A escola é um espaço educativo e que, também, desempenha papel formativo
por Boletim UESB
Nesse sentido, a literatura infantil pode ser utilizada para valorização da cultura, identidade e beleza afro-brasileira, por exemplo. Nessa perspectiva, é que atua o projeto de extensão “Contando Africanidades”, coordenado pela professora Letícia Azevedo, vinculada ao Departamento de Ciências Humanas Educação e Linguagem (Dchel), campus de Itapetinga.
O projeto realiza sessões de contação de histórias em instituições de ensino, utilizando a literatura infantil para valorizar as matrizes culturais e étnicas brasileiras. De acordo com Azevedo, a proposta surgiu de um desejo de infância de se sentir representada na literatura. “A minha infância foi marcada pela invisibilidade dentro da literatura escolar, do meu corpo enquanto representante de um povo negligenciado historicamente, do meu povo negro, da minha negritude. Eu não conseguia me ver na literatura, dentro do espaço escolar”, comentou.
A professora conta que foi no Órgão de Educação e Relações Étnicas (Odeere) da Uesb, na época em que ainda era estudante, onde teve contato com literaturas que ressaltam a cultura africana e seus valores. “Foi lá que eu tive contato com a primeira história, ‘As tranças de Bintou’, e me recordo que tomei posse dessa história e trouxe para o ‘Contando’. Eu me encantei”, relembrou.
Além de atender as instituições de ensino público e privado, bem como entidades civis do município de Itapetinga, atualmente, o projeto ampliou sua atuação e atende convites de espaços educativos de toda região, abrangendo também a zona rural. Assim, a iniciativa tem levado “essa história de reconhecimento para que esse aluno negro, que tenha essa ancestralidade, se reconheça na literatura, que veja, através das sessões, a importância de se enxergar, de ter esse pertencimento”, sublinhou.
Ações do projeto – Um dos frutos do projeto foi a realização do “1º Seminário Contando Africanidades: saberes invisibilizados no Médio Sudoeste baiano”, realizado entre os dias 11 e 12 de julho, em Itapetinga. A ação teve como um dos objetivos promover espaços formativos, por meio de conferências e oficinas. A proposta foi contribuir para a reflexão das relações étnico-raciais na literatura infantojuvenil escolar.
Poliana Reijane Sousa, professora da Educação Básica no município de Anagé, atua na coordenação dos anos finais de uma escola que atende estudantes quilombolas e do/no campo. Para ela, o Seminário é essencial para pensar a decolonização do currículo escolar, entendendo a responsabilidade de debater e descontruir muitas práticas. “A gente precisa renovar esse pensamento, esse olhar, e mudar as nossas práticas; pensar em currículos não tão urbanocêntricos, eurocêntricos, currículos que atendam, justamente, essa diversidade. É o que o projeto vem trazer”, pontuou Sousa.
Manuel Neto, assessor especial para Assuntos Educacionais da Secretaria de Educação de Itapetinga, igualmente, destacou a importância do projeto para a transformação social. “No momento em que fomos procurados pela professora Letícia, para que pudéssemos apoiar esse projeto belíssimo, não pensamos duas vezes. Entendemos o tanto que é importante formar nossos profissionais que atuam na educação para poder discutir, inclusive, em sala de aula, esse tema que é tão importante. Então, a gente ter uma comunidade voltada e pronta para combater o racismo é mais que necessário e urgente”, avaliou Neto.