Proposta de aumento no limite de peso gera debate no setor de transporte rodoviário de cargas, levantando preocupações sobre segurança e necessidade de capacitação
Por Grupo Mostra de Ideias
O segundo semestre segue movimentado nos arredores políticos, com iniciativas que podem causar um impacto direto no cotidiano dos brasileiros. Recentemente, o deputado Marcio Alvino (PL-SP) propôs um projeto de lei que eleva de 3.500 kg para 6.000 kg o limite de peso bruto total da combinação de veículos e de unidade acoplada conduzida por condutor habilitado na categoria B.
A proposta altera o Código de Trânsito Brasileiro em trecho que define as habilitações dos condutores. No texto, os habilitados na categoria B poderão conduzir veículo com reboque e similares, desde que a soma do peso bruto seja de até 6.000 kg. Em todos os casos, é mantida a lotação máxima de oito pessoas mais o motorista.
O projeto de lei segue em tramitação nos arredores políticos, mas em caso de aprovação a decisão pode afetar um setor de extrema importância para a economia brasileira: o transporte rodoviário de cargas (TRC).
Marcel Zorzin, diretor operacional da Zorzin Logística, destaca as mudanças que podem ocorrer no setor a partir dessas movimentações: “Pode ser algo bom, tendo em vista que pode abrir portas para novas vagas de motoristas, área em que temos um déficit na profissão. Porém, a única ressalva fica por conta do despreparo dos condutores da categoria B em conduzir um veículo com uma capacidade maior de carga”.
O modal rodoviário é responsável pelo transporte de mais de 65% das mercadorias e, sem dúvidas, compõe o maior fluxo de veículos pelas rodovias do país. Assim, a preocupação está relacionada principalmente aos acidentes que podem ocorrer caso os usuários da categoria de carros e semirreboques tenham acesso a veículos maiores sem preparo técnico e teórico.
“Vejo muitas vans ou caminhões pequenos, sendo CNH B, transitando pela faixa da esquerda a 120 km/h e carregados de mercadorias. Um absurdo. Quem está habituado a dirigir veículos com capacidades maiores (como a carreta) sabe que a dinâmica é outra na estrada, seja no tamanho, seja na velocidade, seja em uma frenagem brusca, dentre outros fatores que precisam ser levados em consideração”.
Nos últimos anos, as organizações de transporte vêm apostando intensamente na capacitação de seus motoristas com o intuito de diminuir os sinistros pelas rodovias, além de otimizar os gastos em relação à frota. A visão dessas organizações sobre o projeto de lei é que ele invalidaria o trabalho que internamente vem sendo realizado caso não haja uma capacitação para esses possíveis novos condutores.
“Como mencionei anteriormente, existe uma defasagem muito grande no interesse das pessoas em seguir a profissão de motorista, e para mudar esse cenário temos apostado na capacitação daqueles que já estão conosco, fornecendo uma estrutura de trabalho adequada. Se realmente a lei entrar em vigor, entendo que precisará de um acompanhamento bem de perto dos órgãos competentes para não haver desequilíbrio no setor”, pondera o executivo.
A discussão segue sendo com muita cautela, mas acende um princípio de alerta nas empresas, que desejam saber quais serão os próximos passos: “Sem dúvidas, pode ser uma alternativa muito interessante, mas volto a frisar o compromisso em capacitar aqueles que vão aderir a essa iniciativa. Creio que não será simples, mas não podemos deixar de colocar em pauta a segurança da população”, finaliza Marcel.