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1 em 100 mil

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As coisas comuns da vida me fazem feliz.

 

Quando eu acho uma vaga em frente ao prédio a que preciso ir, quando bato um papo legal com o vendedor de saco de lixo que trabalha no semáforo pelo qual passo todos os dias, quando carrego as compras de uma senhorinha até sua casa são exemplos de coisas que me deixam feliz, que me fazem acreditar que sou uma pessoa super importante e especial.

 

Dia desses recebi uma mensagem em um grupo do WhatsApp que contava a história do Vítor Fernandes.

 

Um rapaz de 18 anos, lindo por sinal, que, em março, foi fazer exames de rotina e descobriu estar com leucemia.

 

Começou o tratamento imediatamente e seu organismo não respondeu como o esperado.

 

Os médicos continuaram investigando e foi descoberto que  Vítor tem Leucemia Linfoblástica Aguda Tipo B e precisa de um transplante de medula.

 

A mensagem que recebi pedia para que eu me tornasse uma doadora de medula óssea. Quem sabe poderia ajuda-lo.

 

Lembro que compartilhei com todos os grupos dos quais faço parto e na legenda escrevi “Poderia ser um de nós”. Isso porque não conheço o rapaz, nem amigos em comum temos.

 

Encaminhei.

 

Fiz minha parte.

 

A vida é tão corrida, né?

 

Tenho minhas coisas aqui e já compartilhei.

 

Esqueci.

 

Dias atrás vi, em uma rede social, que ele fez aniversário e ainda está à espera de um doador.

 

Quando uma pessoa precisa de doação de medula óssea, os primeiros a serem “pesquisados” quanto à compatibilidade são os pais e irmãos. A chance de 100% de compatibilidade com esse grupo é de 25%.

Depois é que se parte para a busca da doação não aparentada, ou seja, de pessoas que não são da família.

 

Foi nessa fase da procura para o Vítor que eu recebi a mensagem. Afinal, a chance de encontrar a pessoa compatível em pessoas desconhecidas é de 1 em cada 100 mil pessoas.

 

1 a cada 100 mil pessoas!

 

E eu aqui moscando.

 

E se for eu essa “uma pessoa” pra ele?

 

Telefonei para o Hemocentro, agendei minha doação para o outro dia e fui.

 

Estava marcado para 15:30h. 

 

Tudo aconteceu tão simples e tão rapidamente que às 15:41 eu já estava saindo do estacionamento.

 

Agora, sou cadastrada no REDOME – Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea.

 

Posso não ser A pessoa que irá ajudar o Vítor, mas posso, um dia, ser A pessoa na vida de alguém.

 

Isso doando 10ml de sangue!

 

Olha que mágico!

 

Quando encontrarem alguém que é 100% compatível comigo, eu serei chamada para doar minha medula.

 

Moço, eu te conto quando esse dia chegar, mas, só de imaginar, já me emociono.

 

Já pensou?

 

Doar o que meu corpo fabrica sem eu nem saber como e salvar a vida de alguém?

 

Misericórdia, vou ficar feliz demais!

 

O procedimento de doação é indolor e dura cerca de 90 minutos e, em 15 dias, minha medula estará completamente refeita.

 

Já fiz o cadastro, então, não posso deixar meus dados desatualizados, preciso ser facilmente encontrada.

Agora, é só esperar, pois eu posso ser a A pessoa entre 100 mil na vida de alguém e quando esse dia chegar vou me sentir a mais feliz e importante do mundo inteiro!

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Jornal Digital Jornal Digital – Edição 744