Agora faço caminhada.
Todas as manhãs.
De todo o meu coração, eu odeio caminhadas.
Mas, por mil e um motivos, esse é o único exercício que tenho conseguido fazer ultimamente.
E, por ser a única opção, tenho me dedicado.
Não sem reclamar.
Todo dia, acordo, visto a roupa e vou.
Ainda estou em processo de aprendizagem, mas as coisas que não me são tão caras faço nas primeiras horas do dia.
Eu poderia, como a maioria das pessoas que moram aqui “dar a volta no Guará”, mas a coragem não me deixa andar assim tão longe.
Essa “volta” é um circuito de aproximadamente 8km onde se dá a volta teoricamente no bairro inteiro.
Acontece que eu tenho preguiça, muita preguiça de chegar a um ponto do caminho e estar muito longe de casa e não ter como simplesmente voltar.
É que, quando chega a esse ponto “longe de casa”, existem as seguintes opções: telefonar para alguém ir te resgatar ou continuar a caminhada. Não há como abortar a jornada.
Então, para evitar tal sofrimento, decidi ficar aqui perto.
Faço a caminhada matinal sem perder minha casa de vista.
É que, aqui em frente, tem um circuito de 700m!
O que faço eu?
Fico, feito um peru bêbado, rodando esse percurso!
E, para me ajudar, eu ainda ando com uma fitinha na mão.
Para mim, a primeira volta é difícil, muito difícil.
Começo resmungando, reclamando e, na primeira vez em que passo em frente à minha casa, a vontade que tenho é declarar que já andei tudo que havia proposto para aquela manhã e entrar.
Mas aí lembro que minha fitinha não tem nenhum nó!
Para me obrigar a dar seis voltas, a cada vez em que passo em frente de casa, dou um nó na fitinha.
Quando ela tem seis nós, dou mais uma volta.
A última é a volta bônus. Nela passo pelos homens mais bonitos e cheirosos do Guará, vejo belas paisagens, pássaros incríveis, carros extraordinários.
Vejo mesmo?
Claro que não!
Nela nada acontece de especial, mas falo isso para dar mais uma volta e permanecer empolgada.
Empolgada sim, porque, depois da primeira metade da primeira volta, que é a parte mais chata, eu começo a aumentar o passo e, quando termino o primeiro trecho, onde corro um pedacinho e dou o primeiro nozinho na fita, começo a gostar.
Quando começo a gostar, rapidinho a fita se enche de nós.
Por isso, todas as manhãs, saio mesmo reclamando e dou o primeiro passo, por que o muito chato fica legal ao longo do caminho!