BRASILIA – Ela chegou com um sorriso aberto no rosto jovem e bonito, elegante, simpática, turbante na cabeça, colares, braceletes, joias esfuziantes nos dedos e um olhar distante, misterioso. Era dona Flávia, a mulher do presidente da Associação Brasileira de Produtores de Maçã, Mário José Batista, gauchão vermelho, com cara de terra e sol.
Lembro-me bem, era 8 de março de 1985, meu aniversário. As testemunhas continuam ai: Carlos Monforte da TV Globo, Silvestre Gorgulho do Jornal de Brasília, Milano Lopes do Estado de S. Paulo, eu e outros jornalistas, na Festa da Maçã, que todo ano se realiza lá no Sul.
Jantávamos no belo Hotel Laje de Pedra, em Gramado. Faltava uma semana para a posse de Tancredo na Presidência. Surgiu o nome dele. Dona Flávia falava sobre a magia da Bahia e outras sabedorias.Ficou tensa:
– Os senhores são amigos do doutor Tancredo?
– Somos, sim.
O marido, ao lado, não gostou:
– Flávia, estamos aqui na nossa festa e comemorando o aniversário do Nery, não vamos falar de coisas tristes.
Silvestre insistiu:
– Que coisas tristes?
Dona Flávia ficou corada, olhou serenamente para o marido:
– Desculpem os senhores que são amigos dele, mas devo dar uma notícia ruim, que peço que fique aqui. Infelizmente nosso querido doutor Tancredo não vai ser Presidente, não vai assumir no dia 15. Ele vai morrer.
– Vai morrer de quê? De doença ou de um golpe militar? -perguntei.
– Não sei o que será. Mas posse ele não tomará. Tenho rezado muito para ele e para o doutor Sarney, que vai assumir. Estou vendo e conferindo toda manhã. Está nos globos, mapas, cristais, cartas, búzios, no escritório, onde os senhores estão convidados para almoçar conosco amanhã. Não sou uma profissional. Não trabalho por dinheiro. É apenas um dom, uma curiosidade intelectual, recebo amigos para sessões.
Ficamos lívidos. No dia seguinte, antes do almoço, ela nos mostrou, no vasto escritório ao lado do casarão, seus mapas, globos, cristais, baralhos e búzios. Balançando os coloridos balangandãs, apontava:
– Vejam. Está aqui. Ele não vai assumir. Não vai ser Presidente.
Um leão enorme rugia e dava saltos numa jaula de ferro, aberta em cima, no meio do gramado do jardim. Fizemos um acordo. Ninguém publicaria. Alguns ficaram indignados:
– Essa mulher é uma maluca.
Não era. Uma semana depois, todos já aqui em Brasília, Tancredo se internou e não voltou nunca mais.
Agora, Brasília está vivendo dias alucinantes de estranha magia. Ninguém dá mais um tostão pelo mandato da presidente Dilma. Todo mundo já sabe que no dia 11 de maio o Senado vai aprovar a primeira fase do impeachment por uma diferença enorme de votos. O pais não aguenta mais o abismo em que o desastrado governo dela o lançou. Vai para casa.
Mas a lei lhe dá 180 dias de vadiagem no Palácio da Alvorada, proibida de assinar qualquer ato ou dar palpite no governo. Mas como mantê-la seis meses sem nada fazer? Tenho uma sugestão: ela instala uma banca de magia no Alvorada e despacha com seus fantasmas: Lula, PT.
DILMA
1.- “Não posso me preocupar com pequenas ilegalidades”. Teria sido a resposta de Dilma, então ministra das Minas e Energia, quando um empresário a alertou sobre os escândalos que ocorriam na Petrobrás. O bem informado jornalista Elio Gaspari, na “Folha de São Paulo” (18/04/2016) transcreveu o diálogo. À época, ela presidia o Conselho de Administração da estatal. Ao não se preocupar com “pequenas ilegalidades”, deixou o terreno fertilizado para as “grandes ilegalidades”. Seria o eixo garantidor da ação livre, leve e solta dos corruptores e corruptos na empresa. E veio logo a desastrada compra da Refinaria de Pasadena.
2.- Fato pouco destacado: nos dois governos de Lula, Dilma ao deixar o Ministério das Minas e Energia, assumindo a Casa Civil em 2005, manteve, de maneira inédita, a presidência do Conselho de Administração da Petrobrás. Eleita Presidente, ela designou o ministro Guido Mantega para a presidência do Conselho. Controlava assim a Petrobrás.
PETROBRÁS
3.- Em quatro anos, somente com o subsídio à gasolina, ao diesel e outros derivados, acumulou um prejuízo (atualizado) de R$ 100 bilhões. Importava o barril de petróleo na média de 100 dólares e o revendia na variável de 70/75 dólares, para mascarar os índices inflacionários.
4.- Há décadas, paralelamente à exploração do “pós-sal” na Bacia de Campos, o seu corpo técnico desenvolvia estudos e pesquisas para uma nova fronteira geológica: o “pré-sal”, que foi mentirosamente anunciada como o milagroso descobrimento realizado pelo governo Lula. A sua carnavalização, aliada ao oportunismo político e eleitoral, em falácia do mais baixo nível, atropelou a racionalidade do verdadeiro debate público que envolveria as potencialidades do “pré-sal”. Em seu lugar, a demagogia populista atropelou a realidade com o “pré-sal político”, ignorando que, nas décadas de 80 e 90 foram perfurados mais de 150 poços no “pré-sal”.