No Brasil não temos absolutamente nenhum tipo de povo no sentido mais político da palavra, o que temos na realidade é uma sociedade formada por uma grande massa de gente manipulada culturalmente por poucos que detém os instrumentos formadores de opinião. Não temos absolutamente nenhum tipo de sociedade civil no sentido mais literal da palavra, o que temos na verdade são grupos de interesses, que organizados em torno da luta por direitos econômicos pautam os governos e as estruturas empresariais por melhores condições salariais e de trabalho decente propriamente dito.
Mesmo assim, por mais que iluminados do mundo da intelectualidade conservadora queiram dizer o contrário, temos sim a noção prática de direita e esquerda na política. Na realidade existe direita e esquerda política e uma grande massa da população que não tem a mínima noção da disputa permanente pelos aparelhos do Estado para controlar exatamente os instrumentos políticos e os próprios recursos públicos.
A esquerda é sempre menor no sentido de números, pois é composta por dirigentes partidários, lideranças sindicais e do movimento popular, e intelectuais orgânicos de instituições governamentais, não-governamentais e nos meios acadêmicos, mas carece de números como se comprova pela própria necessidade de lideranças políticas capazes de inclusive substituir a grande carência política-eleitoral que todos têm da figura de Lula.
A direita ao contrário, é formada por um conjunto da população, especialmente dentro da classe média que estuda mais as teses que defende ou até mesmo é influenciada pela imprensa tradicional que a massa não ler, mais repete. Por mais que atores do campo da esquerda não queiram aceitar essa tese, mas a massa que ainda não é povo não acompanha projetos políticos que a coloca no centro do debate, melhor dizendo, que coloca a mesma dentro do orçamento do Estado. A massa em si acompanha em determinados momentos os líderes carismáticos, e nada mais do que isso.
Prova mais contundente de que ainda não temos sociedade civil e nem povo no sentido mais político da palavra é que a sociedade brasileira está mais preocupada e ocupando as ruas em função da não aprovação da Reforma da Previdência, mas não está literalmente muito preocupada com desastre da Reforma Trabalhista.
Enquanto isso, a direita brasileira está utilizando a seu bel-prazer seus instrumentos de influência cultural para convencer, e está conseguindo fazer isso com a massa de gente, de que as reformas são necessárias, exatamente porque a esquerda também não tem instrumentos de comunicação que atinjam os mais periféricos locais aonde vive a grande massa populacional que somente recebe como informações políticas, as opiniões de beócios como Fausto Silva e Willian Bonner.
O Movimento Sindical e o movimento social nessa conjuntura precisam de fato criar novos instrumentos que não sejam apenas para atingir seu público alvo, que são os trabalhadores em cada categoria isolada, mas construir processos para está no meio do povo como classe em si contra uma pequena minoria conservadora que não quer de modo nenhum, como a história comprova, dividir os privilégios do Estado com o resto da sociedade.
É principalmente o Movimento Sindical que deverá servir de instrumento para que a sociedade civil possa existir e que a massa de cidadãos e cidadãs brasileiras tenha a exata consciência de que deve ser povo no sentido mais político da palavra, porque senão retrocederemos dezenas de anos atrás. E a direita brasileira não está brincando de fazer política, ela está fazendo.
No contexto atual da sociedade brasileira, apenas as organizações sindicais e os movimentos sociais podem parar a tese da criação da pobreza para existir como necessária “coisa em si”, no sentido mais literal da palavra, como defendem aqueles que comungam por causa de seus interesses particulares das idéias do Consenso de Washington. Ou se faz isso ou sucumbiremos a condição de sociedade colonizada cultural, política e economicamente que fomos durante muitas dezenas de anos atrás!