Quando estão em campanhas eleitorais, os candidatos prometem solução para todos os problemas. Esse comportamento tem sido tolerado, porque ou o candidato promete tudo ou não se elegeria caso fosse mais realista. Quando se candidata à reeleição, apresenta os melhores índices em todas as áreas no atual mandato; quem pretende a mudança, aponta deficiências nas mesmas áreas.
Depois de eleitos ou reeleitos, como previsível, as realizações prometidas facilmente são substituídas por desculpas, que também são as mesmas há décadas, sendo a mais comum a de que sabiam da gravidade dos problemas, mas que não imaginavam que fossem tão graves como constataram, argumento utilizado até por quem já era governo.
Com o passar do tempo, tornou-se praxe eleitos ou reeleitos estabelecerem os cem primeiros dias como um prazo razoável para uma avaliação do governo. E, diante da desilusão da população em razão da continuidade dos problemas, as desculpas novamente se repetem. Não trocam nem de argumentos e de palavras.
Antes de empossados, a grande maioria dos atuais apoiou aumento dos próprios salários. Essa iniciativa foi praticamente em todos os estados. O governo federal aumentou quatorze ministérios. Os estaduais aumentaram as secretarias e cargos comissionados. Medidas que contrastam com o avanço da tecnologia, cuja lógica seria a diminuição permanente de instituições públicas, de cargos e de servidores.
O Estado de São Paulo elegeu um governador considerado extremamente técnico e de linhagem conservadora, mas, ainda assim, os índices de violência só aumentaram em todo o Estado. Quando as imagens de assaltos aparecem nas plataformas de internet e TVs, as autoridades citam números de prisões efetuadas sem se darem conta da contradição cristalina entre o resultado dos números apresentados inverso aos das estatísticas crescentes de criminalidade. Não se dão conta de que se prenderam as centenas citadas, pelo aumento constatado, deveriam ter prendido dezenas de milhares.
Os centros das cidades continuam sendo verdadeiras fossas a céu aberto, pois servem de banheiros às pessoas em condições de rua. A solução apresentada seria a mudança das sedes ou a construção de palácios de governo. Na verdade, o ideal seria que esses palácios já tivessem sido vendidos ou transformados em museus há décadas. Mas a cultura de habitar em palacetes, copiada de países desenvolvidos, está arraigada e não muda. Nada mais infla o ego de um pobre do que parecer rico.
As falhas diárias nos transportes coletivos agravaram-se e se repetem. Seguem superlotados, os carros foram reduzidos, e, para piorar, os motoristas passaram a matar passageiros arrastados presos às portas.
Praticamente em todas as áreas os índices pioraram. Além dos exemplos citados, como antes, a deficiência continua na saúde, educação, estradas, ruas, moradias, limpeza de rios, falta de emprego, no saneamento básico e na infraestrutura em geral. Pelo número de reclamações, a população não percebeu melhorias. Já pelas estatísticas governamentais, o Brasil estaria no padrão social de Noruega, Canadá, Dinamarca…
Ou saímos do sofá e das teclas para as ruas ou daqui a cem anos os problemas e os argumentos continuarão os mesmos dos atuais cem dias.