Por MF Press Global
O concelho de Castelo de Paiva enfrenta uma crise preocupante no âmbito da educação e do desenvolvimento infantil, especialmente no que diz respeito ao apoio especializado para crianças em idade escolar. Desta vez, o problema reside na falta de profissionais de terapia da fala, deixando dezenas de crianças sem suporte adequado para superar atrasos de linguagem.
A situação agravou-se recentemente com a saída da única terapeuta da fala que atuava em várias escolas do concelho. Esta profissional, fundamental para o desenvolvimento de crianças com necessidades específicas, não foi substituída, gerando um vazio preocupante no atendimento. Como consequência, dezenas de crianças que necessitam deste acompanhamento especializado ficaram sem qualquer tipo de apoio para o desenvolvimento da fala.
Entre os casos mais impactantes está o de um menino que, desde os primeiros anos escolares, vinha recebendo acompanhamento contínuo em terapia da fala. Graças ao suporte oferecido, ele apresentava avanços significativos no desenvolvimento linguístico, essenciais para sua integração escolar. No entanto, os pais foram informados de forma abrupta que o atendimento seria interrompido e que deveriam buscar alternativas por conta própria. Para piorar, não há vagas disponíveis no sistema público e as clínicas privadas locais têm longas listas de espera e são caras. “Fomos surpreendidos com esta notícia e agora estamos completamente perdidos sobre como continuar o tratamento do nosso filho”, lamenta a mãe do menino.
O neurocientista e especialista em educação Dr. Fabiano de Abreu Agrela, que também enfrenta desafios semelhantes com os seus três filhos, alerta para os graves riscos dessa situação. “Nessa fase em que a personalidade da criança está a ser formatada, o atraso no desenvolvimento da linguagem pode causar insegurança e perfeccionismo desadaptativo, moldando uma personalidade que pode carregar problemas para toda a vida. Isso aumenta a probabilidade de transtornos mentais no futuro e representa mais gastos para o governo a longo prazo”, explica.
Além do impacto individual, o Dr. Fabiano destaca o efeito social e econômico de crises como esta. “Sem o suporte adequado, essas crianças enfrentam dificuldades crescentes na comunicação, o que pode comprometer a sua capacidade de aprendizagem, integração social e autonomia futura. Isso perpetua desigualdades e limita o potencial dessas crianças como cidadãos produtivos”, afirma. “Quando uma criança não recebe a intervenção necessária, os custos para a sociedade aumentam exponencialmente. Estamos a falar de insucesso escolar, desemprego e dependência de sistemas de apoio social.”
O especialista também critica o excesso de burocracia em Portugal, que agrava a escassez de profissionais. “Portugal tem muita burocracia. Perdemos muitos potenciais profissionais pela meritocracia exigida no percurso escolar e também na revalidação e reconhecimento de títulos de profissionais estrangeiros. Eu, por exemplo, conheço vários bons profissionais de outros países que viriam para Portugal devido à pacificidade do país, mas desistiram devido à burocracia”, destaca.
A crise em Castelo de Paiva reflete um problema mais amplo enfrentado em várias regiões do país, onde a falta de profissionais especializados e de recursos públicos coloca em risco o desenvolvimento e o futuro de muitas crianças. Os pais pedem uma intervenção urgente das autoridades locais e nacionais para resolver o problema e garantir que todas as crianças tenham acesso ao apoio que necessitam. “Investir em terapias precoces é investir no futuro do país, reduzindo desigualdades e promovendo uma força de trabalho mais qualificada e resiliente”, conclui o Dr. Fabiano de Abreu Agrela.
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