Os partos de antanho e seus cuidados eram realizados por mulheres conhecidas popularmente como aparadeira, comadre ou parteira, geralmente morava (ou mora) numa cidade pequena e/ou na zona rural e executava os partos que ocorriam no local e na vizinhança. Não havia no local médico para um atendimento ou procedimento adequado de saúde, só mesmo nas grandes cidades e capital onde existiam hospitais e casa de partos com pessoas treinadas. A classe pobre devido à condição financeira precária não recorria aos profissionais acadêmicos, a solução para o atendimento era a parteira leiga.
Quando uma mulher ia “despachar”, contava com o apoio das parteiras, a mais experientes que a auxiliavam no trabalho de parto. Eram mulheres leigas que praticavam esse ofício e o aprendiam como acompanhante de pessoas da família ou de alguém mais experiente que já exercia esse trabalho. Atendiam a todas as parturições que ocorriam no lugar. Com a experiência e a prática eram chamadas para todos os procedimentos dessa natureza na região.
A fama era um referencial. Em toda a região eram acatadas e consideradas como uma pessoa de “boa mão”. Quando surgia algum problema, este era resolvido com rezas, mezinhas (raízes e plantas), tratamentos caseiros, que sempre davam bom resultado. O chamado mal de sete dias, ou tétano umbilical, ocorria por falta de higienização adequada e além da falta de vacinação eram fatores de risco. Esse mal ceifou muitas vidas, que poderiam ser salvas se houvesse os cuidados necessários.
Com a modernização, surgiram os hospitais, casas de parto especializadas e os obstetras ocuparam o lugar das parteiras leigas. Ocorre que, apesar de toda a parafernália de instrumentos, vacinas antitetânicas à disposição dos médicos, além dos laboratórios que os auxiliam no diagnóstico, ainda persistem as parteiras leigas, principalmente, na zona rural e na periferia. Embora estejam desaparecendo mediante os novos procedimentos em hospitais e clínicas especializadas disponibilizados pelo poder público (SUS). Há de se relatar que apesar da assistência médica em hospitais e de clínicas especializadas, há mortes tanto dos nascituros como da puérpera.
Os obstetras optam pelo parto cesáreo em detrimento do parto natural, por conveniência própria ou desejo da parturiente, o que pode acarretar problemas.
Comentário de uma parteira leiga: “Nenhum recém-nascido e nenhuma parturiente que estiveram sob os meus cuidados morreram durante o parto ou mesmo depois”. “Uma quantidade enorme de crianças passou por minhas mãos, sem registro de nenhum problema”. “Muitos são meus afilhados por decisão e reconhecimento da mãe”. Todos me consideram e me tratam como avó. “Em respeito, me tomam a bênção”.
Por falta de recursos e pela pobreza que impera em muitas regiões e por não terem conhecimento de seus direitos disponibilizados pelos órgãos de saúde, parturientes, especialmente da zona rural e das periferias ou dos lugares que não dispõem de serviços médicos, procuram uma parteira leiga, que certamente não cobra pelos serviços executados, para auxiliá-las no trabalho do parto.
Há de se registrar a importância das parteiras leigas, mulheres cujas experiências e práticas salvam vidas e levam solidariedade e palavra de incentivo às parturientes. Os especialistas costumam condenar essa atividade, pela falta de conhecimentos científicos e métodos adequados de higienização. Têm até certa razão, mas existe a necessidade premente desse procedimento leigo.
Em época de antanho, era praxe a mulher parida se recolher num quarto onde imperava a penumbra e ficava de resguardo por trinta dias, tomando apenas banho de asseio e comendo pirão de galinha, o chamado pirão de parida. Crianças não podiam entrar. As “comadres” visitantes tomavam a famosa temperada que, por efeito etílico, comentavam coisas do arco-da-velha e só Deus sabe o que ocorria nas conversas pecaminosas entre elas.
Há um plano do CNS (Conselho Nacional de Saúde) de se formarem parteiras com o conhecimento técnico profissional para o exercício da profissão. Assim, o obstetra seria substituído por elas, a não ser, em casos graves que exijam a assistência médica.
O atendimento domiciliar da gravidez de baixo risco, pela enfermeira-parteira, facilitaria a superlotação hospitalar. Este trabalho tanto em casa quanto no hospital é o mesmo. Essa é uma opção de muitas mulheres que preferem parir no aconchego do lar, sem o medo e o estresse que provoca o hospital. Esse procedimento depende da autorização médica.
Há reclamação de muitas mulheres que têm dificuldades em conseguir vaga na rede pública hospitalar. Sentem-se humilhadas pela inexistência de vagas. A direção desses estabelecimentos alega falta de equipamentos ou de médicos, não disponibilizado pelo Estado ou Município, que tem a obrigação de prover essas unidades de recursos para suprimento e custeio dessas despesas. Se houvesse a figura da enfermeira-parteira disponível, esse procedimento poderia ser feito na residência da parturiente, desafogando os hospitais. Esse procedimento é uma questão de bom senso e de vontade de servir às pessoas humildes, com dignidade e respeito, pois a vida deve estar em primeiro lugar, independentemente da condição social da pessoa.
Em Brumado, atuaram algumas pessoas como parteiras leigas: Vó Congonha, Carolina – moradora do bairro São Félix, Benvinda, Severina de Jesus Barbosa (Serva), Zazá – mãe de Beto guarda, Esther Trindade Serra e outras que acudiram muitas mulheres em trabalho de parto e apararam muitas crianças. Por merecimento e reconhecimento desse trabalho, Vó Congonha foi homenageada pela Vereadora e também parteira Esther Trindade Serra denominando um logradouro da cidade com o nome de Vó Congonha.
O Dia Internacional da Parteira é comemorado em 05 de maio, foi instituído pela Organização Mundial da Saúde em 1991, para salientar a importância do trabalho das parteiras em todo o mundo. Em diversos países, o Dia Internacional da Parteira tem sido comemorado por diversas organizações ligadas à defesa dos direitos da mulher.
Uma homenagem merecida por esse trabalho digno e corajoso dessas mulheres, parteiras leigas, que se dedicam a cuidar das gestantes, dando a elas a assistência necessária por terem o reconhecimento do seu trabalho, que supre, dessa forma, as deficiências do sistema de saúde, promovendo um atendimento humanitário.
Conta-nos a lenda sobre o nascimento: “As parturientes podiam invocar a ajuda de certo número de divindades. Pediam a ajuda a Ilitia, deusa da maternidade, e a Mater Matuta para lhes aliviarem as dores do parto e afastarem todas as ameaças que poderiam pesar no momento do nascimento, sobre a sua saúde e da criança. Implorava também a deusa Juno, protetora das mulheres com a denominação de Juno Lucina, e pedia-lhe uma criança bela e sã, símbolo da fecundidade feliz do casamento”. Para esse tanto contavam com a ajuda da parteira leiga, (aparadeiras).
COMENTÁRIO, compilado do Livro: Mãe de Todos, Maria – do Pe. Reginaldo Manzotti:
“A neta de uma parteira contou-me que, durante muitos anos, sua avó praticou esse digno ofício. Quando chamada para fazer um parto levava consigo em um embornal, no qual colocava todos “apetrechos” necessários ao desempenho de sua função, sem nunca esquecer da[imagem] de Nossa Senhora do Bom Parto.
Ao chegar à casa da parturiente, enquanto a água fervia, acomodava a [imagem] em local de destaque, acendia uma vela e puxava a “reza”, pedindo a proteção da Virgem Mãe do Bom Parto. Depois, enquanto se ocupava de trazer o bebê ao mundo, a família continuava à oração. Devotíssima de Nossa Senhora do Bom Parto, sempre agradecia à Virgem, pela saúde das crianças nascidas e das mães.
Hoje, a medicina possui todas as condições e instrumentos próprios, bem como profissionais capacitados, para proporcionar segurança às mulheres. Algumas [cidades] e capitais, possuem programas especialmente desenvolvidos para acompanhar gestantes durante a gravidez, e após o parto. Isso não significa que elas não necessitem mais do auxílio da Virgem Mãe. A intercessão da Mãe de Deus é sempre providencial. Ademais, ainda existem mulheres excluídas desse direito, principalmente nas zonas rurais, no sertão e em outras localidades afastadas [do centro médico]. Essas jovens, às vezes meninas ainda, só podem contar com a valiosa intercessão de Nossa Senhora do Bom Parto e com a habilidade das parteiras, verdadeiras heroínas que andam quilômetros, por terra ou em barcos [e outros meios de transportes], para trazerem ao mundo uma nova vida.
Nossa senhora do Bom Parto, intercedei pelas grávidas e por seus filhos!”