Já encontrou alguém desesperado para falar?
O quê?
Qualquer coisa, o que não importa, a pessoa simplesmente quer falar.
E, caso uma pessoa desesperada por falar, sem critério, encontre alguém com vontade de contar uma história com começo meio e fim, aí pronto, houve o encontro da fome com a falta de vontade de comer!
Desespero completo!
Para que a descrição do encontro se faça de maneira ordenada, nomear nossos
personagens: quem quer falar desesperadamente, sem critério ou assunto definido vamos chamar de Fafá.
Aquele que tem uma história com início meio e fim para contar vamos chamar de Lalá.
Fafá e Lalá encontram-se pelo mais puro acaso e começam a conversar.
A primeira gosta muito de falar. O assunto?
Não importa o assunto. Ela quer falar. Bem, mal, de preferência muito, esse é o único critério.
A segunda quer simplesmente contar uma história. Começo, meio, fim.
Pronto.
Ponto.
Quando Fafá e Lalá se encontram o caos está formado.
Fafá começa a falar desesperadamente sobre a chuva que já foi embora, que não compareceu em forma de águas de março para fechar o verão.
Lalá presta atenção atentamente, mas, na verdade, está apenas esperando que a amiga faça uma pausa para respirar. Assim que ela fizer, começará a contar que conheceu um cara incrível.
Fafá respira.
Lala começa.
Como Fafá não estava mesmo apegada ao assunto “chuvas” começa a prestar atenção à história do novo paquera, esperando o momento em que La vai respirar.
A amiga fala sem parar até o último fôlego terminar. Quando ele enfim termina e ela tem que repor o ar que já falta, a outra que não está se aguentando retoma o falatório, mas dessa vez querendo concluir logo a história de Lala, que parara para respirar bem aqui:
– Então amiga, ele ficou encantado e disse que…
“Ele disse que quer sair com você?”
Lalá, admirada com a intromissão repentina, olha para a outra assustada:
– Não, menina. Ele, todo encantado disse que…
“Você é a mulher da vida dele?”
A moça que queria apenas contar a história, que terminaria rapidinho caso não fosse tão repetidamente interrompida, começa a se irritar:
– Não, criatura. Ele não disse isso. O cara ficou encantado e disse que…
“Você tem a cintura mais fina que ele já viu? Porque, amiga, sua cintura está muito fina. Depois dessa ultima dieta, algo mágico aconteceu e você está incrível e…”
Foi nessa hora que Fafá disparou a falar sobre o moço que sua amiga conheceu como se ela também o tivesse conhecido e soubesse de todas as intenções do seu coração.
A outra, pobrezinha, apesar de esperar pacientemente por mais de meia hora a amiga tagarela desfiar um rosário de suposições sobre o encanto do rapaz, a viu se despedir e partir, indo atrás de um novo ouvinte que passava.
A que tinha apenas uma história com início meio e fim ficou com sua história bem antes da metade para ser contata e a outra, tagarela inveterada, foi embora cheia de suposições sobre o fim e nenhuma ideia do que na verdade encantara o moço.
Eu não sei você, mas eu, quando começo contar uma história e não consigo terminar ou quando não fico sabendo como se encerra um caso que alguém começou a me contar, saio do ambiente meio que manca, parecendo que falta um pedaço de mim.
Pra mim, Fá e Lá saíram mancando pela estrada a fora, uma por não poder falar e a outra por não saber ouvir.
Vivi Antunes é ajuntadora de letrinhas e assim o faz ás segundas, quartas e sextas no