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Estávamos, eu e o Namorado, em uma das asas do avião, a norte.
Enquanto a palestra não começava, observávamos…
Eu já falei aqui que amo observar as pessoas. Caso não esteja sendo vista, gosto mais ainda.
Ficar reparando nas ações e reações que elas têm, como agem quando pensam que ninguém as vê.
Algumas vezes, nessa “observância” sem fim, levo cada susto que nem te conto.
No auditório em questão, à nossa frente, sentou-se um casal.
Bonitos, bem arrumados, chegaram de mãos dadas e se acomodaram.
Ele sério.
Ela com mais dentes à mostra que qualquer outra coisa.
Enquanto nada acontecia lá na frente, ele analisava atentamente os papéis que recebera á
entrada.
Já a moça, sentou, deu uma olhada à sua volta, foleou rapidamente os papéis que também
recebera e passou o braço no braço do rapaz.
Não dá pra falar que são todas, mas algumas mulheres são chameguentas de nascença.
Gostam de ficar pegando, beijando, abraçando, alisando o cidadão que ao seu lado se
encontra.
Ficam a ponto de morrer se estiverem perto do eleito sem demonstrações explícitas de
carinho.
Essa moça em questão era chameguenta ao extremo.
Passou o braço no braço do moço, beijou, cheirou.
Ele como poste estava, como poste continuou.
E a pobre continuou dengando, alisando, chamegando o moço de tudo que era jeito.
A palestra começou e nós mudamos o foco, afinal , não tínhamos ido ali para assistir a uma
mulher alisar um poste.
Só que eu, de vez em quando, dava uma olhada para conferir se houvera alguma reação.
Nada.
A pobre chamegosa continuava parecendo um gato em busca de atenção.
A palestra se desenrolava muito melhor que o esperado e eu, temporariamente, me esqueci do espetáculo paralelo.
Até que lá pelas tantas escutei:
– Eu também quero um pouco de carinho. Poxa vida!
– Aqui não é hora nem lugar para troca de carinhos.
– Eu fico aqui feito uma trouxa te carinhando e você nem olha pro meu lado.
– Meu amor, por favor, fale baixo, as pessoas estão olhando.
Nessa hora eu quis entrar embaixo da cadeira da frente. Enquanto ele falava “as pessoas estão
olhando” , nossos olhos se encontraram e eu quis sumir.
– E eu por acaso estou ligando pra isso? Pode olhar quem quiser.
E ela me olhou.
Misericórdia!
Eles continuaram brigando.
Eu, que já tinha sido flagrada duas vezes, parei de olhar e fiquei com a orelha em pé.
Silêncio.
Passado um tempo, ele deu um beijinho na moça que sorriu satisfeita e começou, em seguida, uma nova sessão de dengo explícito.
Em um dado momento eu virei enquanto passava a mão no cabelo.
Bem nessa hora ela me olhou e mostrou, sem o menor constrangimento, um palmo inteiro de
língua.
E eu, absurdamente sem graça, passei um bom tempo sem curiar a vida alheia.