A PARTIDA
Por Antonio Novais Torres
De repente, quando menos se espera/ as gaiolas se preparam para partir/e o tempo que desespera – Rio acima/ é para eles, apenas um passo…// e no romper daquela madrugada/ lá na fazenda São Miguel/ o coronel João Amaro Maciel/ acompanhados de onze homens valentes/Guerreiros da cor de bronze/ eles sonham novos horizontes/ bem distante, bem longe/ em busca de sonhos e riquezas/ mas a partida é de tristeza/pois, Estevão, o Grande Sertanista/ e Capitão-Mor e querido pai/Senhor da Vitória da Conquista/ tinha saído dos Sertões para a História/ deixando aqui, nos sertões de Guarapiranga/ seu amado filho, que foi buscar a sua glória/ Na Bela terra da história da Bahia…//… e com as lágrimas do coração que sangra/ no ano do Senhor de 1698/ das margens barrentas do Rio Piranga/Ele partiu em segredo/ para os sertões do Norte/em rustica e velozes Gaiolas (e barcaças) / sabendo que a sorte e a morte/companheiras daquela jornada/ que somente os homens fortes/ Guerreiros da Cor de Bronze/ o Cel. João Amaro e mais onze/partiram em silêncio… (Autoria Marco de Nilo recanto das letras/ Roteiro: Rio São Francisco até Ibotirama e de lá… As terras de João Amaro e Iaçu).
O distrito de João Amaro foi considerado um dos mais importantes da região, competia com Cabeça de Touro, Maracás, e Caetité, todos pertencentes ao caminho Cachoeira/Rio de Contas. Está situado às margens do Rio Paraguaçu, no município, que hoje chama-se Iaçu e sua origem histórica prende-se à bandeira do paulista Estevão Ribeiro Baião Parente nas ruinas dos Cochós, com a denominação inicial de Santo Antonio da Conquista e destruída pelos indígenas Maracás e restabelecida pelo seu filho João Amaro Maciel Parente em 1692.
Em 1653 há notícias da expedição bandeirante para o combate aos gentios, contratada pelo Governo da Bahia, era comandada por Estevam Ribeiro Baião Parente e seu filho João Amaro Maciel Parente e outros. O Governo impaciente com a resistência dos índios prevendo que os sertanistas baianos não poderiam sozinho enfrentar os silvícolas recorreu aos experientes paulistas Brás Rodrigues Arzão e Estevão Ribeiro Baião Parente para combatê-los na região do Rio Paraguaçu, tendo como base de operação a vila de Cachoeira.
A sesmaria foi doada pela Coroa Portuguesa a Estevão Ribeiro Baião Parente pelos serviços prestados. O Cel. João Amaro Maciel Parente logo após a morte de seu pai (1698) Capitão-Mor Estevão Ribeiro Baião Parente, Senhor e Governador da Vitória da Conquista na Bahia, que deixou imensas terras ao seu filho Cel. João Amaro Maciel Parente, na região, onde se localiza o distrito de João Amaro fundado por ele em 1673 inicialmente com o nome de Santo Antonio da Conquista que depois foi elevada a vila com o nome de João Amaro. João Amaro Maciel Parente vendeu todos os haveres ao Coronel Manoel Araújo Aragão ‘O Bengala’ inclusive a vila recebida como sesmaria.
Manoel de Araujo de Aragão, baiano, coronel de ordenanças, combateu indígenas do Paraguaçu. Em 1678 requereu licença para fundar a vila de Santo Antonio em território dos maracás. Demandou com João Amaro Maciel Parente as terras que recebera pelo regime de sesmarias em recompensa pelo massacre de tribos indígenas. A querela encerrou quando Maciel Parente transferiu títulos para ele (CALMON,1985).
Devido à violência dispensada aos índios entre 1671-1674 e as desavenças entre sertanistas baianos e paulistas por benefícios e regalias de conquistas e várias queixas de populares, Estevão Ribeiro Baião Parente recebeu carta de advertência pelo comportamento incoerente contra aos indígenas e à população conforme as determinações da corte.
As terras às margens do rio Paraguaçu, foram herdadas por João Amaro Maciel Parente e sua mulher Maria de Camargo; com o seu retorno para São Paulo, foram vendidas por escritura do tabelião Theodoro de Mesquita da vila de Cachoeira, em 28 de maio de 1707 para Manuel de Araújo de Aragão. A viúva deste, Anna Barbosa de Brito, transferiu no tabelionato de Alexandre d’Almeida e Silva também da vila de Cachoeira, em 18 de agosto de 1758 para Manoel Pinto Cardoso, cujo filho Albano Pinto Cardoso negociou com Francisco José da Rocha, inclusive as benfeitorias que comprara do rendeiro padre Manoel Pereira Pimentel, por escritura do tabelião José Pereira Lésbio passada em João Amaro em 8 de maio de 1809.
Por herança, essas terras passaram para o domínio do sargento-mor Francisco José da Rocha Medrado e foram declaradas no registro de terras da freguesia de Santa Isabel do Paraguaçu, em 1848, pela sua viúva Ana Francisca Ribeiro de Novais.
O distrito de João Amaro pertenceu a Cachoeira, a Curralinho, hoje, Castro Alves, a Monte Cruzeiro e Santa Terezinha onde na divisão administrativa do Brasil em 1911, João Amaro consta como pertencente a este município.
Com a emancipação do ex-Sitio Novo, Fazenda pertencente à família Medrado, ex-Paraguaçu e atual Iaçu, desmembrado do município de Santa Terezinha é constituído de dois distritos, João Amaro e Lajedo alto, conforme Lei nº 1.026 de 14 de agosto de 1958. João Amaro sede do distrito, seu cartório foi fundado em 1889, e o primeiro registrado foi o senhor Gratuliano Vaz Sampaio, fazendeiro e pai do ex-prefeito de Iaçu José Carlos Vaz Sampaio.
A estação de João Amaro foi aberta pela E. F. Central da Bahia como estação terminal no prolongamento de sua linha principal em 1885. Por ser fim de linha, existia um “gira-mundo” que fazia o retorno da composição. Em 1888 a linha foi prolongada até Bandeira de Mello e daí para Machado Portela e teve seguimento até Monte Azul. Porém há dúvidas quanto à exatidão das datas mencionadas. Consta também que a inauguração da estação data de 15 de outubro de 1883 e em 1940 sofreu reformas na cobertura, pintura, entre outras.
A estação de João Amaro com a aquisição da RFFSA pela Ferrovia Centro Atlântica – FCA encontra-se em estado de deterioração, um descaso inominável e não aceitável dos gestores e governantes. Este prédio já serviu como cenário para a gravação da novela global Pedra Sobre Pedra (1991). Infelizmente com o abandono serve de abrigo para desocupados e animais.
Este prédio serviu como momento de diversão para os moradores do local que prestigiavam os trens de passageiros com a sua presença e era motivo de alegrias e tristezas, quando parentes e amigos chegavam ou iam viajar. Inúmeros namoros aí se realizaram e transformaram-se em casamentos. Está registrado no Livro “Os Caminhos da Água Grande” da jornalista Cleidiane Ramos o seguinte: “No período da festa de Santo Antonio a estação ficava movimentada. O ponto alto era a chegada do padre que oficiava a missa de Santo Antonio, padroeiro do distrito”.
“Era um dia de colocar roupa nova e participar do cortejo que começava na estação e seguia para a Igreja”. O patrimônio foi tombado pelo IPAC/BA em 05/11/2002.
Segundo a tradição oral, a capela centenária do lugar, teria sido erguida com o auxílio de índios escravizados pelos brancos. A antiguidade do templo, transmitida oralmente, durante gerações, pode ser comprovada com documentos que fazem parte do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Lisboa/Portugal, com cópias em microfilme presentes no arquivo pessoal de Valdemar Ferraro morador em Iaçu. Segundo estes documentos, a capela é remanescente dos vastos domínios do capitão-mor, João Amaro Maciel Parente. A posse foi confirmada, través do título de donataria, pela Coroa Portuguesa, em 1696, reafirmando o que já havia concedido a Bayão Parente em 1674. (Com informação do IPAC/BA).
Conta-se que os índios bravios roubaram o sino achando que se tratava de ouro. A Capela de Santo Antonio sofreu um incêndio que danificou o altar e perdeu a originalidade com a nova construção.
João Amaro é a maior comunidade as margens da BR-245 distante de Iaçu 18 km. Em João Amaro encontra-se ainda em funcionamento o famoso ajoujo, meio de transporte para travessia do Rio Paraguaçu e era comandado por seu Ursulino Meira.
Conforme declaração de José Augusto Vaz Sampaio, líder político joãoamarnse, o local tem mais de 10 mil habitantes, é grande produtor de abóboras, tem duas cerâmicas, mais de 40 olarias, 20 Mercados/supermercados, l0 igrejas, duas praças, quatro pedreiras, dois postos de gasolina, duas pizzarias, cinco lojas de roupas, cinco praias fluviais, linha de ônibus para Salvador e vice-versa, turismo ecológico, entre outras atrações. Desde 2005 festeja-se o São Pedro. Diante dessas informações, pleiteou-se a sua emancipação política, desmembrando-se de Iaçu, o que não ocorreu até o momento.
José Carlos Vaz Sampaio foi prefeito do município de Iaçu nos períodos de 1967 a 1971 e de 1972 a 1982, também vereador. Faleceu em 25/12/2014, homem de grande prestígio político, industrial e comerciante, foi uma grande perda para o distrito. Lutou bravamente pela emancipação do distrito de João Amaro, porém não teve êxito. Destaque-se que José Carlos Vaz Sampaio exerceu a vereança no município de Santa Terezinha em 1950 e 1959 como representante de João Amaro.
Além de José Carlos foram prefeitos de Iaçu os joãoamarenses Manoel Pinto Santana (conhecido por Nenzinho) no período de 1963 a 1966 e falecido em 1994; Pacífico Teixeira Ramos (conhecido por Chico Preto ou Chico Geleia) em 1971/1972, 1983/1988 e muitos vereadores representantes do distrito.
A boa notícia é que a prefeitura de Iaçu está empenhada em recuperar o imóvel da estação para transformá-lo em centro cultural. O DENIT cedeu a outorga e ao direito real de uso gratuito da Estação Ferroviária de João Amaro ao município de Iaçu para o fim a que se destina pelo prazo de vinte anos. Termo assinado em 05/12/2014.
Destaco alguns nomes de nascidos em João Amaro, como minha mãe Benvinda Novaes Jardim, professora leiga e comerciante; meu tio Valdivino Ribeiro Novaes (Pagão) comerciante; Gratuliano Vaz Sampaio, fazendeiro; José Carlos Vaz Sampaio, ex-prefeito, fazendeiro e comerciante; Manoel Pinto Santana, ex-prefeito e comerciante; Pacífico Teixeira Ramos, ex-prefeito e comerciante; Abelardo Vaz de Queiroz, fazendeiro; José Vaz Sampaio (Juca Vaz) comerciante; José dos Reis Almeida, fazendeiro e comerciante; João dos Reis Almeida (cartório); Rubens Reis de Almeida; Antonio Benedito Vaz Almeida (Cacareco), comerciante; José Augusto Vaz Almeida, comerciante; Jorge Luiz Vaz Almeida, médico; Luiz Jorge Vaz Almeida, engenheiro; Norma Vaz Almeida, professora universitária, Creusa Vaz Almeida, médica, Vânia Vaz Almeida, professora; Maria José Vaz Almeida, professora; Maria Lúcia Teixeira Ramos, cartorária; Tenente Cassiano Alves Barros (Militar) e esposa ‘Sindu’; Orlando Pinto Santana, comerciante; Tendente João Lopes Santana – que nomeia o ‘Beco do Tiro’ – e esposa ‘Iazinha’; Frederico do Carmo, comerciante; Casal João ‘Bicheiro’, comerciante e dona Bezinha costureira; Virgínia – mãe de Bezinha, costureira; Raulina Vaz Sampaio, professora; Pedro Costa, comerciante; Melquisedeque Neves (Nonô), fazendeiro; Zezinho Vaz, fazendeiro; Jaime Vaz, pintor e comerciante; Evangelina, professora Vanju; ‘Manezim Cocão’ e esposa; Arlindo França (Lindú), funcionário público e juiz de paz; Hemetério Francisco Amaral (RFFSA); Balbino Nunes da Silva, comerciante e construtor da capelinha no morro da igreja; Carlos Silva – Carlinho – comerciante; ‘Neném’ Sapateiro; Emídio (Leste); João Francisco (Leste); Dona Elisa Ramos; José Teixeira Ramos, comerciante; ‘Pixa’, comerciante; ‘Tatú’ balconista; Didi, comerciante; ‘Gato’; Arlindo Vidal (Leste); ‘Menininho’ (Leste); ‘Neném’ aguadeira, Tranquilino aguadeiro, ‘Tutú’, costureira; Ana Costa Ramos, esposa do prefeito Pacífico; Herculano Costa Almeida e Idalina Sodré Almeida, pais de Ana Costa Ramos (Nazinha) a família Xavier (Neuzete, Nancy, Neuza, Valdete e Idelvando Xavier , e esposa Janete filha de Bezinha); José Guarda-chaves e sua esposa Zuina; Benedito chefe da estação ferroviária e sua esposa Alice e muitas pessoas dignas, que honraram e honram o distrito de João Amaro. ACRESCENTAR MAIS PESSOAS…
Em João Amaro ocorreu um episódio invulgar. Certa feita começou a cair pedras no telhado de uma casa onde morava uma idosa. Nos fundos da casa tinha um matagal que poderia alguém se esconder e praticar essas estripulias. Foi constatado que a ocorrência era obra demoníaca ou presepada de Romãozinho. Os acontecimentos começavam às 18 horas. Católicos e crentes adventistas rezaram e oraram e, com essa providência divina, pretendiam expulsar as diabruras perpetradas, mas essas orações não surtiram efeito e da mesma maneira que começou terminou.
Havia também rivalidade entre Iaçu e o distrito de João Amaro, com relação ao futebol. O time de Joao Amaro era destaque pelas habilidades de seus jogadores e daí essa polêmica com os adversários. O pessoal de Iaçu chamava o pessoal do distrito de Cubanos e os joãoamarenses revidavam chamando os de Iaçu de Vietnamitas.
Trabalhei em João Amaro com diversas pessoas: Orlando Pinto Santana em sua venda de produtos diversos (secos e molhados), com Raimundo Vaz Sampaio (Raimundinho) no comércio de fazendas (tecidos), com Balbino Nunes da Silva em sua venda de produtos variados, com Jaime Vaz Sampaio no fabrico de vinhos e produtos do ramo. Vendi pães e outros produtos aos passageiros dos trens com o objetivo de contribuir nas despesas da casa. Morei nesse lugar por muito tempo.
João Amaro é uma localidade pequena, situa-se no município de Iaçu. Sua origem prende-se à bandeira de Estevão Ribeiro Baião Parente cujo arraial pertenceu, por herança, ao seu filho, João Amaro Maciel Parente que o fundou em 1673.
INFORMAÇÕES DO IBGE:
Iaçu/Bahia – Histórico
A região era primitivamente habitada pelos índios cariris e sabujás.
O povoamento do território iniciou-se no século XIX, por aventureiros à procura de terras férteis para a agricultura.
Até o início da década de 1920, o lugar onde se localiza a cidade de Iaçu era apenas a fazenda ‘Sítio Roxo″, de propriedade da família Medrado. A partir de 1920, com a chegada dos trilhos da Rede Ferroviária Federal Leste Brasileiro, formou-se o povoado Sítio Roxo, elevado à vila, em 1922.
Em 1938, alterou-se o topônimo para Paraguaçu.
Com a criação do município, em 1958, mudou-se o nome para Iaçu. O topônimo originou-se do tupy ″y-açu″, que significa ″rio grande″.
Gentílico: iaçuense
Formação Administrativa
Distrito criado com a denominação de Sítio Novo, pela lei municipal nº 3, de 19-04-1922, aprovada pela lei estadual nº 1569, de 03-08-1922, subordinado ao município de Santa Teresinha.
Em divisão administrativa referente ao ano de 1933, o distrito de Sítio Novo, figura no município de Santa Teresinha.
Assim permanecendo em divisões territoriais datadas de 31-XII-1936 e 31-XII-1937.
Pelo decreto estadual nº 11089, de 30-11-1938, o distrito de Sitio Novo tomou a denominação de Paraguassú.
No quadro fixado para vigorar no período de 1939-1943, o distrito de Paraguassú (ex-Sitio Novo), figura no município de Santa Teresinha.
Pelo decreto-lei estadual nº 141, de 31-12-1943, retificado pelo decreto estadual 12978, de 01-06-1944, o distrito de Paraguassú passou a chamar-se Iaçu.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1950, o distrito de Iaçu (ex-Paraguassú), figura no município de Santa Teresinha.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 1-VII-1955.
Elevado à categoria de município com a denominação de Iaçu, pela lei estadual nº 1026, de 14-08-1958, desmembrado de Santa Teresinha. Sede no antigo distrito de Iaçu. Constituído de 3(três) distritos: Iaçu, João Amaro e Lajedo Alto, ambos desmembrados de Santa Teresinha. Instalado em 12-04-1959.
Em divisão territorial datada de 1-VII-1960, o município é constituído de 3 (três) distritos: Iaçu, João Amaro e Lajedo Alto.
Assim permanecendo em divisão territorial datada de 2007.