Condição afeta 20% da população e tem traumas emocionais como causa
Por Karina Morais
Tem hipersensibilidade intestinal e diarreia, constipação – ou até os dois intercalados -, somados a dores abdominais e cólicas? Contudo, nos testes não há nenhuma alteração, como lesão e inflamação? Talvez você faça parte dos 20% da população mundial que sofre de Síndrome do Intestino Irritável (SII), uma das mais misteriosas condições que afetam o aparelho digestivo.
Com sintomas que, geralmente, apresentam-se após as refeições, o distúrbio pode ter como gatilho eventos emocionais, físicos ou estressantes. “Por isso, recomendamos que o acompanhamento psicológico aconteça paralelamente à contenção dos sinais e desconfortos gerados pela SII. Tal medida é, inclusive, fundamental para o controle dos quadros – a atenção aos casos de depressão e ansiedade, por exemplo, é parte da solução da causa deste problema. É uma assistência multidisciplinar”, afirma Tomazo Franzini, médico endoscopista e diretor da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED).
Não é puramente emocional
O especialista explica que intestino é como um segundo cérebro e conta com mediadores e um sistema nervoso próprio. Além disso, a região do hipotálamo no cérebro é responsável, entre suas funções, pelo impulso de emoções e tem ligação direta com o sistema nervoso autônomo simpático e parassimpático, cujo principal nervo atua no tubo digestivo. É ele quem estimula a secreção de enzimas, ácidos e fatores digestivos, administrando toda a movimentação do intestino.
Há no intestino hormônios e receptores hormonais similares aos encontrados no sistema nervoso central. Ou seja, o tubo digestivo tem enervação própria e hormônios que controlam sua capacidade de secretar. Logo, constata-se direta relação entre a emoção registrada no hipotálamo e a movimentação intestinal.
Alimentação também tem papel importante
A restrição ou liberação dos alimentos é feita individualmente – os ajustes da dieta são feitos de acordo com o aparecimento ou não dos sintomas. Porém, de maneira geral, indica-se evitar aqueles que contribuem para a formação de gazes, pertencentes ao grupo de carboidratos intitulado FODMAP.
Alguns dos alimentos ricos em FODMAP são, por exemplo: repolho, cebola, cogumelos, abóbora, frutas enlatadas, manga, maça, alcachofra, derivados de leite e de trigo. Já entre os com baixo teor do carboidrato podem ser citados: melão, uva, frutas vermelhas, frutas cítricas, alface, pepino, tomate, berinjela e leites de amêndoa, de coco e de arroz.
“Ainda, em casos de constipação, é importante aumentar a quantidade de fibra ingerida. Porém, ela deve ser restrita quando há diarréia – neste caso, o foco é em aumentar o aporte de vitaminas e minerais até o intestino regularizar-se”, orienta o diretor da SOBED.
Síndrome do Intestino Irritável é uma condição crônica, mas que não evolui para problemas mais graves, como tumores. Para aliviar seus incômodos, o tratamento deve multidisciplinar e seguir a linha nutricional, medicamentosa e psiquiátrica.
Foto capa: iStock (Reprodução)