“Menina, o que você vai ser quando crescer?”
– Eu quero ter uma bicicleta!
Como assim?
“Não, Menina. Não estou perguntando o que você quer ter quando crescer, estou perguntando o que você vai ser quando crescer.”
A menina fez cara de indignada e respondeu:
– Eu quero ter uma bicicleta!
Não adiantava. Por mais que perguntassem à Menina o que ela queria ser quando crescesse, ela sempre vinha com a mesma resposta:
“Eu quero ter uma bicicleta!”
Não adiantava contar a ela que ter era diferente de ser, nada adiantava. Ela continuava dizendo sempre a mesma coisa.
O tempo passou, a Menina crescer e tornou-se uma…
Uma nada, isso não tem a menor importância para nossa história.
O que vale aqui dizer é que ela comprou uma bicicleta.
Uma não!
Várias bicicletas!
Para cada canto que, ia usava uma bicicleta diferente.
Eram corridas, trilhas, passeios ciclísticos na cidade, ir e vir do trabalho e encontro com os amigos.
Até que um dia, caiu do sonho.
Quebrou um monte de lugares, desses que se quebram na gente.
Ela ficou, coitadinha, muitos, muitos dias quietinha para se emendar.
Tomando remédio, sentindo dor, com gesso para tudo que era lado.
Depois, o gesso foi tirado e dá-lhe fisioterapia.
E cada dia que chegava ou saia de casa, passava por suas bicicletas paradas e tristinhas e dizia para elas:
– Não fiquem tristes, magrelinhas, estou sarando, daqui a pouco levo vocês para passear.
E assim foi.
O tempo passou e ela se emendou.
Um dia foi ao médio e ouviu a mais doce das notícias:
“Menina, você já está inteirinha, pode voltar a pedalar!”
Ela voltou para casa o mais rápido que pôde, precisava se reencontrar com suas companheiras.
Quando a viram se ajeitando sobre a bicicleta estranharam:
“Mas você ainda nem se emendou direito e já vai sair pedalando?”
Ela sorriu:
– Ter uma bicicleta e sair pedalando sempre foi o meu sonho. Cair, quebrar e emendar eu nunca tinha sonhado, mas enquanto estava de molho, sem poder pedalar, aprendi que isso vem no pacote. Aliás, as perebas vêm no pacote de todo o qualquer sonho e não é por isso que os abandonamos, não é mesmo?
Sorridente, a Menina iniciou assim sua nova fase de ciclista, com os cabelos ao vento e o sol acarinhando seu rosto.