Coletânea de quatro contos expõe visão de geólogo marxista crítico da mineração pela simples usurpação da Natureza e aproveitamento do capital pronto
Por: Julya de Oliveira/ Agência LC
O livro O fetiche do ouro e a pedra milagrosa na filosofia caipira apresenta uma versão acurada do professor Everaldo Gonçalves sobre o garimpo de ouro no Brasil. Em seus contos, o materialista resgata a história do mineral desde o século XVIII, o extrativismo nas Minas Gerais, até os dias atuais, de garimpo criminoso na Amazônia.
Ex-professor da USP e da UFMG, ele mergulha em suas lembranças de menino na localidade paulista onde nasceu, Iracemápolis, em 1944. Da região em que havia única indústria de cana-de-açúcar, a Usina Iracema, o autor traz o “dialeto caipira”, o “caipirês”, falado pelos antigos habitantes do então distrito de Limeira.
Nestes textos há um pouco da vida do experiente profissional e de sua caminhada, por boa parte do território nacional e alguns países, pois “a Geologia entra pelos pés e daquilo que eu vi já posso contar”, comenta o autor, que escreveu os contos ao longo da vida adulta.
Ateu convicto e materialista por formação científica, o geólogo entrega em “O Conto do Vigário dos Sinos”; “Garimpeiro Maluco”; “A Pedra de Drummond”; e “A Pedra Milagrosa na Filosofia Caipira” um relicário de preciosidades econômicas, históricas, sociais e linguísticas.
As sonhadas esmeraldas do “caçador” Fernão Dias são
um mistério semelhante aos ligados às outras pedras que seriam
aqui descobertas e produzidas. As lavras de pedra gema em geral são desorganizadas, na forma de garimpos, que segundo os que se
dedicam a essa vida de ilusão de tirar o que não guardou:
o garimpo dá e tira, pois traz de volta, na mesma cava ou em outra, quando não a de sepultura, o dinheiro ganho na facilidade.
(O fetiche do ouro e a pedra milagrosa na filosofia caipira, p. 66)
Nas pegadas de Amadeu Amaral de O Dialeto Caipira, Everaldo Gonçalves estende a exploração linguística ao apresentar um glossário caipirês de A a Z. “Amarrá”, “coroner”, “andá”, “trabaiá” se intercalam com explicações sobre quem é Aristóteles, Charles Darwin ou Karl Marx, entre tantas definições que esclarecem o conto final.
O jornalista João Teixeira comentou bem e resumiu o livro O fetiche do ouro e a pedra milagrosa na filosofia caipira, “Everaldo Gonçalves chega maduro à literatura cabocla carregando pepitas literárias”. Uma verdadeira joia rara para geólogos, estudantes, economistas, sociólogos, filósofos, linguistas ou, apenas, amantes de uma boa leitura crítica da sociedade capitalista.