O dia lindo de sol e a moça, mesmo com computador aberto à sua frente, cheia de trabalho para fazer, olhava perdidamente pela janela, como se procurasse alguma coisa.
“O que você tem Karina?”
“Eu? Não tenho nada – disse sorrindo – está tudo certinho por aqui. Tudo muito bem.”
Angélica, que conhecia a moça, concordou e fez de conta que tinha acreditado em tudo.
Foi cuidar da vida.
Mais tarde encontraram-se onde todas as coisas acontecem em uma empresa: na copa.
“Você não vai mesmo me contar o que está te incomodando, Karina?”
A moça olhou em volta procurando se havia mais alguém por ali. O office-boy esquentava distraído seu sanduiche do outro lado.
Quando o viu, Karina sorriu:
“Já disse que está tudo bem Angélica, tudo absolutamente normal.”
Angélica se aproximou como quem não quer nada e disse baixinho:
“Tudo bem que você não querer contar o que se passa. Mas quando quiser conversar, sabe onde me estou.”
A moça que se dizia sem problemas olhou para a amiga com os olhos cheios de lágrimas e agradeceu.
Algumas pessoas simplesmente são assim: quem passa por elas, não precisa nem ser perto, sabem o que estão sentindo, querendo, sonhando, fazendo.
E isso é tão difícil que arde.
Como esconder? Fingir, omitir?
Impossível!
Conversando pela Internet com um moço em meia hora de papo ele falou um monte de coisas sobre as quais não tinha intenção de revelar. Detalhes que queria por tudo esconder. Isso porque estavam a quilômetros de distância.
Faz ideia do estrago quando é olho no olho?
Ser transparente custa caro.
Dá trabalho.
“Angélica, vamos almoçar juntas? Você sabe mesmo que não estou bem, então me deixa desabafar?”
A moça sensitiva sorriu:
“Claro, minha amiga transparente. A gente almoça e você me conta só o que quiser.”
Na hora marcada as duas fizeram de conta que almoçaram, quando na verdade conversaram como se no próximo instante fossem desaparecer uma da outra.
Kátia falou tudo que precisava. Ângela, por sua vez ouviu e teve mais uma vez certeza de que até o mais transparente dos vidros, vez ou outra precisa de cuidados para proteger o que há lá dentro.