Ninguém se conhecia, mas, ao chegarem, foram se colocando calmamente um ao lado do outro, ocupando as posições designadas.
Rapidamente começaram a realizar suas atividades e a Mulher pensou, enquanto os observava trabalhando, que tudo seria calmo, tudo passaria como brisa suave.
Foi quando alguém bateu à porta.
Ao abri-la, o que se viu foi uma Moça tentando conter um Garoto.
Olhos vivos e inquietos, parecia querer conquistar o mundo inteiro naquele instante.
Algumas palavras foram trocadas entre elas e a Moça foi embora quase correndo, deixando para trás um Garoto de olhos de brilhantes.
A Mulher, que estava em uma situação de calmaria, ficou alguns instantes meio que sem saber o que fazer com aquela criaturinha que segura pela mão.
Ele arrastava os pés, pulava, olhava para os lados e tentava desesperadamente alcançar alguns objetos desconhecidos enquanto a Mulher o mantinha em espaço limitado.
Foi quando ela se abaixou e fixamente olhou em seus olhos.
Segurando em seus braços de maneira firme e carinhosa, perguntou seu nome, sua idade e se apresentou.
Disse a ele algumas poucas regras do ambiente e indicou onde deveria sentar-se.
Quando se viu liberto das mãos que o continham, Garoto disparou em uma corrida desenfreada por aqueles poucos metros quadrados.
Com os braços abertos, ia batendo e derrubando tudo que estava ao seu alcance.
Em poucos segundos, o caos.
Podia-se ouvir choro, reclamações e gritos de protestos enquanto ele, já na outra extremidade, jogava para cima os papéis que haviam sido descartados mais cedo.
Foi quando a Mulher, com uma calma vinda do céu, veio por trás dele e o abraçou.
Em poucos segundos estavam os dois no chão como se fossem apenas um.
Ele lutava e esperneava mas, como não conseguia sair, foi relaxando.
Enquanto isso ouvia baixinho:
“Você é um menino bom, vamos consertar juntos todas essas coisas e tudo vai dar certo.”
Ele se acalmou, pôde ser liberto do abraço imobilizador e juntos consertaram o estrago.
Os dias foram passando e as turbulências se repetiam.
A Mulher foi investigar o motivo de tanta adrenalina em um espaço tão pequeno.
Descobriu motivos mil.
Ia contornando como podia.
Até que, num dia, depois da mais turbulenta de todas as tempestades, quando viu mais uma vez tudo parcialmente destruído, crianças chorando, papéis importantes rasgados e um Garoto pulando e gritando no meio do ambiente, como se estivesse fora de si, a Mulher não se conteve e chorou.
Foi até o Garoto chorando como se menininha fosse e, mais uma vez, o pegou pelos ombros.
Com mãos firmes, mas ainda assim carinhosas, o conteve e começou a desabafar.
Contou pra ele, que agora havia parado de gritar e se debater, o quanto estava sofrendo por vê-lo fazer tudo aquilo. Contou como ele assustava seus amigos e o quanto estava difícil prosseguir.
Ainda chorando continuou encarando-o e, quando já havia contado a ele tudo que ia em seu coração, terminou assim:
“Fique sabendo, Garoto, mesmo tudo isso sendo verdade, eu te amo e não vou desistir de você.”
Falou e o soltou.
Para sua surpresa, ele não saiu correndo.
Abaixou a cabeça e chorou.
A Mulher o abraçou e, lá de dentro do abraço, entre soluços, escutou:
– Ninguém nunca tinha dito que me ama.
Eles conversaram mais um pouco ali sentados em meio ao caos, levantaram-se e foram refazer o que havia sido desfeito.
Refizeram tudo: objetos, papéis, murais, livros, corações partidos, laços desfeitos, amor próprio, autoestima, solidariedade, companheirismo…
E, assim, aquele que era um Garoto transformou-se em O Garoto depois que descobriu ser amado, depois que foi amado, depois que ouviu:
“Sim, eu te amo, apesar de você mesmo, eu te amo.”