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Obra de Empreendimento Eólico ameaça nascente do Rio Cabeceira Raiz e compromete abastecimento de água das populações de Urandi e Licínio de Almeida

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Por Redação

Dados do Conselho Global de Energia Eólica apontam o Brasil como um dos dez países com maior potencial de geração de energia eólica.

Por usar o vento como fonte, esse tipo de produção de energia é geralmente percebido como limpo e isento de questionamentos quanto à sustentabilidade. Porém, se promovida sem atender a certos requisitos, pode gerar impactos, nem sempre tão visíveis, nos âmbitos ambiental e social.

E os impactos negativos que afetam o meio ambiente e, por consequência, a população que, em tese, deveria ser beneficiada, já estão sendo sentidos em Urandi, onde a empresa contratada para executar as obras de infraestrutura (abertura de estradas para o canteiro de obras) do Complexo Eólico Serra das Almas, que abrange os municípios de Urandi, Licínio de Almeida e Jacaraci, que está sendo implantado pela PEC Energia, empresa do Grupo EDF Renewables Brasil, com investimentos superiores de R$ 1 bilhão e com capacidade instalada de 261 MW e 58 turbinas.

Apesar da expectativa de geração de 650 empregos diretos durante o pico das etapas de construção do Complexo, os primeiros impactos negativos sobre o meio ambiente já colocam a opinião pública contra o projeto.

Na última semana, a abertura de uma estrada, acima do nível das nascentes do Rio Cabeceiras Raiz e da Barragem que abastece a população de Urandi e parte dos moradores da zona rural de Licínio de Almeida, sem que fossem observados critérios técnicos para evitar que o material pudesse contaminar os mananciais, não só tornaram turva e impropria para o consumo a água represada, como ameaçam causar a diminuição da vazão e até o secamento, por obstrução do olho d’água, da nascente do Rio Cabeceiras Raiz, que abastece a Barragem das Cabeceiras.

Antes límpida, as águas da nascente do Rio Cabeceira Raiz ficaram turvas e tiveram a vazão reduzida como reflexo das obras de infraestrutura do Complexo Eólico Serra das Almas. Fotos: Reprodução

As chuvas que caíram na região de Urandi, no último domingo, 19, confirmaram as previsões dos ambientalistas que têm se posicionado contra a falta de transparência e debate com a sociedade no processo de implantação do Complexo Eólico, serviram para transportar o material resultante da abertura da estrada para a nascente e o Rio Cabeceiras Raiz com visível comprometimento de todo o ecossistema.

A reação ao crime ambiental foi imediata por parte dos prefeitos de Urandi e de Licínio de Almeida, respectivamente Warlei Oliveira de Souza (PSD) e Frederico Vasconcellos Ferreira (PCdoB), até para dar uma resposta à sociedade, afetada com o abastecimento de água impropria para o consumo e uso em geral. Além de adotar medidas emergenciais e iniciar o abastecimento de água das duas populações atendidas por carros-pipas, os dois prefeitos acionaram o Inema – Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, autarquia vinculada à Secretaria de Estado de Meio Ambiente da Bahia, que, conforme anunciaram em um vídeo gravado juntos e postados nas redes sociais na manhã desta quinta-feira (23), determinou o embargo das obras de terraplanagem. Os dois gestores apontaram, ainda, que vão responsabilizar o Empreendimento Eólico para que possam assumir a responsabilidade pelo abastecimento de água das populações afetadas até que a situação volte ao normal, além de sinalizar para a possibilidade de cobrar outras medidas para evitar novos e ventos que eventualmente causem danos às pessoas e ao ecossistema.

Os prefeitos de Urandi e Licínio de Almeida, respectivamente Warlei Oliveira de Souza (PSD) e Frederico Vasconcellos Ferreira (PCdoB), anunciaram que o Inema embargou as obras de terraplanagem do Complexo Eólico Serra das Almas. Fotos: Reprodução

Em outra frente, a Prefeitura Municipal de Urandi, através da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, anunciou que já está atuando no levantamento dos danos causados pelo Empreendimento Eólico e, confirmando o que disse o prefeito Warlei Oliveira de Souza, pontuando que a Empresa será cobrada para adotar todas as medidas necessárias para resolver o problema e recuperar a área afetada da nascente do Rio Cabeceiras Raiz e da Barragem das Cabeceiras.

Com o comprometimento da Barragem das Cabeceiras, a população começou a receber aguar barrenta nas torneiras, improprio não só para o consumo, mas para qualquer tipo de uso, passando a ser atendida emergencialmente por carros-pipa. Foto: Reprodução

A reportagem do JS não conseguiu contato com o prefeito Warlei Oliveira de Souza (PSD), mas um de seus mais próximos interlocutores informou quer o gestor não descarta acionar a PEC Energia/Grupo EDF Renewables Brasil, se necessário for, para que o município seja ressarcido das despesas que estão sendo adotadas para mitigar os danos causados ao abastecimento de água da população.

A reportagem do JS tentou contato com a PEC Energia/Grupo EDF Renewables Brasil, para oportunizar que pudessem comentar os impactos negativos das obras de infraestrutura de construção da estrada em Urandi e apontar medidas que estariam ou deverão ser adotadas para resolver a situação e indenizar os entes públicos (Prefeituras Municipais de Urandi e de Licínio de Almeida) e as populações afetadas.

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