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Nunca fui acostumada a atender ligações de números desconhecidos.

Sempre penso que pode ser um presidiário dizendo que sequestrou algum parente.

Ou ainda, na melhor de todas as hipóteses, um vendedor insistente de curso de inglês.

Por isso, para evitar o susto do “sequestro” ou ainda a insistência do curso de inglês, simplesmente não atendo.

Então, partindo desse princípio, também não respondo mensagens que vez ou outra chegam ao meu celular das sequências que desconheço.

Conheci o Alex no Ensino Médio.

Namoramos oito anos.

No dia 05 de janeiro, quando fizemos 09 anos de casados, ele fez a seguinte descoberta:

“Quero viver a minha vida do jeito que eu bem entender. Cansei de ter responsabilidade com mulher e filho. Vou embora.”

Eu tomei o maior susto da minha vida.

Quando ele terminou de falar, parecia que eu estava sonhando. Minhas pernas ficaram moles, meu corpo todo tremia e pensei que fosse desmaiar. Não queria acreditar no que acabara de ouvir.

Tentei argumentar, perguntei como eu e as crianças viveríamos sem ele, mas o moço estava resolvido.

Ele me deu a notícia e saiu.

A única coisa que eu pensava era o que poderia fazer para que ele mudasse de ideia, para que ainda me quisesse.

Chorei por horas, pensando que minha vida acabara.

Dormi.

Acordei no meio da noite assustada.

As luzes estavam todas acesas e eu sozinha na cama.

Naquela hora, me dei conta de que aquela seria minha nova realidade.

Será que ele iria embora, de verdade, no outro dia?

Será que levaria suas coisas na próxima vez em que viesse em casa?

Ali deitada, com a cara inchada e a cabeça lotada de “serás”, eu pensei:

“Alguma coisa nessa situação eu ainda posso resolver. Resolvo então que não vou ficar esperando.”

Levantei num pulo e comecei a ajuntar todas as coisas dele.

Arrumei tudo.

Enquanto chorava, gritava, xingava ia colocando cada um dos casacos, cuecas, meias, livros, filmes e sapatos em sacos plásticos, malas e caixas.

Quando o sol chegou encontrou tudo que era do moço lá fora do portão e todos os cadeados trocados.

Grudado na maior das caixas um bilhete:

“Já que você decidiu partir, eu resolvi te ajudar.”

Não vou te contar o escândalo que ele fez quando encontrou um morador de rua sentado ao lado das caixas vestindo o blazer que ele ainda estava pagando.

Nem preciso detalhar o quanto ele tem uma garganta saudável e potente. Eu nem sabia que era tudo isso. Mas acho que ela foi “ligada” quando as chaves que ele tem não entraram nos cadeados novos.

Pois bem, ele me contou sua decisão e eu, em vez de contar, mostrei a minha.

Já se passaram oito meses.

Alex me deu um pouco de trabalho, mas nunca mais entrou aqui em casa.

Ele deu também algumas alegrias.

Há exatos três meses eu recebi uma mensagem de um número desconhecido.

Achei muito estranho, por que ela dizia apenas assim:

“O que está acontecendo?”

Como não sabia de quem era e estava bastante ocupada não respondi e me esqueci rapidamente.

No dia seguinte outra mensagem:

“Pergunto o que está acontecendo por que encontrei o seu número de telefone na porta de cinco banheiros de beira da estrada. Isso no caminho de São Paulo a Salvador. Acho que alguém está chateado com você.”

Foi o Alex!

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