Alimentação saudável, biodiversidade, crise climática, energias renováveis e greenwashing são assuntos que devem ganhar ainda mais relevância neste ano, indica Instituto Akatu
Por: Marize Vossen
A sustentabilidade está em evidência e é uma questão cada vez mais presente e necessária em nossas vidas. Por isso, o Instituto Akatu, ONG referência em consumo consciente, destaca cinco temas desafiadores vinculados à sustentabilidade, que devem ganhar ainda mais destaque no noticiário e no debate da sociedade brasileira em 2023. Saiba quais.
Crise Climática
“Em 2023, a questão climática deve ganhar ainda mais evidência. Afinal, a cada ano que passa estamos mais distantes de limitar o aquecimento global a 1,5ºC em relação aos níveis pré-industriais, o que traria diversas consequências negativas para a vida na Terra”, alerta o coordenador de comunicação do Akatu, Felipe Seffrin.
No Brasil, o novo governo trouxe a questão climática para o nível Executivo e criou a Autoridade Nacional de Segurança Climática. No Congresso Nacional, tramita a PEC 37, que inclui a segurança climática na constituição como direito fundamental de todos. Paralelamente, a comunidade internacional debate como financiar e mitigar ações pelo clima, enquanto novos relatórios seguem dando a tônica de urgência ao tema — como o estudo recente “Another Year of Record Heat for the Oceans”, que mostra que a temperatura dos oceanos em 2022 foi a mais quente já registrada na história.
“Precisamos de ações coletivas nos meios de produção e nos hábitos de consumo para reduzir o uso de combustíveis fósseis e a degradação do meio ambiente — dois fatores que aceleram a crise climática”, comenta Felipe Seffrin.
O consumidor pode contribuir com a questão climática ao preferir empresas e marcas com ações efetivas pelo clima, ao diminuir o consumo de carne bovina e ao fazer uso consciente de água, energia elétrica, embalagens e alimentos. Já as empresas podem fazer o mapeamento de suas cadeias de valor, estimulando soluções sustentáveis, como programas de redução de emissões de CO2, gestão adequada de resíduos e uso de matérias-primas sustentáveis.
Biodiversidade
Uma das consequências da crise climática é a ameaça à biodiversidade, outro tema frequente no noticiário e nos estudos científicos, e que deve ganhar mais atenção da população mundial e das organizações em 2023.
Por um lado, são recorrentes as notícias negativas, como recordes de queimadas e desmatamentos nos biomas brasileiros, desaparecimento de polinizadores, danos aos corais, além de um aumento das listas de animais e vegetais em riscos de extinção.
“Paralelamente, a ameaça à biodiversidade tem motivado o financiamento e a busca por novas soluções para um desenvolvimento mais sustentável, que respeite, preserve e, mais que isso, restaure a natureza”, afirma o coordenador do Akatu.
Pesquisas e ações em biodiversidade incluem o mapeamento de regiões e espécies por satélite, gestões sustentáveis de matérias-primas e o apoio e fortalecimento de comunidades indígenas, quilombolas, extrativistas e ribeirinhas, que preservam 80% da biodiversidade do planeta de acordo com dados das Nações Unidas.
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Energias Renováveis
A temática das energias renováveis também está conectada à questão climática. Afinal, para mitigar o aquecimento global é necessário diminuir urgente e drasticamente a queima de combustíveis fósseis que liberam gases de efeito estufa. E isso passa por diferentes soluções energéticas, como a solar, a eólica e a gerada a partir de biomassa, entre outras.
Internacionalmente, governos têm criado planos de estímulos às energias renováveis, enquanto bancos e investidores têm dado preferência a “carteiras verdes”. “Com a policrise global fazendo os preços dos combustíveis dispararem, fontes de energia gratuitas, locais e verdes tornaram-se um investimento sólido”, aponta a agência WGSN, em novo relatório que inclui a “revolução da energia solar” como uma das tendências para 2023.
A continuidade da guerra na Ucrânia ampliou esse debate. Sem acesso ao gás proveniente da Rússia, os países europeus precisam acelerar a transição para novas fontes de energia para evitar um apagão. No Brasil, o tema também tem ganhado mais adesão por parte das empresas, ainda que o acesso do consumidor a fontes de energia renovável esteja distante — soma-se a isso nossas redes de transporte, que priorizam veículos e combustíveis não-renováveis.
Greenwashing
A Pesquisa Vida Saudável e Sustentável 2022, realizada pelo Akatu e GlobeScan, mostrou que 84% dos brasileiros querem reduzir seu impacto individual sobre o meio ambiente e a natureza. Nesse cenário, é crescente a busca por informações sobre os impactos gerados por produtos e serviços enquanto as empresas estão sendo cada vez mais observadas e cobradas. Isso tem ampliado o debate público sobre o greenwashing, espécie de propaganda ambiental enganosa ou omissão de informações relacionadas à sustentabilidade.
O relatório anual Global Investor Survey 2022, da PwC, aponta que não só os consumidores estão de olho e avaliando o que as empresas dizem, mas os investidores também. Segundo o estudo, 91% dos investidores brasileiros acreditam que os relatórios das companhias podem ter greenwashing. Ou seja, todos precisam ficar atentos ao real comprometimento das empresas e organizações em relação às questões ambientais. Elas, por sua vez, têm de investir em uma comunicação concreta e transparente, que informe com clareza ações e impactos nos campos social e ambiental.
Alimentação Saudável e Sustentável
O desejo de uma rotina mais saudável e sustentável foi acelerado pela pandemia e veio para ficar. A demanda e a oferta de alimentos saudáveis e sustentáveis, produzidos com respeito ao meio ambiente tem sido cada vez maior. Ao mesmo tempo, o Brasil ainda tem vários obstáculos para superar, como o desperdício de alimentos, a prática de desmatar ou queimar para abrir novas pastagens e o uso exagerado de agrotóxicos. A utilização excessiva de recursos hídricos na agropecuária é outra questão global: 70% das águas removidas para uso são consumidas na produção de alimentos.
Para uma alimentação mais saudável e sustentável, o Instituto Akatu recomenda os seguintes hábitos de consumo consciente:
- Compre só o necessário, evitando excessos e desperdícios;
- Utilize os alimentos integralmente, incluindo cascas, talos e sementes;
- Prefira alimentos da estação e produzidos localmente;
- Equilibre o consumo de alimentos in natura e processados;
- Diminua o consumo de carne bovina;
- Dê preferência, sempre que possível, para alimentos orgânicos.
Quer saber mais sobre sustentabilidade e consumo consciente? Acesse aqui.
Sobre o Instituto Akatu
Criado em 15 de março de 2001, o Instituto Akatu é uma organização não governamental sem fins lucrativos que trabalha pela conscientização e mobilização da sociedade para um novo jeito de viver com consumo consciente e mais bem-estar para todos. As atividades do Instituto estão focadas na mudança de comportamento do consumidor em duas frentes de atuação: Educação e Comunicação, com o desenvolvimento de campanhas, conteúdos e metodologias, pesquisas, jogos e eventos. O Akatu também atua junto a empresas que buscam caminhos para a nova economia, ajudando a identificar oportunidades que levem a novos modelos de produção e consumo — modelos que respeitem o ambiente e o bem-estar, sem deixar de lado a prosperidade. Confira.