Seguidamente escutamos pessoas afirmando: “eu não preciso ir a Igreja, o que importa é fazer o bem”. O que você acha dessa afirmação? Superficialmente falando, poderíamos dizer que o que importa na vida é fazer o bem ou ser caridoso e, nisso, já estamos vivendo a vontade de Deus. A carta de Paulo aos Coríntios destaca a caridade como o mais importante e insuperável valor. Quem faz caridade, de certa forma, acolhe o abraço de Deus. Contudo, é preciso destacar que um ateu pode fazer caridade e, muitos, de verdade, a praticam, mas rejeitam expressa e conscientemente a Deus. Se um ateu pode viver a caridade o que importa ter fé?
A fé ou o crer é uma atitude confiante de entrega a Deus, que sabemos que nos ama. Na origem da palavra crer, credere ou cor + dare, é a atitude de quem dá o coração. Na fé existe essa entrega confiante. Essa atitude envolve o todo do ser humano, fazendo-o apostar a vida no invisível, na certeza de que não ficara decepcionado e não será enganado por esta aposta. A fé também é a certeza de que o invisível existe e é mais real que o visível, porque é a força que sustenta o mundo.
Certo é que a fé precisa ser alimentada. Essa é a segunda dimensão da fé. Celebrar é alimentar a fé. Não basta apostar na existência de Deus. Se buscarmos pela força da inteligência compreender esse mistério, mergulhando nele, iremos descobrir riquezas sempre maiores. Os rituais religiosos são uma maneira simples e eficaz de alimentar a fé. Ali nós temos rito, palavra, normas, sinais, assembleia, ministro, realidades que conduzem ao mistério transcendente. Os católicos encontram essa realidade de forma privilegiada e insuperável na celebração eucarística. O próprio Jesus deixou o mandato, “Fazei isto em memória de mim”. Em cada missa celebrada estamos obedecendo ao mandato de Cristo. Contudo, o nosso culto será vazio se não conduz a caridade. A caridade, como diz a Escritura, é o maior dos valores. Para o cristão que tem fé e a celebra, a caridade é a expressão de coroamento da vivência adulta ou madura da fé. Daqui, surge a terceira dimensão da fé que é viver o que se crê.
Viver o que se crê será uma tensão permanente. Crer, celebrar e buscar viver é uma tarefa de decisão e empenho da vontade. Sem esse empenho não haverá fecundidade. Alguns podem ficar com o crer e o celebrar, falhando muito no viver. Outros podem buscar o viver sem o crer e o celebrar, que pode ser o caso de um ateu e de todos aqueles que afirmam que basta fazer o bem. Aqui, porém, poderá se questionar a verdadeira eficácia e fecundidade desta caridade. Poderá se questionar se não existe ali muito de egoísmo e expressão de necessidades humanas, que precisam de purificação. Ainda, poderá se questionar o alcance desse bem e a força de permanência e sustentação, uma vez que não é alimentado pelo celebrar. No viver de quem tem fé e celebra essa purificação deveria acontecer pela aproximação permanente com a palavra, que questiona e orienta as ações procurando libertá-las dos egoísmos e motivações distorcidas. Além da purificação, o celebrar a fé potencializa permanentemente o viver a fé. Assim sendo, crer, celebrar e buscar viver sempre será a forma mais completa de expressar o seguimento do Mestre e a acolhida de Deus, mesmo que, todas essas dimensões possam ser continuamente aprofundadas e melhoradas em todos nós.
Padre Ezequiel Dal Pozzo
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