Existe uma queixa recorrente por parte da população de que os textos são repetitivos em demasia. A resposta é que, se estes se repetem, é porque os problemas continuam insolúveis. Por isso, volto à discussão sobre o mau hábito de os brasileiros jogarem objetos nas ruas sem nenhum constrangimento.
Iniciamos essa campanha de combate à sujeira das cidades em 1987. Dentre várias ações pessoais, destaco o livro Cultura da Sujeira, que escrevi em 1996 e o encaminhamento de um texto padronizado a todas as prefeituras do país, entre 1995 e 1998. A quem se interessar, posso encaminhar uma tabela com 20 ações individuais.
Não é um problema de fácil solução, em virtude da sua amplitude e variedade de aspectos.
Assim, foi que, a partir de 2015, o foco do combate passou a ser o hábito de se jogar as bitucas nas ruas e estradas.
Esse comportamento é generalizado entre gênero, idade, classe social e escolaridade. Não existe diferença entre fumantes analfabetos ou magistrados; ambos atiram as pontas de cigarro nas vias públicas, com a mesma naturalidade.
Aqueles mais cônscios de sua cidadania utilizam como cinzeiros os canteiros de obras, os jardins e as valas, de preferência. Jogam em qualquer lugar onde fiquem camufladas.
Costuma-se responsabilizar as autoridades pela falta de recipientes adequados. Depois, reforçar que as vias públicas pertencem à coletividade e não são bens particulares de ninguém. Um bom começo para solucionar essa questão é difundir a ideia de que a responsabilidade pela bituca é exclusiva do fumante. Em seguida, colocar várias ações em prática.
Nessa linha, todos os estabelecimentos comerciais deveriam colocar as chamadas bituqueiras na parte externa das entradas. Os feirantes, donos de barracas poderiam colocar cinzeiros, mesmo que improvisados com pequenos potes de vidro ou latas.
As grandes empresas poderiam ir mais longe e fornecer cinzeiros de bolso ou portáteis aos funcionários, podendo ser um simples tubo de ensaio. Essa iniciativa seria significativa se fosse seguida por todas as agências do Bradesco, do Itaú, da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil, Correios, entre outros.
Já as faculdades e escolas em geral, verdadeiros redutos de pontas de cigarro, deveriam dar uma educação suficientemente capaz de evitar que seus doutores saíssem jogando bitucas nas vias públicas. Todos deveriam disponibilizar recipientes para reciclagem e colaborar com a entrega das bitucas em endereços disponíveis na internet.
Nessa luta, chego às raias da grosseria e espalho mensagens agressivas, como “fumante: rua não é cinzeiro” ou “bituca: jogar no chão é falta de educação”.
Tenho até uma sugestão para quem se interessar em produzir um vídeo: um casal vai pela estrada em período de muita seca. O homem machão vai dirigindo e fumando. Ele joga a bituca fora pela janela e o fogo se alastra de imediato. No mato, algo se mexe e a mulher reforça o mal que ele pode ter causado a algum animal ou até pessoa. Ele desdenha, faz chacota. Quando chegam em casa, ligam a TV e a abertura do maior jornal do Brasil refere-se a uma pessoa que morreu num incêndio causado por uma bituca de cigarro. A imagem do falecido vem devagar, crescendo… Quando a imagem fica nítida, eles percebem que se tratava do próprio filho. Acordar suado desse sonho fica a critério de quem produzir o referido vídeo.
Insistindo nessa questão, a meta a ser alcançada seria que nenhum fumante jogasse uma bituca em nenhuma cidade ou estrada do país inteiro até 2025. E para aqueles que acham essa tarefa impossível, apoio-me no pensamento do francês Jean Cocteau: “não sabendo que era impossível, foi lá e fez”.