Sei como é isso, pois sou do Grupo Literário A ILHA e trabalhamos, em Joinville, nas décadas de 80 e 90, para divulgar e popularizar a poesia, levando-a à praça, às escolas, às festas, até a bares, bancos e lojas.
Quem lembra da Feira de Arte e Artesanato? Pois por quase vinte anos levamos o Varal da Poesia e o Recital de Poemas à praça, assim como levávamos também à Festa das Flores, ao Festival de Dança e a outras feiras de arte em São Bento do Sul e Jaraguá do Sul, regularmente e a outros lugares eventualmente.
Lá pelos anos 80 não se encontrava nem a poesia dos poetas consagrados, como Drummond ou Pessoa, nas livrarias. A gente tinha que encomendar. Conseguimos fazer com que a poesia fosse mais conhecida, colocando a poesia no meio da rua para que as pessoas esbarrassem com ela e soubesse da sua existência. E as livrarias, assim, passaram a vender até os nossos livros, além dos grandes poetas.
Não tínhamos editoras, não tínhamos os editais de incentivo à cultura que publicam livros de escritores da cidade, que hoje existem. Esse espaço que se abriu para quem escreve, em Joinville, foi muito importante para escoar a produção de quem tem talento. Eu já fui jurado do Edital e sei que muita coisa boa aparece.
A regionalidade – que não é privilégio de Joinville – do que se publica é um problema, mas o fato de a própria cidade reconhecer os seus escritores já é alguma coisa. No tempo em que estávamos lá, batalhando pela literatura, tínhamos que arcar com tudo, não havia nada em termos de incentivo, até a Fundação Cultural mandava os escritores que a procuravam falar conosco.
Conseguimos ultrapassar os limites da cidade publicando em jornais e revistas fora do Estado e até fora do país. Nos anos 80 tive um livro de contos publicado por uma editora carioca e nos anos noventa tive dois livros de poemas publicado nos Estados Unidos – um em português e outro traduzido para o inglês, e em Cuba, vertido para o espanhol. Ganhei alguns concursos de poesia que também favoreceram o reconhecimento e algumas editoras aqui do Estado, como Lunardelli e Cepec, e depois a Hemisfério Sul, também me publicaram. Publiquei também “A Cor do Sol” em cinco idiomas (português, espanhol, italiano, francês e inglês), para possibilitar a penetração da minha poesia em outros países e para levar a Salões Internacionais do Livro pela Europa.
Mas nada é fácil, o caminho foi longo e árduo. Infelizmente, a poesia ainda é um gênero meio maldito, há muita produção, mas vende muito pouco. Ainda se compra muito mais romance.
Mas era muito bom ver jornalistas falando de poesia, abrindo espaço para a poesia, publicando poesia. É sinal que ainda havia espaço para a poesia no jornalismo, com toda essa mudança que vem acontecendo na indústria da informação,o que hoje não vem mais acontecendo, infelizmente.