O governador da Bahia, Rui Costa, entregou, sob vaias e protestos, na manhã desta segunda-feira (22) em Vitória da Conquista a Unidade de Pronto Atendimento\UPA. Coincidentemente ou não, a obra – cuja ordem de serviço foi assinada em plena eleição municipal de 2012 – foi inaugurada dentro de um novo processo eleitoral municipal. Para recepcionar o governador, a Avenida Filipinas, onde está localizada a UPA, recebeu tratamento vip: o meio-fio foi pintado com uma cal forte e – coisa que não se via faz tempo – o canteiro central ganhou um ‘tapa’ no visual.
Prática corriqueira nos governos carlistas, a inauguração de obras dentro de períodos eleitorais sempre despertou intenso debate, antes capitaneado pelo Partido dos Trabalhadores. Como era de se esperar, com o PT no governo e ao centro, o discurso mudou de mãos (ou de bocas): agora são os partidos de esquerda, como PSOL, e de direita, como o DEM, que capitalizam com o modus operandi carlista assumido pelos governos petistas. A entrega da UPA, marcada por protestos de diversas categorias, não chegou a constranger o governador, mas abalou bastante sua festa.
Candidato a prefeito pelo PSDB, o vereador Arlindo Rebouças afirmou que a entrega do equipamento dentro do processo eleitoral demonstra falta de respeito do governo com a população. “Em primeiro lugar, foram prometidas três UPAs para a população de Vitória da Conquista e fizeram apenas uma. Além disso, aquilo vai servir como um puxadinho do Hospital de Base. Uma UPA deveria estar em local que desse alternativa de atendimento para a população, como no bairro Ibirapuera ou bairro Brasil. Não dentro de um hospital. E por fim, a entrega da UPA nesse período eleitoral é uma declaração de falta de respeito à população conquistense”.
Roberto Dias, candidato a prefeito pelo PDT, afirmou que, apesar de não constituir uma ilegalidade, “inaugurações de obra pública no período eleitoral, moralmente falando, é uma forma indireta de divulgação em favor do candidato que tenha vinculo com o realizador da mesma, neste caso, o governo do PT. Estamos falando de uma obra custeada com recursos públicos e que por qualquer coincidência tenha sido reservada para entrega no período de campanha eleitoral”. Ainda segundo Roberto Dias, “constitui uma ação costumeira, que compõe a prática de uma política criticada pela conjuntura do próprio PT em relação ao antigo carlismo, onde se prevalecia da máquina administrativa e de infraestrutura para a garantia de votos em seus currais eleitorais”. E conclui: “Pode não ser ilegal, mas é no mínimo antiético, imoral e por isso sou totalmente avesso a este tipo de conduta”.
Caio Coelho, da Rede Sustentabilidade, candidato a vice-prefeito na chapa liderada por Enoque Matos, do PSOL, faz uma leitura crítica do comportamento do governo. Em sua visão, “existem bandeiras que vão além das convicções partidárias”, e que “a defesa de uma vida digna e do acesso a uma saúde pública de qualidade são duas delas”. Para ele, o município de Vitória da Conquista, por sua condição de cidade polo na prestação dos serviços públicos no campo da saúde, carece de equipamentos e equipes técnicas para cumprirem as demandas crescentes.
“Logo temos sim que defender a construção desses equipamentos pensando desde a sua instauração até a manutenção. É estarrecedor pensar que muitos destes tem sido objetos de barganhas eleitoreiras acompanhadas de tamanha insensibilidade frente as demandas existentes. Por isso a necessidade de redobrarmos a atenção para que não sejamos cúmplices destas velhas práticas. Precisamos pensar em mudanças estruturais – a curto, médio e longo prazo – para que o caos na saúde pública deixe de ser objeto de barganhas e ingerência”.
Enoque Matos, candidato a prefeito de Vitória da Conquista pelo PSOL, também rechaçou a prática e afirmou que num eventual governo seu obras públicas jamais seriam utilizadas como objeto de barganha eleitoral. “Uma obra que durou quatro anos e vai ser entregue exatamente em período eleitoral, são coisas que cabem ao MP e à própria Justiça Eleitoral (investigar). É inconcebível que aconteçam coisas tão escancaradas e que as autoridades não façam nada. A obra é necessária, não só esta, mas tantas outras. O grande problema é que esta prática condenável é de várias gestões e foram aperfeiçoadas pelos que faziam críticas a este modelo de fazer política. Fica aí o desafio, inclusive, para aqueles que vão participar do processo eleitoral que se trata de uma prática a ser abolida. O que tem que ser feito deve acontecer independente de qual sigla partidária, qual governo, ou de quem vai se beneficiar. Me incluo também nesse processo e, caso assuma a administração municipal, vou rechaçar qualquer prática de tentar tirar proveito de qualquer serviço que é de fundamental importância para a sociedade”.