A coragem vem com o tempo.
Surge com a necessidade.
Você mora com seus pais e tem medo de barata.
A barata surge você grita.
Vem o pai, o irmão, a mãe.
A barata desaparece.
Você mora sozinha e tem medo de barata.
A barata surge você vai pra cima como um gladiador profissional.
Acho que gladiador tem o coração muito mais calmo com o seu.
Mesmo assim, com o pobre querendo sair pela boca, você corre atrás, mata, esmaga, sapateia em cima da coitada.
Já mais calma, mas desesperadamente enojada, recolhe os restos mortais, lava e desinfeta as mãos.
Quando o coração volta a trabalhar com tranquilidade, sente-se a mais poderosa de todas as mulheres.
No quesito barata você já tem coragem.
Coragem cagona, cheia de vontade de fugir, mas tem.
E assim, a cada pouco um desafio, uma tempestade e um coração desembestado, pernas moles e sangue no olho.
Quando aparece o quesito “sangue no olho” os homens se diferenciam dos meninos.
Ou melhor: as mulheres se diferenciam das meninas.
Nessa hora, vai pra cima, encara com a faca nos dentes.
E aí, a cada barata esmagada, a cada chefia assumida, a cada salto, mergulho ou montanha, você vai tornando-se mais corajosa um pouquinho.
E quando vê: é uma pessoa corajosa, que já faz tudo aquilo que fazia tendo que segurar o coração com tranquilidade e classe.
Tanto que nem lembra que tudo começou por você não querer dividir o apartamento com a Dona Baratinha.