Em editorial de ontem (28/11), com o título “Ofensiva política contra o Judiciário), o Estadão atacou CPI do abuso de autoridade. Abriu o texto com as seguintes palavras: “Um sintoma da atual crise brasileira é a irresponsabilidade. Gente com cargo público, que se comprometeu a respeitar a Constituição, tem atuado como se o único critério a pautar sua atuação fosse agradar a seu eleitorado. Para essa turma, não há separação de Poderes, não há limite constitucional. Para insuflar os apoiadores, vale até achacar o Judiciário.”
Se você, leitor, prestar atenção ao vocabulário utilizado pelo editorialista, certamente há de identificar nele o modo alexandrino de menosprezar a divergência: “ofensiva política”, “irresponsabilidade”, “gente”, “turma”, “insuflar”, “achacar”. Para usar um lugar comum de origem freudiano, são vocábulos que falam muito mais de quem ataca do que daqueles a quem se dirige o ataque.
O editorialista cumpriu sua tarefa. Defendeu aqueles que, nessa configuração do STF. violam a Constituição, restringem liberdades essenciais dos cidadãos, alarmam uma população habituada ao democrático convívio com a liberdade de expressão, reintroduzem a censura e a ameaça nas relações entre o estado e a sociedade. Sua crítica voltou-se ao autor do pedido da CPI, deputado Marcel van Hattem e aos 190 deputados federais que já subscrevem a iniciativa. Quanto a passividade do Congresso tem sido conveniente a quem defende um projeto autoritário! Nele, a liberdade de expressão há de ser distribuída pelo grande irmão orwelliano como prêmio por boa conduta.
A cegueira ideológica que acometeu os veículos do consórcio não lhes permite perceber que, ao acalentar a tirania e seus malfeitos, mantêm nas ruas em todo o país quem não quer viver na servidão. São pessoas que percebem e não aceitam a inversão que vem impondo a primazia do Estado sobre a sociedade. Elas sabem que o Estado e seus aparelhos existem para servi-las e não para a elas se sobreporem restringindo-lhes liberdades fundamentais.
O obsessivo ativismo e a militância político-ideológica do STF já foram denunciados reiteradas vezes por inúmeros juristas. Um poder de estado exercido com ira repressiva encontrará resistência em povos livres. Como recorrer de sanções se os recursos serão julgados pelos que sancionaram? Triste papel o do jornalismo que convalida a tirania e o abuso.
Foi nessa arapuca que o Brasil travou.