Cento e cinco anos de idade
De uma história edificante
Numa longa trajetória
Da qual falo neste instante
Além do quanto escrevi
Cada vez mais exultante.
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Dona Hilta, a minha sogra,
Nome próprio Severina
Alves dos Santos, família
Dessa honrada nordestina
Que de Patos, Paraíba,
Jamais negou sua sina.
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Labutou a vida inteira
Com seu José Bernardino
O marido sempre alegre
Mais parecia um menino
Em qualquer dificuldade
Na constância do destino.
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Uma prole numerosa,
Oito filhos dividida
Quatro homens, quatro mulheres,
Sob a conduta mantida
Por ser a mãe dadivosa
Ao longo de toda vida.
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Hoje resta deitadinha,
Sussurrante em sua cama;
Quando se sente cansada
Pelas cuidadoras chama,
Como sempre poderosa,
Do que não gosta reclama.
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Bem cuidada e limpinha,
Gosta de ser bem vestida;
Cabelos bem penteados
Alegre, descontraída,
Lembra-se de datas e nomes,
De outras coisas, esquecida.
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Conversando com as filhas,
Aos gracejos respondendo
Sorrindo, quando lhe pedem
Ou diz que está sofrendo,
Mas sem ter uma doença
Da qual viva padecendo.
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Tem apego pela vida
E jamais deseja a morte
Apesar da sua idade
O seu senso é muito forte
Mas teme ficar sozinha
Sem ter alguém que a conforte.
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Muitas crises já viveu,
No Brasil, lá no passado,
Porém dessa pandemia,
Nada lhe foi revelado,
Rogando a Deus que a proteja
Contra esse vírus malvado.
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Até quando viverá
Essa dócil criatura?
Até quando a companhia,
Que abençoada perdura?
Dessa querida velhinha
Pela qual temos ternura.
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Quem me dera viver tanto,
Sem nada me apavorar,
Sem dar trabalho a ninguém,
Além do que possa dar
Bem do jeito que ela vive
E que merece durar.
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Parabéns, querida sogra,
Por mais um aniversário
Saúde, conforto e paz,
No resto do itinerário
Que registra cento e cinco,
Nas páginas do calendário.
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José Walter Pires
16.06.20