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TAMO JUNTOS Parte I (Ou: O Novo Fico) (Ou ainda: Quem Pode Manda, Quem Tem Juízo Obedece).

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No dia em que o Presidente-Posto assumia o seu posto no lugar da Presidenta-Poste deposta, o Senador Reinan, não segurando sua euforia, sussurra em rede nacional, grudado ao pé-da-orelha do novo “chefe”:

– Tamo juntos!

Algum tempo depois, quando um supremo ministro cometia, num momento de desatino, o nefando crime de lesa majestade ao mandar intimar justo Sua Majestade, o mesmo Reinan, para cascar fora, limpar o rancho ou se picar da Presidência do Senado, ele, indignado exclama, novamente em rede nacional:

 – Isto é um ataque à soberania do Senado! E é por isso, senhor oficial de justiça, que eu ordeno: meia volta!  E leve o meu recado: como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, diga aos meninos do Supremo que eu fico. Não vou obedecer. Nem eu nem os meus meninos!  E quer saber por que?

Porque tamo juntos!

E não deu outra! Após os supremos ministros se recolherem à sua insignificância, juízo recuperado, corrigindo obedientes o dever de casa, se agachando e se desculpando do jeitinho que lhes ensinou debaixo de belos tabefes e puxões de orelhas, Sua Majestade o Reinan, eis que este, sempre em rede nacional, proclama à Nação:

– Recebo essa ordem com humildade, porque decisão do Supremo não se discute, se cumpre! E proclamo mais: o Supremo é sagrado e a Lava–Jato também! E sabem por que?

– Porque tamo juntos!  

Depois disso, por volta do ano 2060 (apesar do Brasil não merecer esperar tanto, não podíamos desejar a morte prematura de ninguém), Sua Majestade, o então auto ungido Imperador Reinan, finalmente chega às portas do seu último e inevitável destino: O inferno.  Logo na entrada, ele se depara com um melancólico poste de luz apagada. Na sua base, uma plaquinha em que estava escrito apenas: A Presidenta. Outros postes se perfilhavam, mas sua identificação fica para depois.

Intrigado, o Reinan adentra o pórtico e, deparando-se com a sinistra legenda antevista pelo poeta Dante, lê meio indiferente e enfastiado, os dizeres do abrasivo anátema: Deixai aqui toda esperança, vós que entrais.

Mas, sem ligar a mínima, impávido e seguro da sua eterna impunidade, avista maravilhado no infernal panteão, o pomposo comitê de recepção que o aguardava: à frente de todos, o senador Lúcifer, ladeado por outros senadores, o ACM, o Jucá, o Collor, o Barbalho, o Maluf (eleito senador em 2018, com apoio unânime do PT) e o Sarney, trajando um fardão engalanado de marimbondos de fogo. Presentes ainda, em posição de honra, dois excelentíssimos bêbados, um de barba branca, portando um relógio de vinte mil dólares, voz mansa e semblante impassível, outro de barba grisalha, portando um dedo a menos e um bilhão a mais, voz rouca e cara de triplesque, tlipesque, treisandá, ou coisa parecida, e eternamente sem saber de nada.

Esta, a linhagem de frente, do alto clero, na pomposa recepção ao Magnifico Reinan, composta pelos mais notáveis moradores da cobertura do imenso edifício Quintos dos Lalaus, localizado no incomensurável Condominium Umbral 13, seção Pátria Amada Vip Reserve.

E aí então, fervendo de emoção, convicto de que estava alcançando o ápice do seu poder e da sua glória, com o coração em efervescência, lágrimas em ebulição e alma em incandescência, encara deslumbrado seus novos companheiros de moradia. E enfim, quando com estes forma um sinistro e trovejante coro, ouve-se, em uníssono, sua proclamação derradeira:

Tamo juntos!

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