Com população bancarizada, segmento tem a oportunidade de atingir grande mercado potencial, mas riscos de fraude podem crescer proporcionalmente
Por: Nethone
O projeto-piloto do Real Digital já começou a rodar. Na última segunda (06), o Banco Central do Brasil apresentou as diretrizes que vão nortear o desenvolvimento da moeda digital até sua implementação para a população, prevista para acontecer integralmente até o final de 2024, ainda sem uma data definida.
Por ser uma CDBC (Central Bank Digital Currency, ou moeda digital do Banco Central), o Real Digital conta com toda a regulamentação por parte do BC e emissão centralizada, o que o diferencia das criptomoedas, e se mostra um meio para incluir a população ainda desbancarizada, visto que permite a realização de transações de maneira offline e sem a necessidade do indivíduo ter uma conta em alguma instituição financeira, já que a moeda estará presente em uma carteira digital, ou wallet. “Ainda há muita incerteza sobre o que a implementação deste novo formato do real pode significar para a economia brasileira. Milhões de pessoas no país ainda não têm acesso à internet nem contas em instituições financeiras e, quando o Real Digital começar a ter adesão das pessoas, essa população pode se tornar bancarizada, o que implica em um grande avanço para a economia do país. Porém, é importante se atentar aos riscos: um novo formato de moeda também pode resultar em novas formas de golpes e fraudes”, explica Thiago Bertacchini, Senior Business Development da Nethone, empresa SaaS de prevenção de fraudes que tem parceria com grandes empresas do Brasil como Grupo Boticário, BlaBlaCar, Farfetch e Azul Linhas Aéreas.
Essa bancarização potencial pode ser vista através dos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em que 28,2 milhões de pessoas não têm acesso à internet, e aproximadamente 38,5% da população não possui conta em instituições financeiras e não conta com um cartão de crédito e débito, segundo levantamento da Brink’s em parceria com a Fundação Dom Cabral.
Setor varejista como principal beneficiário
Uma das diretrizes previstas para compor a regulamentação do Real Digital no país é dar suporte à oferta de serviços financeiros de varejo, tornando a moeda um meio para aumentar o número de pessoas atendidas pelos serviços e criar um ambiente seguro para a realização de transações, visto que o BC apresentou informações e regras definidas para a composição da moeda, que também poderá ser emitida por instituições financeiras respaldadas pela autarquia federal. “Não é o fim dos bancos, mas uma revolução do sistema financeiro no Brasil. Eles ainda terão forte papel de intermediadores entre estabelecimentos e consumidores, mas com um grau bem maior de responsabilidade caso tratem da emissão da moeda ‘dentro de casa’”, conta Thiago.
Isso vai ajudar a dar mais ênfase em soluções que atendam o mercado potencial que não está sendo observado por conta das limitações de acesso à internet e presença de contas em bancos. “O BC conta com um profundo entendimento e histórico de aceitação à implementação de novas tecnologias pelas instituições financeiras para promover a inovação na esfera econômica. Para o setor varejista, o Real Digital pode ser um divisor de águas para as empresas que querem criar mecanismos de expansão da base de clientes e o fortalecimento das relações. Com a programabilidade da moeda, programas de fidelidade, cashback e outros benefícios podem ganhar escala”, explica Bertacchini.
Os novos limites de prevenção a fraudes no varejo
Todos os dias são reconhecidos novos tipos de fraude no contexto brasileiro e, com a implementação do Real Digital, além de ser papel do BC e instituições financeiras fornecer informações sobre o que é a moeda e o seu funcionamento, cabe aos varejistas fazer uma imersão no significado dessa mudança na economia do país e em seus próprios negócios para educar os consumidores nesse sentido. “Os fraudadores não descansam. Como parte da população brasileira é desbancarizada e não tem os recursos para entender sobre essa mudança, as empresas e o governo devem ser incansáveis em sanar as dúvidas e realizar um trabalho preditivo para impedir que o número de fraudes no país seja amplificado”, pontua o executivo.
Thiago explica ainda que isso pode ser realizado, por exemplo, através de parcerias entre setor público e privado, e a incorporação de soluções por parte dos bancos para trazer essa análise do cenário de prevenção de fraudes. “Infelizmente, a realidade é esta: com mais pessoas tendo acesso às novas tecnologias, mais golpistas estarão à espreita para tentar se aproveitar dos vulneráveis”, finaliza.