Charmoso mesmo é o leite.
Quando medido para fazer parte da massa, chega ao copo como dono do mundo, daquele mundo.
Depois, quando transferido para a leiteira, sente-se em casa.
Afinal, a panelinha esmaltada tem o nome derivado do seu.
É seu lar.
Acomoda-se como rei.
O sal, ao chegar, some instantaneamente em sua brancura para nunca mais deixar de ser um com ele, que vê com indiferença absurda a chegada do óleo.
Trata-o como se nada fosse, mesmo tendo o intruso sobre sua cabeça.
Indiferente.
O fogo é aceso e a magia começa.
Caso tenha paciência para esperar ou medo, fique esperando para ver o que acontece.
Caso seja corajoso para abandonar, pode ir fazer qualquer outra coisa.
Todos eles: leite, óleo e sal parecem estar completamente confortáveis juntos.
Até que o leite, que é, afinal, o dono do pedaço, começa a mostrar algum incomodo.
De maneira despretensiosa apresenta pequenas erupções aqui e ali.
Discretas, parecem ser passageiras.
Cada bolinha parece ser um pequeno grito do leite para o óleo:
“Saia agora de cima da minha cabeça!”
Os gritos, até então discretos, vão se avolumando até que, de um instante para o outro, as pequenas erupções se tornam um grande berro.
Um grito formado de leite, óleo e sal, agora, em um só corpo, sobe linda e rapidamente, de maneira determinada e…
Caso você tenha sido paciente para observar, nesse instante, seu fogão é salvo do banho de óleo e leite salgado.
Caso você tenha sido corajoso para abandonar, corre logo, nesse instante você tem um fogão de banho tomado para limpar!