A primeira vez em que Ela viu todo mundo junto, ficou completamente encantada.
As pessoas sendo vistas sem verem quem as via!
Que coisa espetacular!
Para Ela, que sempre vivera com amigos imaginários, foi um prato cheio, a imaginação foi a mil.
A galera reunida durante todo o tempo e Ela de longe, vivendo tudo, observando cada detalhe.
O tempo passou e, pouco a pouco, a turma foi se desfazendo.
Quando cada um foi para um lado, a habitação coletiva da sua imaginação também foi ficando
vazia.
E, por fim, foram todos embora.
O lugar onde se reuniam deserto ficou e sua cabecinha mirabolante foi cuidar de outras coisas.
Esse encontro, a cada temporada, com um povo diferente, foi-se repetindo em ciclos de 365 dias.
E Ela, que gostou tanto, tanto, tanto do primeiro, gostou tanto, tanto do segundo, gostou tanto
do terceiro, gostou do quarto e do quinto, bem do quinto Ela ficou sabendo de uma coisa ou
outra.
Um belo dia, Ela soube que o encontro daquele ano começaria.
Por puro acaso põe-se em frente à vitrine e esperou que começasse.
Quando o espetáculo começou, lembrou-se de o quanto já havia gostado e se empolgado com
tudo aquilo que à sua frente começava a se desenrolar.
Pensou que todas as coisas já ali vividas iriam se repetir. Assistiu e esperou.
Assistiu mais um pouco e nada de super interessante aconteceu.
Assistiu e mais um pouco e mudou de canal.
Como assistira àquilo durante tanto tempo?
Caso resolvesse ajuntar o tempo ali empregado, resultaria em semanas, meses até.
O que vira de tão interessante em pessoas desconhecidas morando juntas, paquerando,
comendo, dormindo, se pegando, malhando?
Elas faziam tudo que Ela, eu e você fazemos. A única diferença é que dormiam e acordavam
sendo vistas.
Bem que queria continuar vendo, mas não mais conseguia.
O que mudara?
Nada!
Apenas Ela, somente Ela mudara!
E isso muda tudo.
Muda tanto que faz até com que nesse instante o controle da TV faça com que a tela fique
preta.
Depois disso foi cuidar da própria vida.
Afinal, muito mais interessante é viver a própria vida que sonhar a vida alheia!