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Curandeirismo

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O Curandeirismo é uma arte ou técnica na qual os praticantes afirmam ter o poder de curar

recorrendo a forças misteriosas de que pretensamente dizem ser  dotados do  poder divino,  dos   espíritos de luz, e outras entidades que lhes servem de guia orientador.

O ato de rezar e benzer e curar são praticados por mulheres e homens.  São procurados para alívio e cura das doenças que os afligem. Utilizam de seus conhecimentos e de rezas que têm os poderes e o objetivo de restabelecer o equilíbrio físico e espiritual das pessoas que buscam ajuda para o tratamento de seus males quer físicos ou espirituais.

 Para seus rituais utilizam, ramos verdes,  velas , copo com água, e outros objetos,  também  plantas medicinais  para chás,  tais como arruda, guiné, alecrim, capim santo. fazem gestos em cruz com a mão direita, terço na mão esquerda e rezas incompreensíveis, por falarem muito baixo, balbuciando as palavras.

 O exercício desse ofício, dizem ser um dom e não sabem explicar como esses acontecimentos começaram.  Alguns dizem que aprenderam o ofício com pessoas mais velhas da família que detinha esses conhecimentos. A maioria é de pessoas incultas e seus atos intuem que recebem do além poderes para as curas.

Segundo o cordelista Romildo Alves que viveu muito tempo em fazenda, tem conhecimento dos costumes sertanejos e, em uma de suas estrofes do cordel Sertanejando diz: “O ancião rezador/Atende em qualquer lugar:/ Raízes, cascas e folhas/Nunca pode faltar. / Garrafadas, banhos, chás/E até mesmo patuás/Estão no seu receitar.”.

  Uma praticante das mais antigas de Brumado, disse-me  ter recebido a missão e o dom de curar pela revelação do Espírito Divino.  “Atendo as pessoas sem qualquer discriminação de credo ou religião, porquanto o bem não se escolhe a quem oferecer. Eu não curo ninguém, é Deus e a fé da pessoa, que por meu intermédio, é curada do mal espiritual ou físico que o acomete”.

 São vistos pelos seus consulentes,  como agentes religiosos das seitas que praticam, é comum ouvir dessas pessoas que são instrumento da força espiritual de Deus e  Jesus, dos santos, caboclos  e os orixás, e que as pessoas são curadas pela fé.  Se a pessoa que vai procurar a cura da sua enfermidade não crer e não tiver fé, não vai obter êxitos.  A fé e a crença são de suma importância para esse procedimento.  Através dela é que os indivíduos têm a esperança de alcançar o benefício da cura.

Uma delas afirmou: “doutor nenhum dá jeito a olhado e quebranto.  O mal atinge tanto humanos como animais. Quem dá jeito é a reza de Deus por nosso intermédio.  Olhado é uma doença que debilita geralmente a criança, se não procurarem quem reze pode até morrer. As crianças que são vítimas dessas enfermidades, as benzeduras os reanimam”.

Geralmente, os sintomas do mau-olhado e do quebranto constituem de  uma energia negativa: sonolência, preguiça, febre, diarreia, dor no corpo, abrição de boca, inapetência e falta de ânimo.  Para curar a doença é necessário repetir o ritual por três vezes, cada uma, seguida de um Pai-nosso, uma Ave-maria e uma oração Glória ao pai. Para tanto, é fundamental que se faça o tratamento durante três dias seguidos.

Uma benzedeira entrevistada afirmou: “Meu filho, eu não curo! A gente reza a oração e oferece a Jesus. Quem cura é Jesus, nós, somos o intermediário dessa vontade”.

Os  curadores e  benzedeiros, afirmam: não se é curador, rezador ou benzedor por querer ser, não é qualquer pessoa que detém esse poder.  Não basta apenas rezar, é preciso ter consciência de que se está a serviço de Deus e possuir o dom divino inexplicável da cura. 

A origem do curandeirismo e das curas são muito antigas. No Brasil se origina da cultura indígena, da cultura africana e do europeu português colonizador. Eles detinham os conhecimentos dos efeitos das ervas e suas funções e todo o procedimento que praticavam.

De acordo com os personagens entrevistados,  não se deve cobrar por algo que não lhes pertence. O que se recebe de graça é ofertado gratuitamente. Por outro lado, se a pessoa quiser agradar, por gratidão ou reconhecimento, nada o impede de fazê-lo, mas sem a conotação de pagamento. Dizem que quem cobra pelo serviço perde as forças e o poder de cura.

Nos dias atuais a medicina tem obtido muitos avanços na área da saúde, por meio das novas tecnologias e de aparelhos modernos a disposição do diagnóstico das doenças. Para as respectivas curas utilizam fármacos modernos, ditos de terceira geração, e técnicas cirúrgicas mais desenvolvidas.

Entretanto existe em paralelo a alternativa das curas pelo curandeirismo, das rezas e benzeduras, que apesar de ser reprovada pelos médicos, elas são tradicionais e procuradas, tanto pela elite desesperada e desiludida pela medicina convencional, quanto pela classe carente e desprovida de recursos.   Há de se salientar que as benzedeiras e curadores não entram na seara médica cirúrgica, por ter consciência de não poder resolver o problema, orientam o paciente para procurar o procedimento médico e tratamento cirúrgico da patologia.

O espiritismo – criado pelo francês Hippolyte Léon Denizard Rivail (Alan Kardec).  Através dos médiuns se utilizam da força espiritual para realizar cirurgias mediúnicas e o tratamento do corpo e da alma. São os mais famosos exemplos da Doutrina Espírita,  o mineiro  Chico Xavier e o baiano Divaldo Franco.

 Há de se registrar que existem os charlatões enganadores  que se intitulam  portadores de poderes espirituais  para realizar  cirurgias e  curas.   Os desesperados os procuram. Receitam  e vendem  remédios manipulados em farmácia própria  ou revendem  de laboratórios populares.  

Os candomblecistas, administrados por pais e mães de santo, também fazem o trabalho de curas, têm um altar ou Peji, denominado de mesa, onde estão expostos algumas imagens e enfeites em homenagens aos santos católicos, aos caboclos e orixás guias. Esse caldeamento é chamado de sincretismo.   Nas paredes, estão fixadas várias fotografias  de santos (quadros), e no altar a existência de várias imagens: a de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, a de Nossa Senhora Virgem Maria,  Santo Antônio, Cosme e Damião, orixás, caboclos, jarros com flores e velas.  

Os candomblés, têm diversas ramificações e conteúdo,  fazem incorporação com sons de atabaques e danças apropriadas, para o culto do orixá ou caboclo invocado. Há também os macumbeiros, feiticeiros e o espiritismo negativo que envolve as entidades do mal.

 O valor de uma consulta médica e os exames de laboratórios e de imagem solicitados, e, o preço dos remédios,  são  exorbitantes, por isso, o doente procura atendimento alternativo. São pessoas da classe mais humilde, pessoas pobres, muitos são adeptos dessas entidades pela crença e fé na religião que praticam.

  O ofício e saberes desses procedimentos, são  tradicionais,  e essa prática está enraizada na cultura oral do povo e exercida em muitas localidades urbanas e rurais do país. Usam ervas e raízes para chás e banhos, além de rezas  para cura de diversas doenças,  como espinhela–caída, cobreiro, febre, tristeza, erisipela, dores em geral e outras.

  Atualmente se utilizam, pela praticidade, remédios fitoterápicos manipulados por laboratórios cujo princípio ativo é baseado nos produtos da natureza de forma específica. O livro enviado pelo laboratório contém  o nome do medicamento, e uma descrição do princípio ativo e suas indicações.

Residiu em Brumado, o Rio-Contense, senhor Albino Vianna, dentista prático, e espírita convicto, era muito famoso pela força espiritual que detinha.

 Não cobrava pelo seu trabalho de curas, rezava, fazia responso, benzia, receitava remédios caseiros, fazia adivinhações e curava os males do espírito e da alma, pelo poder adquirido.  Confidenciou, certa vez, a um interlocutor, não saber como adquiriu esse dom e da mesma forma estava perdendo as forças espirituais.

 Uma Benzedeira/Curandeira, natural de São João do Alípio/BA, famosa, radicada  em Brumado, pratica esse ofício há muito tempo e diz não saber como adquiriu esse dom de cura, acredita que Deus a escolheu para essa prática de fazer o bem sem escolher a quem.  Através das suas rezas e mezinhas indicadas, combate e cura diversos males por esse dom especial que lhe foi divinamente proporcionado. Em seu altar, encontram-se várias imagens de santos católicos, orixás e caboclos, em destaque a imagem da padroeira do Brasil, Nossa Senhora Aparecida, além de quadros pendurados nas paredes como o de Iemanjá e outros.

O seu culto foi autorizado pela Associação Baiana do Culto Afro Brasileiro, com sede em Salvador/BA, desde 1962.  Em conversa com alguém da justiça, fui informado que um determinado médico moveu uma ação contra ela,  pelo exercício ilegal da medicina, porém o processo foi arquivado.

Francisco Xavier Pires, Francisquinho, morador da fazenda Cerro Largo, Aracatu/Brumado, exerceu o ofício de curador.  Vinha gente de toda região se consultar com ele para receber os  benefícios.   Rezava bicheiras de animais eliminando os vermes pela força do ensalmo recitado.   

 Maria José, conhecida como dona Zezé, natural de Ituaçu, radicada em Brumado, é benzedeira desde menina. É polivalente: joga búzios para consultar o futuro da pessoa, reza bicheira e outros procedimentos atinentes.  Orgulha-se, pois sua casa é frequentada por pessoas humildes e pela elite brumadense, gente da região e de outros Estados do Brasil a procura, inclusive foi entrevistada por jornal e pela Televisão.  É bastante conceituada e procurada para essas finalidades.

Outra que também exerce esse ofício é a senhora Etelvina, natural de Brumado, residente no Apertado do Morro. Para todo o procedimento de rezar e benzer ela diz que não é profissão, mas missão.   Lê a sorte através do Tarô, uma prática de mais quarenta anos. “Sou espírita e vidente, obedeço aos meus guias sem contestá-los.

Ao entrevista-la, pediu permissão para consultar seus guias, adentrou no quarto de orações e quando voltou me cientificou de que seus guias não permitiam a entrevista.

Aguilar que atende pelo apelido de “Leto”, natural de Jussiape/BA, morador em Brumado desde 1959, residente no Bairro do São Felix, aprendeu o ofício de rezador com sua mãe que era benzedeira. Desenvolveu e aprimorou esse aprendizado divino. Reza com a imposição das mãos para a cura do mau-olhado, dores diversas, espinhela-caída e outras enfermidades.

 Conta-se que em uma cidade pequena do interior da Bahia vivia um rezador/curador muito famoso, o seu “consultório” era muito frequentado pela comunidade do local e região, a procura era tanto, que ele contratou uma atendente para marcar o dia da consulta.

Distribuía panfletos com os dizeres: “Trago a pessoa amada em três dias”;  “Curo o vício da  embriaguez; “Curo problemas de saúde”.  “Filhos problemáticos? Problemas com drogas? Falta de dinheiro?”;   “Nos procure”. Essas propagandas eram utilizadas como estratégia para divulgar os seus serviços.

 Um rico fazendeiro local, mantinha um único filho em Salvador/BA onde se formou em medicina. Por exigência dos pais, veio clinicar na terra natal. Montou um consultório moderno e confortável e colocou com muito orgulhoso a placa destacando: médico generalista, fulano de tal, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia.  Porém só o procurava, familiares e amigos, o consultório praticamente não tinha pacientes. Contudo, o do curador/rezador vivia cheio. Era uma tradição da região, o povo  se consultar com o curador para resolver seus problemas de saúde e ou espiritual, e se tratar do corpo ou da alma.

Indignado com a situação, o doutor arrancou a tabuleta e colocou outra com nova denominação: “Curador e rezador fulano de tal, de fama comprovada, consultas a qualquer hora do dia ou da noite”. Dessa data em diante o consultório passou a ser frequentado por inúmeros pacientes.

 O povo, a maioria analfabeto, cria mais no curador do que no médico acadêmico, era uma prática tradicional da população do local e região, se avir com o curandeirismo.   Procurava o curador/benzedor para solução das suas aflições, por não confiar na medicina científica.

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