Não quero pintar
o gato no muro.
Quero tirar o muro
do caminho do gato.
Não quero apagar
nenhuma luz,
desfazer riscos de giz,
alisar superfícies,
aparar arestas…
não, aqui nesta festa
não sou mais que
penetra.Aqui nesta sala,
nesta rua , neste mundo
passageiros clandestinos –
vago rumo, qualquer destino –
talvez sejamos nós.
Então, não vou pintar telas,
colecionar dissabores,
amores e casos;
varar oceanos, pensares
pesares, auroras e corações,
não. Não quero desligar
meu coração nem fingir
indiferença todo dia.
Nada quero degelar,
consolidar ou destruir.
Só quero tirar o muro
do caminho do gato
para evitar o salto,
mais um salto.