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Apostilas Didáticas “Oficiais”

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Portugal está em polvorosa, porque o governo dará os livros didáticos – as apostilas – apenas para o primeiro ano do ensino fundamental, no ano letivo que acabou de iniciar. Prometeu que daria para todo o primeiro grau, mas ficou apenas no primeiro ano. E a sociedade se levantou e está protestando.

No Brasil, imprime-se apostilas didáticas aos montes, às montanhas, eu diria – e não só para o primeiro ano do primeiro grau. Só que nem todas as apostilas impressas vai parar nas mãos dos estudantes das escolas públicas. Por que eu desconfio disso? Porque tenho visto, por anos a fio, um projeto de leitura aqui de Florianópolis ser abastecido, todas as semanas, com centenas de apostilas didáticas. E não são apostilas usadas, não. Até podemos encontrar, nas estantes do projeto, algumas apostilas usadas, de vez em quando. Mas a maioria dos impressos – e as estantes são abastecidas, primordiamente, com apostilas, lá muito de vez em quando aparecem alguns livros literários – são didáticos novos, zerinho, que nunca foram abertos, nunca foram usados.

A constatação é inevitável: muita apostila, mas muita mesmo, foi impressa sem ser preciso, pois não foi colocada nas mãos dos alunos da escola pública. E essa impressão excessiva foi paga por alguém, é claro, que ninguém faz nada de graça: foi paga com dinheiro público. Por que será que não foram parar nas mãos dos estudantes que precisavam delas? Tudo é possível neste nosso Brasil tão rico de cultura e educação.

Qual a quantidade de apostilas didáticas, para as diversas matérias, que deveria ser impressa para suprir a rede pública? E qual é quantidade que realmente é impressa? Quanto dinheiro público se gasta com essa impressão? Há algum controle desse gasto, para que se imprima só o que realmente vai ser usado? Há um controle efetivo da distribuição dessas apostilas para TODAS as escolas públicas, em tempo hábil, para que todos a recebam a tempo de usá-las?

Pois é. A prova está lá, todos os dias, nas várias estantes do projeto que promete disponibilizar  livros para os cidadãos, para incentivar a leitura, mas que se enchem de apostilas didáticas pelo menos uma vez por semana. Deve haver muito porão por aí abarrotado de impressos didáticos ocupando espaços públicos, porque foram impressos sem ser preciso, pagos com o rico dinheiro público, composto dos impostos escorchantes que pagamos. E  o irônico é que os livros não são levados para estudar, na grande maioria das vezes. As pessoas não levam uma ou duas apostilas. Algumas levam às pilhas, exemplares diversos da mesma apostila, o que evidencia que aquilo não vai ser lido, mas vai ser usado como papel velho, simplesmente.

Tenho fotografado, cada vez que passo por lá, as dezenas, centenas de apostilas didáticas colocadas nas estantes. Ah, elas “sobraram” e estamos colocando à disposição do público, diriam. Para ser vendidas como papel para reciclagem, embrulhar coisas, etc.? É para isso que servo o nosso rico dinheirinho, que é arrancado de nós na forma de impostos?

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