Em 2012, eu escrevia, num artigo indignado: Numa época quando se combate tanto a qualidade duvidosa da educação brasileira e quando se comprova isso, com resultados do Ideb e do Enem, com a escola pública cada vez mais abandonada pelo poder público, quando se qualifica pouco e se paga mal os professores, quando constatamos que as mudanças feitas no sistema de ensino fundamental são catastróficas, o MEC – Ministério da Educação, lança o “pacto para alfabetizar aos oito anos”.
Li matéria no Estadão de 24 de setembro(2012), anunciando para o mês de outubro o lançamento do Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa, que estabelece que toda criança deve estar alfabetizada no fim do 3º ano do ensino fundamental, ou seja, aos oito anos. E pior, é o que prevê, também o Plano Nacional de Educação, em tramitação no Congresso.
Idade certa? Oito anos? Ora, isso é mais um retrocesso, dos tantos que já tivemos na educação brasileira. Vimos alertando para o fato de que, com as mudanças feitas no ensino fundamental, nos últimos anos, existem muitas crianças da escola pública que chegam ao terceiro ano, às vezes ao quarto, sem saber ler e escrever como deveriam.
Num passado recente, duas ou três gerações atrás, as crianças chegavam ao fim do primeiro ano do primeiro grau já sabendo ler e escrever. Uma geração antes, ainda, quando jardim de infância e pré eram coisas de crianças de famílias ricas, a gente entrava direto no primeiro ano, aos sete anos, e no final daquele ano saía lendo e escrevendo. Eu sei, porque sou dessa geração.
Mesmo levando em conta que acrescentaram o pré-escola ao primeiro grau, aumentando o ensino fundamental de oito para nove anos, temos que considerar que a idade de alfabetização não mudou, pois as crianças estão começando também um ano mais cedo. Então o segundo ano do primeiro grau corresponde ao primeiro ano antes da mudança, mas continua sendo o ano da alfabetização e continua sendo aos 7 anos de idade.
Então porque agora o governo retardou em um ano esse aprendizado? Para mascarar a má qualidade do ensino público, para continuar desprezando e relegando ao léu a educação brasileira? Legalizaram a falência da educação.
Agora, neste mês de abril de 2017, foi apresentada, pelo Ministério da Educação (MEC), a terceira versão da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) prevendo que, ao fim do 1.º ano do ensino fundamental, ou seja, aos 7 anos, as crianças saibam ler e escrever. O texto, que segue para análise e aprovação do Conselho Estadual de Educação (CNE), define que, ao fim do 1.º ano do fundamental, os alunos devem conseguir escrever “espontaneamente ou por ditado” palavras e frases.
Ora, como disse acima, alfabetização sempre foi aos 7 anos e funcionava, quem mudou isso foi o próprio poder público, que sucateou a educação, nas últimas décadas, e mudou a idade para oito anos, apenas para tentar esconder a má gestão do ensino brasileiro. Tomara que cumpram a palavra e a retomada seja realidade, pois é preciso resgatar a educação brasileira, sem o que não haverá futuro para nossos filhos e netos.
Precisamos que o governo brasileiro, através do Ministério da Educação, cuide com mais atenção da educação brasileira, faça modificações no ensino para melhorá-lo e não para piorá-lo, como bem provou o “pacto” para retardar a alfabetização de nossas crianças e as mudanças recentes no ensino médio, e invista mais, muito mais, para que nossos professores sejam melhor qualificados, nossas escolas melhor equipadas e para que os profissionais da educação sejam dignamente remunerados. Existem Estados brasileiros, vários, ainda hoje, que não cumprem a lei que determina o pagamento do piso mínimo para os professores. Como querer um bom desempenho de quem não é bem pago?