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E se a ficção virasse realidade e um fungo nos tornasse zombies?

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Por: Isabella Dias 

Recentemente, a plataforma de streaming HBO Max estreou a série “The Last of Us” baseada na franquia de jogos eletrónicos criada por Neil Druckmann. O grande sucesso do primeiro episódio tomou conta dos noticiários ao longo da semana, tendo mesmo superado a audiência da estreia da série “House of the Dragon” e da segunda temporada de “Euphoria” na América Latina.

O primeiro episódio já começa com uma cena, ambientada em 1968, em que dois epidemiologistas são entrevistados sobre a possibilidade de novas epidemias, sendo que um acredita em um vírus, e o outro em um fungo como agente causador da próxima. Na série, o Cordyceps é o fungo responsável por controlar a mente dos seres humanos. Mas, na vida real, esse fungo existe…

Para comentar este tema nada melhor do que duas pessoas que, neste preciso momento se dedicam ao estudo do tema que sairá brevemente num estudo científico. Dr. Fabiano de Abreu Agrela é neurocientista e biólogo e Dalila G Suterio é bióloga e mestre em infectologia.

Como elucida Dalila, “existem mais de 600 espécies já descritas que infectam insetos e outros artrópodes, como escorpiões e aranhas, transformando-os em “zumbis”. Estes fungos são capazes de controlar as funções motoras para a sua propagação, através de alterações no comportamento do seu hospedeiro. A infeção em humanos, como retratada na série, seria improvável e seriam necessárias grandes alterações e alguns milhões de anos. Mas não é impossível!”.

Os dois pesquisadores alertam que infeções por fungos matam 1,7 milhão de pessoas todos os anos em todo o mundo e que eles evoluem rapidamente e viram infecções mais difíceis de serem tratadas.
“Apesar de não existirem evidências de que estamos próximos do cenário retratado na série, a humanidade está a criar condições perfeitas para conduzir e selecionar fungos capazes de se desenvolverem em temperaturas elevadas e cada vez mais resistentes. Devido ao aquecimento global e o uso de fungicidas na agricultura, pode-se acelerar alguns anos de evolução e direcionar a seleção de características que nos deixa mais susceptíveis a infecções.”, alerta Dalila.

Mas até que ponto a presença de fungos no Sistema Nervoso Central pode nos tornar verdadeiros “zumbis”?

Fabiano de Abreu esclarece-nos que “Os corpos podem se tornar uma extensão do próprio fenótipo do fungo já que o fungo é conhecido por secretar metabólitos específicos no tecido e causar alterações na expressão gênica, o que resulta no comportamento alterado do hospedeiro. As células fúngicas estão conectadas e formam uma rede para controlar o comportamento do hospedeiro coletivamente. Até então, como exemplo das formigas zumbis, as células fúngicas controlam o sistema nervoso periférico, preservando o cérebro para a sobrevivência do animal enquanto o fungo projeta o objetivo final que é se propagar. No primeiro episódio da série vemos que a forma de propagação é através da mordida.”

Falando mais especificamente em como a neurociência e a neuroanatomia nos podem ajudar a compreender a questão, o neurocientista explica-nos que “Os cérebros das formigas manipuladas apresentam alterações em substâncias neuromoduladoras, sinais de neurodegeneração, alterações no uso de energia e compostos antioxidantes que sinalizam reações de estresse por parte do hospedeiro. Mas estou falando em formiga, para humanos é mais improvável que tal fungo possa nos transformar em zumbis, devido a diferenças entre a biologia humana e a dos insetos.Eu penso que o improvável não é impossível…”.

Em jeito de conclusão Abreu alerta ainda que, “Abre-se a possibilidade, mesmo que remota, mas dificilmente de uma pandemia já que poderia, facilmente, o fungo perder o poder de controle da mente no processo.”
Foto de Capa: Divulgação

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