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57% dos brasileiros veem a IA como a chave para um futuro positivo

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43% das empresas planejam expandir a IA para prever cenários e avaliar

riscos

por  Federico Cerutti federico.cerutti@elmejortrato.com

A inteligência artificial (IA) deixou de ser uma tecnologia futurista para se tornar uma ferramenta fundamental em vários setores. Globalmente, sua adoção está em ascensão, transformando os setores, automatizando processos e permitindo análises de dados mais precisas e complexas. Esse avanço ultrapassa fronteiras, chegando a empresas e residências, e se apresenta como uma solução inovadora que melhora a eficiência das atividades cotidianas. No entanto, embora prometa enormes benefícios, sua implementação ainda apresenta alguns desafios, especialmente nos países em desenvolvimento.

Entre os principais benefícios está sua capacidade de otimizar processos e reduzir custos operacionais. Empresas de setores como bancos, varejo, saúde e marketing adotaram a IA para melhorar o atendimento ao cliente, prever comportamentos e personalizar produtos e serviços. Além disso, a IA generativa – um ramo dessa tecnologia que se concentra na criação de novos conteúdos – tem novas oportunidades, permitindo o desenvolvimento de ferramentas avançadas para melhorar a produtividade e a criatividade.

Na América Latina, essa tecnologia está avançando em um ritmo mais lento em comparação com outras regiões, embora existam alguns países que se destacam em seu uso. O Chile, o Brasil e o Uruguai fizeram progressos significativos, de acordo com o Índice Latino-Americano de Inteligência Artificial (ILIA) apresentado em 2024 pelo Centro Nacional de Inteligência Artificial do Chile (CENIA) e pela CEPAL. Essa análise avalia a preparação dos países em termos de infraestrutura, desenvolvimento de talentos e adoção de IA, com o Chile liderando o caminho com 73,07 pontos, seguido pelo Brasil com 69,30 pontos. A região mostra, em média, um aumento na concentração de talentos em IA, embora ainda esteja longe dos níveis dos países do norte global.

O Brasil, em particular, está entre os pioneiros da América Latina no uso dessa ferramenta, ocupando a 11ª posição na adoção global de IA generativa. No entanto, um estudo recente patrocinado pelo SAS revela que o país ainda enfrenta vários desafios para consolidar sua implementação.

Em nível empresarial, apenas 46% das empresas brasileiras estão usando ou implementando a IA generativa, abaixo da média global de 54%. Esse estudo, realizado pela Coleman Parkes com 1.600 executivos em 21 países, indica que, embora haja entusiasmo no Brasil, o uso prático da IA generativa continua limitado: menos da metade das empresas que adotam a tecnologia tem um caso de uso concreto.

Nesse contexto, a falta de experiência interna em IA é o principal obstáculo enfrentado pelo Brasil, citado por 51% das empresas pesquisadas, em comparação com 39% globalmente. Isso se reflete em uma escassez de talentos especializados, o que limita o potencial das organizações de maximizar o retorno de seus investimentos em IA. Além disso, muitos líderes empresariais no Brasil relatam não ter um conhecimento profundo da IA generativa, com 46% dizendo que têm um “conhecimento moderado” da tecnologia.

Apesar das barreiras, a maioria das organizações do país que implementaram a IA observou melhorias significativas na experiência dos funcionários e dos clientes. De acordo com o relatório, 93% das empresas relataram um aumento na satisfação dos funcionários, enquanto 87% observaram uma redução nos custos operacionais. Além disso, 76% das empresas afirmam que a retenção de clientes melhorou, um indicador de que a IA está ajudando a criar relacionamentos mais fortes e personalizados com seus clientes.

Na mesma linha, as organizações no Brasil esperam que a IA generativa seja um catalisador importante para a inovação e a precisão analítica, com 57% vendo essa tecnologia como fundamental para atingir esses objetivos. Entre as áreas prioritárias para implementação, a personalização da experiência do cliente é posicionada como um dos principais objetivos. No entanto, as expectativas de redução de custos operacionais não são tão altas no Brasil, com apenas 39% dos entrevistados acreditando que a IA generativa terá um impacto direto nesse aspecto.

Em termos de investimento, o estudo indica que a maioria das empresas brasileiras que já adotaram a IA planeja continuar investindo nessa tecnologia em um futuro próximo. Para 2025, 100% das empresas que já têm IA implementada e 97% das que estão em processo reservaram orçamento para o desenvolvimento dessa tecnologia. De fato, elas planejam começar a aplicá-la em departamentos específicos ou por meio de projetos-piloto, sendo que marketing, serviços de campo e vendas são as áreas de maior interesse.

Enquanto isso, um estudo da Deloitte apresenta um número um pouco mais animador, observando que a adoção da IA ganhou terreno entre as empresas brasileiras, com 58% delas incorporando-a ativamente em suas operações diárias. Essa análise, que incluiu entrevistas com executivos seniores de 411 empresas com receitas combinadas de R$ 2 trilhões, mostrou que a maioria das empresas está determinada a expandir seu uso para novas áreas.

De acordo com o relatório, 44% das empresas usam atualmente a IA para otimizar os processos administrativos, enquanto 43% a aplicam à tomada de decisões e 39% ao suporte e atendimento ao cliente. As áreas de tecnologia também avançaram significativamente: 32% a utilizam para análise de big data e a mesma porcentagem a utiliza no desenvolvimento de software.

Entre as empresas que planejam expandir seu uso, 43% planejam usá-lo para previsão de cenários e avaliação de riscos, enquanto 46% o usarão para modelagem de viabilidade de novos produtos. Nesses casos, algumas empresas estão recorrendo a empréstimos pessoais e comerciais para acelerar sua transição tecnológica e alavancar essas áreas estratégicas. É importante ressaltar que os setores de tecnologia e finanças estão na vanguarda, com 20% das empresas já incorporando IA em seus produtos, outros 12% em testes e 52% com planos de implementá-la em seus serviços.

Quando se trata da percepção dos cidadãos brasileiros sobre essa ferramenta, as respostas são variadas. Uma pesquisa da Opinion Box mostra que 90% dos entrevistados afirmam conhecer a IA, embora 68% tenham apenas conhecimento básico. Quanto ao seu uso, 36% dos entrevistados a utilizam diariamente em tarefas pessoais, como organização, aprendizado ou criação de conteúdo. Os brasileiros destacam a comunicação, o entretenimento e os serviços financeiros como as áreas que mais se beneficiaram com a IA, embora também expressem preocupação com a privacidade dos dados e o possível impacto no emprego.

De modo geral, os brasileiros veem a inteligência artificial de forma positiva, com 57% acreditando que seu impacto no futuro será positivo ou muito positivo. Mesmo assim, há receios quanto à perda de empregos e à privacidade dos dados, que foram identificados como as principais preocupações. Outro aspecto a ser considerado é a regulamentação dessa tecnologia para garantir seu uso ético e seguro.

Iniciativas relacionadas à IA

O Brasil embarcou em um caminho ambicioso para o fortalecimento da Inteligência Artificial (IA) com o lançamento, em agosto de 2024, do Plano Nacional de Inteligência Artificial. Essa iniciativa, liderada pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), destinará R$ 23 bilhões (aproximadamente US$ 81 bilhões) nos próximos quatro anos para a aquisição de tecnologia avançada, como um supercomputador de última geração, e para fomentar a pesquisa em IA.

O plano visa construir um ecossistema robusto que promova o desenvolvimento e a aplicação da IA em setores-chave da economia. A ministra do MCTI, Luciana Santos, disse que a estratégia representa um marco crucial para o Brasil: “Este é um momento crucial para o Brasil. Estamos lançando as bases para uma revolução digital que transformará nossa indústria, nossos serviços e a vida de nossos cidadãos”.

Apesar desse desafio, o país se destaca no contexto latino-americano e, surpreendentemente, supera alguns países europeus no investimento em IA

como proporção do PIB, ficando à frente da França, de acordo com um relatório recente da OCDE. Isso ressalta o potencial da nação para se tornar uma referência em inovação tecnológica na região e, eventualmente, no mundo.

É importante ressaltar que o país também intensificou sua integração no cenário global de IA por meio de sua participação em iniciativas como o plano do G20, que canalizará um investimento de US$ 4 bilhões para promover a IA nos países membros. Essa colaboração internacional permite que o país tenha acesso a recursos adicionais e se beneficie da troca de conhecimentos e práticas com outras nações.

O rápido avanço da IA, no entanto, levanta questões éticas e regulatórias urgentes. Em resposta, o Senado brasileiro está debatendo uma legislação abrangente para regulamentar a IA estabelecendo diretrizes que abordam questões de privacidade, responsabilidade algorítmica e proteção contra preconceitos.

Por outro lado, um dos principais desafios que o Brasil enfrenta nesse caminho é a escassez de talentos especializados em IA. Para aliviar essa situação, as universidades estão reformulando seus programas acadêmicos para incluir cursos de inteligência artificial e aprendizado de máquina, promovendo uma nova geração de profissionais para apoiar essa transformação.

Fotos: Gráficos/Divulgação

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