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Um desastre histórico!

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Em fevereiro de 1977 estava em pleno vigor o AI-5. Na Câmara de Vereadores de Porto Alegre iniciava uma nova legislatura com a posse dos eleitos em 1976. Na abertura da 1ª sessão, o vereador Glênio Peres, líder do MDB, subiu à tribuna e proferiu um discurso com contundentes críticas ao governo federal. Foi cassado pelo presidente Geisel. Logo após a cassação, outro vereador repetiu a cena e o discurso, conclamando os colegas a que fizessem idêntico protesto. Também foi cassado e, é claro, cessaram as críticas ao regime.

Se concordo com esses métodos de dissuasão? Não, claro que não. Lembrei-me deles ao tomar conhecimento do que aconteceu com o Dr. Marcos Cintra após publicar uma nota em sua conta do Twitter – a mesma plataforma, aliás, em que o ministro Alexandre de Moraes divulga com total liberdade suas próprias opiniões.

O Dr. Marcos Cintra não é terrorista nem criminoso. Para quem não o
conhece, ele tem quatro títulos de nível superior em Economia, obtidos em Harvard, do bacharelado ao doutorado. Foi deputado federal, vereador em São Paulo, Secretário de Ciência e Tecnologia em SP, presidente da Finep, Secretário Especial da Receita Federal. Há 25 anos é vice-presidente da FGV. Tem várias obras escritas sobre Economia.

Li na CNN a nota que ele divulgou no Twitter. O que escreveu é irretocável e reflete, com honestidade, o mesmo déficit de informação comum a todos os eleitores brasileiros sobre a eleição de 2022. Uns se bastam com o que lhes é contado. Outros, porque não impedem o cérebro de pensar, querem perguntar e saber mais, fazem ilações e suas mentes operam mesmo com o pouco que lhes é dado saber. A curiosidade, porém, rendeu-lhe um bate-papo com a Polícia Federal e a suspensão de seu perfil por ordem do ministro Alexandre de Moraes.

Eu pretendia transcrever aqui a nota do Dr. Cintra para corroborar o que estou a dizer. Lembrei-me, porém, dos dois vereadores do MDB de Porto Alegre em 1977…

Vivemos um desastre histórico! Passados 47 anos, observo a liberdade de expressão e opinião sujeita a práticas semelhantes àquela. Vejo censura, repressão, ataques a prerrogativas de parlamentares, medidas restritivas de direitos e garantias individuais.

Proponho duas indagações:

1 – Quem criticava a supressão de liberdades que vigeu quando os presidentes eram militares pode agir de modo análogo quando exerce o poder civil?

2 – Se nos é possível interrogar a Deus, discordar de suas palavras, negá-lo e, até mesmo, agir contra ele, com que lente de aumento se veem pessoas que se conduzem como temos visto acontecer entre nós?

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