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As voltas que o mundo dá

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Professor.

Não o fora desde sempre.

Antes que ali chegasse fora atendente, entregador, boy e empresário.

O ramo?

Pizza.

Mais especificamente,  tele pizza.

Ele fazia, atendia, entregava, fazia serviço de banco e administrava.

Entre uma coisa e outra, também namorava.

Visitava a namorada no carro estampado:

“Tele Pizza do Magrelo”

Fazia sucesso, engordava a galera.

Um dia, saindo da casa da namorada, distraiu-se e acertou em cheio um carrão que estava parado ao lado.

Que droga!

E agora?

O estrago fora grande.

Saiu de fininho e consultou seus pares:

“Alguém viu?”

– Ninguém.

“Então esquece isso. Ninguém viu, não foi você.”

Ele bem que tentou esquecer.

Mas enquanto atendia, entregava, fazia serviço de banco, administrava e namorava, a única coisa em que pensava era:

“Bati no carro de um cara e não assumi. Sou mesmo um frango magricela.”

O dia de namorar chegou outra vez e quando ele estacionou seu carro estampado e foi andando para a casa da namorada viu o amassado.

É, por que ao encontrar outra vez o carro que batera nem o enxergou, só viu o que fizera.

“Mas que droga! Agora esse carro vai me perseguir?” – disse seguindo seu caminho.

Arrependeu-se:

“Vou resolver esse negócio agora!”

Tinha uma quadra ali perto e ele imaginou que o dono lá estivesse.

Foi andando e sentindo-se meio bobo, ainda ouvindo o conselho que recebera:

“Ninguém viu, então não foi você.”

– Oi, por favor, de quem é aquele carro ali?

– É do Rubão.

Quando ele viu o Rubão quase se arrependeu por ter começado aquela remissão.

Rubão era enorme.

Sem a menor sombra de dúvidas seus dois braços magrelos não dariam um daquele gigante.

Mas agora era tarde, tinha que continuar.

O importante seria a abordagem.

“Oi, Rubão. Dia desses estacionei perto do seu carro e na hora de sair o acertei. Naquele dia não tive como procurar por você, – mentiu- mas como faço para acertar isso?”

O cara passou de espantado a feliz em poucos segundos.

Magrelo e fortão combinaram como fariam para que o carro ficasse com a lataria consertada.

Dinheiro transferido, amassado consertado, ninguém lembrou mais disso.

O tempo que não para foi suficiente para transformar o atendente, entregador, boy, empresário em professor de sucesso.

A magreleza não desaparecera, mas diminuíra consideravelmente e o dono da Tele pizza do Magrelo agora distribuía conhecimento para centenas de alunos a cada semana.

Até que um dia, em um dos corredores:

“Professor, você bateu no meu carro.”

“Eu? Quando fiz isso?”

O aluno apresentou-se, era o Rubão.

Eles relembraram a história, deram boas gargalhadas e o professor seguiu para a próxima aula, satisfeito, por ter sido um atendente, entregador, boy e empresário de conduta escorreita e ilibada.

E, assim, anos depois, poder lembrar e gargalhar em vez de se envergonhar.

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