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Aquela cara

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“Meu amor, o que você quer?”

– Já te falei.

“Eu não me lembro, fala de novo, só mais uma vez, o que você quer que eu faça?”

– Já te falei e não vou repetir.

“Quando você falou, eu estava embaixo do chuveiro, não escutei.”

– Estava embaixo do chuveiro, mas eu enfiei a cara lá e falei tudinho.

“Meu amor, você tem que entender, eu não entendi. Você falou muito rápido, eu estava distraído. Repita, por favor.”

– Estava distraído lembrando as besteiras que andou fazendo ou planejando mais? Não sou Jovem Pan, não vou repetir.

“Minha vida…”

E assim foi.

Ele implorava e Ela dizia que não repetia.

 

Ele pedia de tudo que era jeito, com as palavras mais gentis, em nome de todos os santos, mas nada adiantava. A moça não cedia.

 

Tudo começou quando o rapaz deu uma pisada na bola daquelas.

 

Sabe aquela pisada que deixa qualquer mulher enfurecida?

 

Ele fez e pensou:

 

“Foi muito bom, mas se Ela descobrir eu tô perdido pra sempre.”

 

E Ela descobriu.

 

“Amor, por favor, conta para o seu marido. O que preciso fazer para que você esqueça essa história?”

 

– Engraçado você querer que eu me esqueça. Devia não ter feito ou, ao menos, ter feito direito para que eu não ficasse sabendo.  Agora, fica aí nessa perturbação querendo saber o que tem de fazer para que eu me esqueça.

 

“Meu amor.”

 

– Meu amor coisa nenhuma. Eu te falei uma vez o que me faria esquecer, você não escutou, dançou.

 

E foi aí que Ela fez “aquela” cara.

 

Sabe aquela cara que não diz absolutamente nada, mas abre um leque de possibilidades?

 

Então, foi essa.

 

– Está decidido: eu não quero me esquecer. E faça-me um favor: não toque mais no assunto.

 

O rapaz ficou mudo e saiu de perto.

 

E não tocou mais no assunto.

 

Nem Ela.

 

Ela nunca mais fez qualquer tipo de comentário sobre “aquela pisada na bola”.

 

Até que, num dia, pediu um sei lá o que pra Ele e o moço inocentemente disse que não faria.

 

– Você não vai fazer mesmo?

 

E olhou pra Ele com “aquela” cara.

 

Foi aí que Ele entendeu que Ela não havia esquecido. Que nem por um minuto se esquecera e que, se Ele não fizesse alguma coisa, seria para sempre refém daquela maldita pisada.

 

Para que isso não acontecesse,  Ele se encheu de coragem e se lembrou o quanto estava cansado, o quanto fora idiota por ter aquilo, o quanto ia render aquela história e fez exatamente o que Ela pedira.

 

Só aquela vez.

4 comentários em “Aquela cara”

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