidade social de pobreza, miséria e falta de assistência social, fosse encampada pelos governos como solução do problema e aliviar a dor dos necessitados.  Enquanto essa transformação pelos serviços públicos, não chegava, ela fazia a sua parte de política de amor ao próximo como determinou Jesus. A sua obsessão era que os desfavorecidos tivessem, no seu hospital, acesso ao mesmo tratamento oferecido aos pacientes de hospitais privados.

“- Se cada um fizer a sua parte, se cada pessoa se conscientizar do seu papel social, poderemos não resolver o problema da miséria no mundo, mas estaremos colaborando sensivelmente para diminuir os miseráveis e aplacar a dor de muitos sofredores”.

O Albergue Santo Antonio não tinha mais espaço para receber os doentes, ela mobilizou a sociedade, políticos e empresários para essa ampliação que se fazia urgente e, teve bastante êxito, recebeu doações de todos, desde as pessoa mais humildes e até de forma anônima doações para a execução dos serviços. O antigo Banco Econômico fez uma campanha nacional: “DEUS LHE PAGUE – Irmã Dulce precisa de você”. Dessa maneira, conseguiu levantar boa parte dos recursos necessários para a construção do hospital.

O banqueiro Ângelo Calmon de Sá ao deixar o cargo de ministro do governo Ernesto Geisel, passou a acumular a presidência do Banco Econômico e da entidade mantenedora das Obras Sociais Irmã Dulce. O Banco Econômico mantinha, também, um quadro de funcionários a disposição da Irmã Dulce.

Os bancos, Econômico e Sul Brasileiro, ajudaram com campanhas entre seus clientes arrecadando uma soma significante de doações para a construção como pretendido por Irmã Dulce.  Outras doações foram feitas pelo Governo Federal e com campanha na televisão

Recebeu ajuda de Organizações humanitárias de todo o mundo. Teve ajuda de várias organizações americanas que eram contrárias às influências dos comunistas no hemisfério (gestão da presidência de John Kennedy 1961-1963). Em 1961 os doutores Frank Raila, de Chicago, e John Curns, de Waukegan, e Joseph Bacman, dos Estados Unidos, vieram para ajudar Irmã Dulce, como profissionais voluntários e organizaram os procedimentos para atendimento dos doentes, separando a parte hospitalar do setor de internação.

Em 1962, época da Guerra Fria, com o interesse dos EUA em eliminar o comunismo das Américas; fizeram enormes doações em dólares e alimentos favorecendo o trabalho social de Irmã Dulce que contou também com a ajuda da Aliança para o Progresso, com doações de alimentos e remédios.

 O proprietário do terreno em frente ao hospital, senhor Martins, inicialmente não se mostrou interessado em vendê-lo. Irmã Dulce se reuniu com as colegas e orou para o Santo milagroso, pedindo a sua interseção para aquisição do terreno. No dia seguinte, o senhor Martins a procurou por iniciativa própria, e comovido diante do trabalho feito com aqueles pobres doentes, disse:

– Irmã, eu lhe darei este pedaço de terra. É seu.

 A obra do novo pavilhão foi concluída em 1970, com a presença de do governador Luiz Viana Filho e as bençãos de Dom Eugênio. O médico Gerson Mascarenhas transformou o Santo Antonio em hospital-escola abrigando estudantes de medicina, permanecendo até 1972 quando foi substituído na direção do hospital pelo médico Taciano Campos.

 Contou com a ajuda da família, principalmente, do pai, Dr. Augusto (dentista) que tinha um trabalho filantrópico no âmbito de sua profissão, médicos voluntários e proteção de poderosos. Augusto encontrava-se com políticos, comerciantes e empresários que pudesse ser doadores das Obras Sociais de Irmã Dulce. Foi o pai, o dentista Augusto Lopes Pontes em parceria com o arcebispo primaz dom Augusto Álvaro da Silva, seu protetor na Igreja, que redigiram os estatutos das Obras Socias Irmã Dulce. Essa é uma das maiores instituições filantrópicas do Brasil.

O Frei – padre Francisco Hildebrando Kurthaup, alemão, pertencente à Ordem Franciscana, foi figura importante na vida evangélica de Irmã Dulce.  Ainda jovem, ao se confessar com o Frei recém-chegado ao Brasil se afeiçoou a ele que posteriormente acabou sendo o seu diretor espiritual. Sugeriu a ela, entrar para a Ordem Terceira e em 19 de janeiro de 1933, escreveu à Congregação das Irmãs Missionária da Imaculada Conceição nesse sentido.

Tinha visão apostólica da vida religiosa bastante diversificada; fundou a rádio Excelso; uma rede de cinemas; um mosteiro Carmelita na Bahia; a Casa de Retiro São Francisco; as Obras sociais Franciscanas, e, junto com Irmã Dulce, o círculo Operário da Bahia.  No dia da inauguração do Hospital Santo Antonio, em 8 de fevereiro de 1983, frei Hidelbrando fez um discurso retratando os feitos de Irmã Dulce na qualidade de pai espiritual e irmão de caridade.

Freira e Frade se dedicaram à União Operária São Francisco, fundada em 31 de outubro de 1936, o primeiro movimento operário cristão do Brasil, equiparam-no com ambulatório e farmácia para atendimento aos trabalhadores e depois transformada em Círculo Operário da Bahia oferecendo aos sócios diversas atividades, culturais e recreativas; proteção social mediante defesa dos direitos básicos, pois a legislação trabalhista era precária. Tudo isso e a criação de fundos para empréstimos inspirados na Doutrina Social da Igreja sem a participação da política partidária.

Com o advento da Segunda Guerra Mundial, (1939-1945) os alemães franciscanos foram considerados inimigos, como frei Hidelbrando. Houve muitas manifestações antinazistas desde que o Brasil entrou na guerra, em 1942, contra os alemães. A Igreja católica solicitou que os alemães evangelizadores fossem afastados das obras sociais da Igreja. O afastamento de Frei Hildebrando está registrado na ata da sessão de 6 de setembro de 1943.

Em 8 de novembro de 1943, a superiora regional proibiu que a freira se envolvesse na parte administrativa da entidade ou participasse de qualquer audiência pública inclusive de assumir compromissos financeiros. Contudo em 14 de agosto de 1944, após a proibição, participava das decisões administrativas do COB sem qualquer restrição e com orientação do Fr. Hidelbrando nos bastidores.  Em 1946 o Círculo foi reconhecido pelo governo como instituição de utilidade pública sem fins lucrativos e garantias de isenção de impostos, além de outros benefícios.

Frei Hildebrando, após a guerra, apesar das acusações de colaborador do nazismo, inclusive pelo escritor comunista (à época) Jorge Amado, acusações nunca comprovadas.

Conseguiu com o presidente Eurico Gaspar Dutra a cidadania brasileira, atendendo a uma comissão especial de personalidades baianas que achavam justo dar a condição de brasileiro àquele franciscano alemão que tanto havia feito pelo Brasil e retornou às suas atividades religiosas e assistência eclesiástica do Círculo Operário. O pedido fora formulado em 2 de março de 1940, porém a naturalização brasileira foi atendida em 1949, após a Guerra.

  Em 1962, por questões políticas, deu-se a separação do Círculo Operário e a comunidade franciscana que o fundara. Deixou de existir em 1972.

A CONQUISTA DE UMA SEDE PRÓPRIA, POR IRMÃ DULCE, TEM UMA HISTÓRIA INTERESSANTE:

Pela manhã na hora do café, Dulce chegou cumprimentando Renato Pinto Aleixo, então governador do estado.

– Bom dia meu padrinho, sonhei com o senhor esta noite.

Comigo?

– Sonhei que o senhor me dava uma pedra de presente.

– Ah!… Se é só isso, está bem. Eu lhe dou a pedra!

– Disse ele sorrindo, já imaginando o que estava por vir.

Rindo a Irmã Dulce falou:

– Obrigado, padrinho, mas tem um, porém…

– E qual é este, porém?

– A pedrinha custa oitenta contos de réis!

O Governador balançou a cabeça e respondeu:

– Então temos realmente um, porém. Acho até que tem algum engano, irmã…

– Engano? O que quer dizer? O senhor não vai poder ajudar? – perguntou preocupada.

– Não foi isso o que eu disse, irmã…

– Então?

– A senhora se enganou no sonho. Porque a pedrinha não vale oitenta contos. Ela vale cem contos. Mas se preferir uma de oitenta contos, tudo bem…

Os dois começaram a rir. Irmã Dulce era bastante previsível.

Ninguém resistia ao seu olhar pidão, conseguia o que queria.

 O terreno foi comprado e destinado à construção da sede do círculo Operário da Bahia.

Os seus pedidos ao Santo protetor e a Nossa Senhora, eram infalíveis. Com dificuldades financeiras foi ao Rio de Janeiro, então capital do Brasil, confiada na proteção de Santo Antonio, a fim de angariar recursos e voltou com três milhões do Instituto dos Industriários, foi uma grande surpresa para todos. A sede do Círculo Operário foi inaugurada.

Havia um terreno ao lado do Albergue Santo Antonio, Irmã Dulce, previu que seria o melhor lugar para a expansão. No entanto o terreno pertencia a uma empresa falida e estava hipotecado ao BNB.  Procurou o advogado representante da empresa, senhor Phidias Martins Júnior, expôs o problema, mas a aquisição do terreno era impossível e muito burocrática devida às dívidas contraídas com a prefeitura, o Estado da Bahia e credores. Versátil e disposta. Insistiu com o governador a receber o terreno como liquidação da dívida da empresa, mas o problema maior era com o Banco do Nordeste.

Aproveitou um evento de banqueiros em Salvador, foi pessoalmente encontrar-se com o presidente do Banco do Nordeste Camilo Calazans, explicou-lhe o problema, recebendo dele a garantia que cancelaria a hipoteca, essa foi mais uma garantia para a expansão do hospital. Os trâmites burocráticos foram resolvidos. O advogado recebeu do palácio de Ondina um telefonema convidando-o para uma reunião com ACM e Irmã Dulce que tiveram explicações sobre as dificuldades e burocracias enfrentadas para concessão do terreno. Em tom de brincadeira disse: “Irmã o terreno é seu, pode invadir”.   O advogado Phidias Martins entregou a escritura com a doação do terreno, realizando o sonho da freira.

A inauguração ocorreu em 8 de fevereiro de 1983 para comemorar o seu jubileu de ouro como freira da Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, aproveitou para renovar os seus votos na Capela do Convento Santo Antonio, com a cerimônia realizada pelo amigo e diretor espiritual Frei Hindemburgo Kruthaup.

Calazans voltou a Salvador em 1981, visitou as Obras Sociais de irmã Dulce e, antes de ir embora, fez uma doação de trinta milhões de cruzeiros, em nome do BNB, para a construção de uma ala para as crianças excepcionais.

 RENOVAÇÃO DOS VOTOS DA VIDA CONSAGRADA

  Eu, Irmã Dulce, celebrando os 50 anos de serviço ao Senhor, renovo os meus votos a Deus, para viver para sempre em castidade, pobreza e obediência, no Espírito do Evangelho, de acordo com a regra da Ordem Terceira Regular de São Francisco e as Constituições das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus. Desejo viver minha consagração batismal mais profundamente e assim unir-me de modo especial à Igreja e seu ministério.

Ó Jesus, eterno Sumo Sacerdote e vítima, na presença da gloriosa e Imaculada Virgem Maria, de todos os santos da ordem seráfica e toda a corte celeste, eu, Irmã Dulce, solenemente, renovo minha Consagração a nosso misericordioso amor para viver e morrer como vítima pela santificação dos nossos sacerdotes.

Que meu humilde oferecimento seja uma fonte de bênçãos para a Santa Mãe Igreja, vossa esposa, e para os sacerdotes escolhidos por vós com amor e predileção para participarem do mistério do vosso Eterno Sacerdócio. Amém!

Em 1950 Irmã Dulce foi afastada como superiora do Convento Santo Antonio, fundado em 1699, onde morava com as suas colegas freiras. A madre provincial Irmã Emília Rosa anunciou que o convento seria fechado e as irmãs seriam enviadas para outras casas da comunidade. Irmã Dulce voltaria a fazer parte do Colégio Santa Bernadete, mas não fora proibida de servir aos pobres, porém deveria observar as regras da congregação. A congregação preocupada com aquela situação chegou-se a cogitar a sua substituição e transferir a Irmã Dulce para outro convento em Fortaleza, porém não se realizou em virtude da sua saúde frágil.

A congregação das Irmãs Missionária da Imaculada Conceição temia ser envolvida ou responsável pelas dívidas do hospital contraídas por Irmã Dulce.  Em carta enviada à Congregação Irmã Dulce declara que a entidade não terá nenhuma responsabilidade com as obras em construção e outras despesas efetuadas por ela. O convento e o hospital foram transferidos pela Congregação para as Obras Sociais Irmã Dulce. As irmãs freiras foram retiradas do hospital deixando Irmã Dulce sozinha.

Apesar das argumentações da Irmã Dulce não houve entendimento.  A superiora foi implacável: – As regras existem para serem cumpridas. Servem para nos guiar.  Escolha deixar o hospital, obra de sua criação, ou teria de abandonar a vida religiosa. A congregação não admite dúvidas, foi esse o seu voto de obediência.

Consultou o seu confessor Frei Hildebrando, pediu conselho a muitas pessoas. Recorreu a D. Eugênio Sales, administrador apostólico da arquidiocese, que prometeu ajudá-la.  Posteriormente ele foi notificado pelo conselho geral da Congregação com um pedido de exclaustração de Irmã Dulce.

 Para evitar escândalos de uma expulsão e afetar a Igreja e o povo baiano, sugeriu um acordo com a veneranda Bolhem para uma saída honrosa e conseguir que Dulce obtivesse permissão para estar fora do convento por motivos pastorais e religiosos evitando assim a exclaustração que a obrigaria a abandonar a congregação e não mais usar o habito religioso.

 A Licença foi concedida.  Período da exclausuração, dez anos, 1965-1976. Seus deveres e obrigações religiosas seriam tratados diretamente com D, Eugênio. O terreno e os prédios do convento Santo Antonio e do hospital foram transferidos para as obras Sociais Irmã Dulce. E a Congregação se eximiu de qualquer responsabilidade.  Em 1967 D. Eugenio avalizou a primeira prorrogação do acordo da exclausuração e em 1969 prorrogou novamente.  Foram tempos amargos de sua vida. Mas jamais deixou de usar o hábito e a medalha da Congregação e se considerava uma missionária da Imaculada Conceição.

Em 1970 o governador Luiz Viana Filho contribuiu com parte dos recursos para a conclusão da obra. Em 1971 quando Dom Avelar Brandão Vilela assumiu a diocese declarou: “Foi uma injustiça o que fizeram à Irmã Dulce e um constrangimento para o clero da Bahia”.  “Como explicar que a religiosa com tamanha obra social fosse exilada da sua própria Igreja?”.  “A força de Irmã Dulce não se encontra nas suas obras materiais, mas na espiritualidade”. Sua energia interior vem de Deus”.  Nomeado cardeal em 1973, dom Avelar avalizou duas prorrogações do indulto de exclausuração da freira. Em 1975 deu fim àquela situação constrangedora, informando a superiora provincial que o caso seria tratado pessoalmente por ele. Orientou a freira a escrever uma carta requisitando a sua integração plena. A reabilitação ocorreu em 2 de janeiro de 1976.

Em 7 de julho 1980 se encontrou com papa João Paulo II (Karol Wojtyla) no aeroporto para recepciona-lo, porém na missa campal celebrada pelo pontífice em Salvador, ela se dirigiu ao altar para receber a benção do papa, foi aclamada pela multidão gritando o seu nome, “ela merece”.

Em 1982 criou a Associação Filhas de Maria Servas dos Pobres, e as voluntárias ficaram responsáveis por ajudar na criação dos meninos, cuidando da educação e do espírito. Essa iniciativa teve o apoio do cardeal-arcebispo Avelar Brandão Vilela que promoveu orientação religiosa para as moças.

 Uma pneumonia complicou a sua saúde (1983) que já era debilitada, agravando o seu problema.

Em 1985 o Ministro Waldir Pires, baiano, da Previdência do governo Sarney, propôs um convenio com o hospital, ela resistiu e não aceitou a ingerência no hospital dela. Diante desse posicionamento, o ministério repassava recursos carimbados como doação. Depois convencida pelo médico Taciano Campos aderiu ao Sistema Único de Saúde, Criado em 1988, que beneficiaria o hospital com recursos do INSS, só assim ela se conformou. (Declaração de Ângelo Calmon de Sá)

Todos os presidentes entre 1989 e 2014 visitaram Irmã Dulce e ou seu hospital, desde o presidente Fernando Collor de Melo, primeiro presidente eleito pelo voto direto após a redemocratização.

Certa feita ao limpar o banheiro do hospital escorregou e quebrou a perna, mas não deixou de trabalhar se locomovia numa cadeira de rodas, ajudada por uma acompanhante, revelou seu fisioterapeuta. Abnegada, a freira baiana viveu como franciscana: Comia pouco e quase não dormia. Por 30 anos dormiu numa cadeira de madeira ao lado da cama como penitência pessoal, até ser proibida pelo médico Taciano Francisco de Paula Campos.

Em 1989 a Irmã Dulce começou a apresentar problemas respiratórios e, apesar de ter uma saúde frágil, não interrompeu o seu trabalho. Já debilitada, foi internada no Hospital Português da Bahia, depois transferida para a UTI do Hospital Aliança e finalmente para o Hospital Santo Antônio.

Em 1990 com os pulmões afetados e sérios problemas respiratórios, entrou em agonia que durou 16 meses, até ser levada do hospital Santo Antônio para o convento. Afirmava: “Quero morrer ao lado dos pobres”.

 Em 20 de outubro de 1991 em seus últimos meses de vida recebeu a visita do papa João Paulo II, acompanhado do cardeal-arcebispo, permitindo a freira tempo suficiente para a grande alegria. O papa mudou o rumo de suas atividades programadas para vê-la no leito do hospital. “Este é o sofrimento do inocente. Igual ao de Jesus”.  Milhares de peregrinos rezavam por ela nas imediações do hospital, pedindo a salvação da freira que dedicou a sua vida para atender o povo pobre da Bahia.

Muita gente questionou o posicionamento dos médicos, em querer mantê-la viva, a todo custo, entre eles o pintor e escultor Carybé que considerou o procedimento um castigo inútil. O médico Taciano Campos defendeu energicamente o trabalho da equipe alegando “Enquanto houver vida, há esperança”.  Para esse procedimento contavam com o apoio da família. Ainda em fevereiro de 1991, um empresário publicou um artigo no Jornal A TARDE intitulado; “Deixem-na morrer”. Em agosto o cardeal Lucas Moreira Neves, ministrou a unção dos enfermos a Irmã Dulce.

13 de março de 1992 foi velada e sepultada na histórica Igreja de Conceição da Praia, uma multidão se aglomerou em frente da igreja.  Atualmente, seu corpo está enterrado na Capela do Hospital Santo Antônio.

Em dezembro de 2010, o papa Bento XVI assinou decreto de beatificação da Irmã Dulce.

 A cerimônia de beatificação foi realizada na cidade de Salvador, no dia 22 de maio de 2011, presidida pelo Arcebispo Emérito de Salvador, Dom Geraldo Majella Agnelo, autorizado pelo Papa Bento XVI.

  Em 13 de outubro de 2019 Irmã Dulce é canonizada pelo Papa Francisco, em cerimônia realizada no Vaticano.  Irmã Dulce, foi declarada santa.  Entrou para a história como a primeira santa brasileira.  “A Santa Dulce dos pobres, é motivo de grandes alegrias e honras para os baianos e Brasileiros, confirmada pela Igreja Católica como santa, sob avaliação de suas virtudes da fé, da caridade e da humildade, sendo ela a primeira santa brasileira, é venerada e adorada pelos seus fiéis”. O Papa Francisco considerou que a freira baiana se encontra perto de Deus a ponto de intervir junto a ELE para realizar graças a quem pede em oração.

O memorial de Irmã Dulce fica ao lado do hospital, este local é ponto de peregrinação de fieis por abrigar o corpo e o santuário da primeira santa nascida no Brasil.

Dulcinha, irmã da freira, foi o seu grande esteio durante toda a vida, especialmente nos duros anos em que esteve afastada da sua congregação, por dez anos.

COMENTÁRIOS:

Conta a leiga Iraci Lordelo, amiga da freira, que ela ao solicitar uma esmola a um comerciante, recebeu dele uma cusparada na mão estendida, sem se abater, limpou a saliva no hábito e voltou a estender a mão: “Isso foi para mim, agora, o que o senhor vai dar para os meus pobres”.

 Irmã Dulce viu Antonio Carlos nascer em 1927, suas famílias eram vizinhas na Rua da Independência. No futuro o poderoso governador ACM foi um aliado fundamental da freira, montou uma complicada operação para liberar o terreno para a ampliação do hospital. Nenhum deles foi mais próximo da Freira quanto ACM, por ter sido vizinha da freira e gozar da sua intimidade. Segundo o banqueiro Ângelo Calmon de Sá, ACM nunca deixou de atender um pedido da freira por causa da amizade dedicada a ela.

Em 1959 o empresário proprietário de vários de supermercados, sergipano, radicado em Salvador, percebeu inúmeros gêneros alimentícios postos em uma escada, a mercadoria tinha sido doada a Irmã Dulce pelo gerente como caridade. Mamede Paes Mendonça passou uma descompostura no gerente e o fez retornar os produtos à prateleira. Em 1970 eles se aproximaram e Mamede foi um dos grandes benfeitores da irmã, fornecendo-lhe além de alimento, dinheiro e carro para que ela sorteasse em benefício do hospital. Foi conselheiro das Obras sociais Irmã Dulce, era pessoa de inteira confiança da freira cultivada até a sua morte. Eles Jamais tocaram no assunto da doação impedida pelo empresário em 1959. O episódio foi contado por Paes Mendonça ao médico Taciano de Paula Campos, que assistia a Irmã Dulce.

 O empresário Norberto Odebrecht, fundador de um dos maiores conglomerados do capitalismo brasileiro, foi seu amigo de meio século, o qual teceu vários elogios à capacidade e o empenho administrativo da Irmã Dulce que dizia: “o melhor ensinamento é o exemplo”.

Phidias o advogado da massa falida, foi convidado, pela freira, a fazer uma visita ao hospital Santo Antonio, depois da visita ao se despedir ela afirmou: “Santo Antonio me disse que o senhor irá conseguir e me ajudar…”.

“Irmã Dulce como S. Francisco de Assis, ela é a própria caridade”, José Augusto Bebert jornal A TARDE julho de 1979.

Quando Irmã Dulce faleceu em 1992, o governador ACM percorreu a pé, ao lado do caixão, os sete quilômetros entre o Hospital Santo Antonio e a Igreja Conceição da Praia onde o corpo foi sepultado.  “Como amigo me sinto obrigado a estar presente naquele último Momento”.

Roberto Carlos a partir do momento que conheceu a freira em 1965 tornaram-se amigos e passou a contribuir anonimamente para a Obra Social.  Quando se apresentava em Salvador eles se encontravam, ela era sua admiradora.  Em 13 de março de 1997, devoto da religiosa, lançou a campanha da beatificação da freira.

Convencida por Norberto Odebrecht, a jornalista, sua sobrinha Maria Rita Lopes Pontes, é quem dirige as Obras Sociais Irmã Dulce (OSID), com exemplar e dinâmica competência. Isso lhe custou o fim de um noivado no Rio de Janeiro.

O hospital é conhecido também por Complexo Roma. A sede das Obras em Salvador abriga, em seus mais de 40 mil metros quadrados de área construída, 20 dos 21 núcleos da entidade, incluindo 954 leitos hospitalares para o atendimento de patologias clínicas e cirúrgicas. Atende diariamente cerca de duas mil pessoas, são realizadas por ano 12 mil cirurgias, além de 18 mil internamentos.

 

CONSULTAS:

Livro de Mariana Godoy, Santa Dulce dos pobres – a vida, a fé e a santidade do Anjo Bom da Bahia;

Livro de Graciliano Ramos, Irmã Dulce, a santa dos pobres;

e- Biografia;

 BBC,  https://www.irmadulce.org.br/portugues/religioso/vida-de-irma-dulce;

 Site: terra.com.br;

Enciclopédia livre Wikipédia;

https://www.irmadulce.org.br/ – OSID

Postagem de: Antonio Novais Torres

antoniotorresbrumado@gmail.com

Brumado – Bahia, em março de 2021.

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