Engraçado quando duas pessoas desenvoltas se encontram.
Rapidamente se identificam.
Algumas vezes, se aproximam.
Foi assim que aconteceu naquele dia.
Ela estava sentada à janela rindo do que via no celular.
Quando Ele parou na roleta, logo procurou onde poderia sentar-se.
Encontrou um banco vago ao lado do seu sorriso.
Pagou e foi andando pelo corredor como se guiado por algum magnetismo.
Foi aí que se deu conta de que havia uma moça caminhando à sua frente, que não se fez de
rogada em sentar-se ao lado da moça sorridente.
Ele se ajeitou em pé perto das duas e ficou paquerando a sorridente.
Quando um novo grupo é formado no WhatsApp, a gente sempre fica querendo descobrir o
motivo de sua existência.
E não demora muito para que isso aconteça.
Naquele dia criaram um grupo para combinar um acampamento, como nos velhos tempos.
E já que estavam todos reunidos em uma sala só, resolveram recordar o que um dia foram.
Por isso, Ela ria do que via na pequena tela.
Chegavam fotos e mais fotos do que um dia ela e suas amigas tinham sido.
E a cada fotografia que chegava, a moça começava a falar, como se estivesse na presença dos
amigos:
“Como éramos estranhos! Gente do céu. Repare nessas jubas.”
Ele, ali em pé, já esquecera há muito que deveria ser discreto.
Conseguia ver que ela recebia fotografias.
A cada fotografia, o sorriso e a fala sozinha.
Ele sorria para Ela, mesmo sem ser notado.
Lá pelas tantas, quando já estava quase entendo o motivo de tantos sorrisos, a moça que
sentara no lugar que deveria ter sido dele levantou.
O moço sentou-se ao lado da sorridente e passou a sorrir para Ela a um palmo de distancia.
E Ela, que de boba não tinha muita coisa, já tinha percebido o moço e resolveu interagir.
Quando Ele se sentou, Ela riu de mais uma fotografia e olhando para o lado disse:
“Menino do céu, repare esse povo.”
Ele ficou satisfeito por ter sido notada em sua investida silenciosa.
Olhou a fotografia como quem observa uma obra de arte.
Ela, empolgada que estava, mais conversava sozinha que com Ele. Mesmo assim, de quando em vez, falava diretamente ao moço.
Até que, lá pelas tantas, mostrando uma em que mostrava seu sorriso, falou:
“Misericórdia! Éramos realmente muito feios.”
Ele, sem nem pensar:
-Você? Feia? Não tem como isso ter acontecido um só dia!
Ela sorriu, mas sem levantar os olhos.
Tímida.
Continuou sorrindo como se não tivesse ouvido, entendido.
“Realmente, não há como negar, o tempo é um santo remédio.”
Ele, mais uma vez, fez cara de quem não concordava:
– Não sei quanto às outras, mas você nunca precisou de santo remédio. Tenho certeza.
Dessa vez, em vez de sorrir para o celular, a moça sorriu para o Ele, deixando que o moço
visse além do sorriso, seus belos olhos.
Do moço não sei te contar mais nada.
Mas Ela desceu do ônibus dando risada, afinal, caso faltasse papo no encontro, teria a história
do moço de olhos azuis pra contar.