Nada como ter para onde voltar.
Uma vez, li o relato de um garoto dizendo que, quando decidiu mudar-se de cidade, ouviu de seus pais que ele poderia ir tranquilo, caso alguma coisa desse errado e ele precisasse voltar, as portas estariam sempre abertas.
Ter para onde voltar abre as portas do mundo.
Dá a certeza de que pode bater assas, afinal, o ninho seguro estará sempre esperando você.
Ela tinha para onde voltar.
Sempre soube que tinha.
E começou indo cedo.
Começou dando uns passos pequenos e vacilantes.
Ia e voltava rapidinho.
Ficava um tempo, respirava, descansava e, quietinha, planejava ir mais longe, ficar mais tempo.
E lá ia Ela.
Mais longe, mais tempo.
Voltava feliz, contando mil e uma coisas: sabores, cheiros, texturas, pessoas.
Voltava e passava um tempo.
Quando menos se esperava, a mochila já estava novamente nas costas: mais longe, mais tempo.
Houve um ano em que passou mais tempo lá do que cá.
As coisas começaram a acontecer por onde ia.
Seu trabalho começou a ser reconhecido onde era apresentado.
Mesmo tendo para onde voltar, ficava mais tempo no mundo do que no seu porto seguro.
Precisava conquistar o mundo.
Tudo ia muito bem: as portas se abriam por onde passava, céu azul, pássaros cantando e, quando havia tempestade, sempre havia um teto seguro sobre sua cabeça, comida quente, calor humano.
Mas, um dia, depois de muito tempo só de bonança, o céu ficou escuro e começou a cair uma grande tempestade: em meio àquele temporal, Ela não tinha um teto, não tinha roupas quentes, abrigo ou comida.
Tudo parecia estar fora do lugar e Ela perdeu o chão.
Tudo, tudo, tudo mesmo, se fora como levado pelo vento: amigos, trabalho, reconhecimento, dinheiro…
Não havia mais onde colocar os pés, onde abrigar sua cabeça.
Ela não sabia nem mesmo como voltar ao porto que era seu.
Telefonou.
O tempo que passou pareceu uma eternidade.
Mas não foi, foram apenas horas.
Aqueles que faziam tudo ficar tranquilo não mandaram que desse um jeito e voltasse.
Não!
Eles foram até Ela.
“Como está você, Garota?”
Não perguntaram o que Ela fizera para estar daquele jeito.
Não perguntaram onde estavam seus amigos, o que Ela fizera com sua casa e com o dinheiro que ganhara.
Não recriminaram quando souberam que vendera o carro e o que fizera com o dinheiro.
Nada!
Apenas a abraçaram.
Abraçaram, beijaram e disseram:
“Quer voltar para casa com a gente?”
Ela pensou e, ainda chorando, lembrou-se do que a trouxera até ali:
– Eu não queria voltar assim, sem nada nas mãos.
“Então você quer recomeçar aqui mesmo?”
Ela deu o mais triste sorriso que alguém já vira em seu rosto:
– É isso! Quero recomeçar aqui.
Eles sorriram e a abraçaram:
“Então, pare de chorar e vamos começar de novo agora mesmo!”
E eles começaram.
Juntos.
Quando Ela já estava conseguindo andar sozinha, eles a beijaram e partiram.
E Ela se reergueu.
Passou rapidamente por onde estava e continuou crescendo.
E cresceu muito.
Ficou forte outra vez.
Reconquistou o que havia perdido.
Ganhou o que nunca tinha sonhado.
E um dia se pegou pensando que nada disso teria acontecido se não tivesse tido apoio.
Ficou tão agradecida e feliz que resolveu olhar para os lados:
– Alguém que está aqui perto de mim pode estar sofrendo, precisando de apoio para continuar. Foi tão bom ter onde me apoiar quando precisei.
E, naquele momento,Ela decidiu tornar-se o porto seguro de alguém.
Estava pensando aqui se você também não podia ser “a pessoa especial” na vida de alguém. Vai ver tem uma pessoas aí ao seu lado esperando uma palavra de apoio vinda de você para ter a vida transformada.
Quer tentar?
Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz às segundas, quartas e sextas no www.viviantunes.com.br
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