Sempre tive medo de altura.
Sempre gostei de chegar à janela e olhar lá embaixo, chegar perto do precipício, imaginar que voava.
Sempre tive medo de brinquedos que me fizessem sair do chão.
Nunca deixei de encarar um só deles nos parques de diversão e, mesmo que fosse morrendo de medo da “manutenção desse brinquedo não ter sido bem feita”, ia me borrando, mas ia.
Quando descia, me sentia a mais corajosa de todas, a mais poderosa, uma verdadeira heroína.
Aí conheci “aquela” montanha-russa.
Não era a mais alta.
Não era a mais rápida.
Não era a mais mais de todas.
Mas eu nunca tinha visto uma tão alta, tão rápida, tão mais mais!
Olhei e gelei.
“Acho que, nessa, eu não vou.”
Enquanto olhava de boca aberta para aquela montanha, analisando cada uma de suas curvas, subidas e descidas, o tempo que era levado para que a volta fosse completa, procurava desesperadamente uma desculpa para não conhecê-la mais de perto.
Rapidamente, antes de processar todo o medo, encontrei:
“Estou de saia, não tenho como ir.”
Os amigos que estavam comigo não quiseram nem saber, na mesma hora começaram a campanha de convencimento:
“Segura essa saia.”
“Não tem desculpas, você tem que ir.”
E lá fui eu.
Arrastada.
Com mais medo do que todas as outras vezes.
Mas fui.
Sempre fico em silêncio nas filas.
O medo me paralisa.
Mas, como tenho que andar devagarinho mesmo, então, até facilita as coisas.
Lá pelas tantas, quando era mais fácil entrar no carrinho do que voltar toda aquela multidão que formava a fila, comecei a conversar comigo:
“Você vai gostar, menina. Sempre gosta.”
Mas, dessa vez, como estava com muito medo, não estava nada fácil fazer o trabalho de convencimento. Aí, eu mesma dava voz a vontade de fugir:
*Mas estou com muito medo. Tudo o que eu queria era não estar aqui. Devia ter ficado em casa, ido ao shopping!
“Que shopping, garota. Nós duas somos valentes e vamos gostar um monte dessa montanha também.”
*Valente é você. Eu sou medrosa, minha vontade é derreter aqui.
“Chega! Para de frescura! Estou tentando te tratar com carinho, mas assim não dá. Nós vamos nessa bagaça e acabou.”
*Você não devia me tratar assim, estamos de saia. Todo mundo vai ver nosso fundo. Vamos embora daqui.
“Claro que não! O fundo estará protegido! Esqueceu que estaremos sentadas em cima dele?”
*Sua marmota.
“Relaxa, garota. Se quiser tentar segurar a saia é por sua conta. Eu não vou nem me preocupar com isso. Também estava com medo, lá no começo da fila. Agora, quero só me divertir. Qualquer coisa a gente vê depois.”
*Louca! Você é doida. E me leva para essas coisas que me fazem morrer de medo.
“Te convenci?”
*Claro que não! Mas como eu e você somos uma só, tenho que relaxar para não morrer!
E foi assim que me convenci a relaxar, curtir e ir de saia mesmo na montanha russa mais alta, mais veloz e mais mais da minha vida.
E pela primeira vez na vida, passeei em uma montanha russa sem ver quase nada, pois tinha uma saia grudada na testa!